HUMBERTO RODRIGUES NETO (4º Poeta Convidado)





HUMBERTO RODRIGUES NETO (HUMBERTO-POETA)
(11-11-1935, Lapa, São Paulo/SP - 04-06-2017, São Paulo/SP)

A admiração, o aplauso e a saudade eterna do


(Blogue Expressão Mulher-EM)
Rio de Janeiro/RJ, 04 de junho de 2017.


Quando me foi apresentado o “Expressão Mulher”, tive a oportunidade de registrar mais demoradamente, no livro de visitas, a forte impressão que me causara tão simpático e expressivo blog, magistralmente preparado por Ilka Vieira e Regina Coeli, como uma tribuna livre de valorização da mulher intelectual em todos os ramos da atividade humana. E esse evento foi oportuníssimo, mormente numa época em que uma série apreciável de mulheres ainda sofre toda sorte de humilhações e menosprezo por parte daqueles que, na contramão do progresso,ainda persistem em subestimar as suas inegáveis qualidades intelectuais. Parabéns, sim, parabéns à Ilka e à Regina por este memorável e oportuníssimo evento.


Mulher
Humberto Rodrigues Neto


Eu creio, isento de engano,
me orgulho, vibro, me ufano
e aposto com quem quiser
que toda data é importante,
mas delas a mais galante
a mais linda e mais marcante
é mesmo o “Dia da Mulher”!

Mãe, irmã, esposa e amante,
quem não se curva diante
da sua cultura e valor?
E ao ser o tudo de um nada,
ela é um misto de anjo e fada,
mescla de noite e alvorada,
fusão de estrela e de flor!

Cabelos vestindo os ombros,
flor a se abrir entre escombros,
lábios rindo em rosicler...
Tudo nelas é formoso,
seu sorriso é tão charmoso
que até Deus anda orgulhoso
por ter criado a Mulher!


Minha Casa
Humberto Rodrigues Neto

 
A minha casa eu adoro,
pois tem tudo o que me baste;
no jardim vejo e namoro
duas rosas na mesma haste!

Quando no meu micro canso
os dois olhos já purpúreos,
na lavanderia os lanço
nas samambaias e antúrios

Na horta a toalha liberto
das migalhas que em  si traz,
e ali fica o campo aberto
aos bem-te-vis e sabiás!


No domingo, um dia de gala,
dou à casa novas cores,
da feira trago, e na sala
coloco um vaso de flores.


Mesmo assim vejo tristeza
na casa que eu gosto tanto...
pressinto nela a frieza
de algum vago desencanto...


E por senti-la algo triste,
me disponho a interpelá-la
se alguma coisa ainda existe
com que eu consiga enfeitá-la.


É então que adivinho nela
aquilo que há tanto quer:
que eu traga outra vez pra ela
um sorriso de mulher!


Cântaro
Humberto Rodrigues Neto


Com que amor a campônia vai, cedinho,
com o jarro à fonte, a enchê-lo de água pura!
E volta, e a distribui, toda candura,
aos seus, na paz tranquila de um ranchinho.

Faz do exemplo trivial dessa figura
um rumo a palmilhar no teu caminho;
em ânfora de amor, não de água ou vinho,
converte essa tua alma  hoje insegura.

Nos vácuos desse cântaro, hoje frios,
despeja o bem que possas e vê quanto
é lindo o amor sem pompas e atavios!

Que o amor que dele vertas seja tanto,
que dê pra encher mil cálices vazios
de amargos corações em desencanto!


Às Formatadoras
Humberto Rodrigues Neto


Ela analisa e sente o belo tema
e os versos vai gravando na lembrança
atenta ao estro que o poeta lança
nos meandros que tece em seu poema.

Mil filigranas a um fio d’ouro trança
e ausculta a nota de um sutil fonema;
mistura a cor ao som, compondo um esquema
que guarde com o texto semelhança.


Por ser-lhes a arte um vício, quase um ópio,
fazem da mente seu calidoscópio,
quais belas fadas de paleta em punho!


Sem os floreios que essas musas criam,
nossos poemas jamais passariam
dos bisonhos rabiscos de um rascunho!



Confidências de Um Coração
Humberto Rodrigues Neto

 
Não se perca quem ande no meu rumo
e muito menos tu, minha querida;
mas não tentes mudar a minha vida,
nem verticalizar meu torto prumo.

O inclinar-te a uma ação mais atrevida
está nos sentimentos que eu assumo
e nunca na razão, pois não costumo
tomá-la por parâmetro ou medida.

És tu quem forças-me pra te acenar
com os falsos ouropéis de um vão sonhar
e os fátuos brilhos de um amor qualquer.

Assim, não me é possível compreender
que anseios moram no febril bater
do inquieto coração de uma mulher!


Maria das Flores
Humberto Rodrigues Neto


A orquídea que um dia foi na mocidade
em tempos de fastígio e de ventura,
Maria ainda conserva com amargura
no cofre imorredouro da saudade.


Do lírio, então em plena formosura,
guarda apenas na mente a suavidade;
hoje tímida violeta fê-la a idade,
ou um miosótis sem viço e sem candura.


Maria agora traz o olhar vermelho
das lágrimas choradas frente ao espelho,
ante um rosto que franze e se esfacela!


Pranto de perda da falaz vaidade,
tributo amargo da fatalidade
de um dia ter sido tão formosa e bela!



Saudade...
Humberto Rodrigues Neto

(a minha esposa, in memoriam)

Teu desencarne fez-me descontente,
com a alma e o coração sempre em quebranto;
do nosso lar foi embora o antigo encanto 
que tu levaste assim... tão de repente!

Do alto onde estás podes sentir o quanto
por ti pranteio ao te sentir ausente,
e nada existe que tão fortemente
me incline à solidão e ao desencanto!

Não mais teus lábios, nem os teus abraços
tentei buscar noutros alheios braços,
preso à paixão que só por ti nutria!

E hoje vergado a esta infelicidade,
a Dor se fez a esposa do meu dia,
e à noite faço amor com a Saudade!



Até um Dia, Olga!
Humberto Rodrigues Neto

(homenagem à Olga Kapatti, por ocasião de seu falecimento)

Não deixemos que o pranto nos apene
pela poetisa que de nós se afasta,
porquanto a sua poesia pura e casta
Deus quis levar para a mansão solene!

Que esta saudade que hoje nos devasta
não doa em nós como algo tão perene;
pois a alma passa pela morte, indene,
só a carne morre quando enferma ou gasta!

Se em vida a Olga só pisou espinhos,
colhe hoje as rosas lá na imensidade
entre aleias de angélicos caminhos!

Mesmo vendo-a feliz na eternidade,
quão tristonho é lembrarmos seus carinhos
e sufocar no peito esta saudade!


Resposta
Humberto Rodrigues Neto

(homenagem num excerto de um dueto dirigido à Eire – Rosa Lucas)

Esse chamar-me de teu mestre sem o ser
é o que me deixa assim feliz e venturoso,
haurindo rimas de um soneto tão garboso
como esse agora, que te deste a me escrever.

É uma delícia o teu poema... é quase um gozo
ter ante os olhos tais momentos de prazer;
é ter comigo esse tiquinho do teu ser
pulsando vivo num poema tão charmoso!

Das tuas palavras não descreio nem de leve,
e delas faço o meu fanal, “Eire”, porquanto
vem da tua alma o que a tua mão gentil me escreve!

E quando o leio, embevecido em pleno encanto,
sinto invadir-me aquele enleio bom e breve,
qual se estivesse, as Escrituras, lendo um santo!


Desfecho
Humberto Rodrigues Neto


Sei que é preciso, deste amor suspeito,
esperar dias hibernais, tristonhos,
e estar consciente de cruciais, medonhos
e atros suplícios a ferir-me o peito!

Sim, é preciso que eu, a teu respeito,
não borde anseios por demais risonhos,
nem ponha em altos pedestais meus sonhos,
nem sonhe o Éden no teu níveo leito!

Se houver o adeus final de um sonho ardente,
que eu me acostume a não te ver jamais
e viva apenas de um idílio ausente...

Fins de romance... Tão comuns e iguais...
a flor-mulher que amamos loucamente,
que um dia nos deixa... E que não volta mais!
 








E-books de Humberto Rodrigues Neto
(parte bastante expressiva de sua obra poética)

Para baixar o e-book, clique no link
Fonte idônea/ausência de vírus - CONFIE!
Se houver algum aviso de "perigo", insista: escolha "AÇÕES" e "EXECUTE ASSIM MESMO". Aguarde um pouquinho enquanto o e-book é baixado.                                 
                                 Expressão Mulher-EM
________________




Realização: Editora Olga Kapatti






Realização: Teka Nascimento / Arte e Poesia





DUETOS EM SONETOS:

Humberto Rodrigues Neto & Regina Coeli Rebelo Rocha



Realização: Drica Del Nero Virtual Bookstore (2008)




Realização: Anna Müller / Canto da Poesia (2010)









Realização: Anna Müller/Canto da Poesia (2011)








DUETOS

Humberto Rodrigues Neto (Humberto - Poeta)
&
Regina Coeli Rebelo Rocha (Regina Coeli)



Realização: Anna Müller / Ilka Vieira / Regina Coeli
 (2012)






HUMBERTO RODRIGUES NETO homenageia FERNANDO PESSOA




Humberto-Poeta responde a Fernando Pessoa:

Quando Olho para Mim Não me Percebo
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Quando olho para mim não me percebo
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.


O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.


Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei


Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.



Eu
Fernando Pessoa

Sou louco e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.


Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.


Só guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro só faz rico
Um frio perdido que me cobre


Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.


 

Não Sei Quem Sou, que Alma Tenho
Fernando Pessoa

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."



Sonho. Não Sei quem Sou neste Momento
Fernando Pessoa, in " Cancioneiro"

Sonho. Não Sei quem Sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
             Minha alma não tem alma.


Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
             Não tenho ser nem lei.


Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
             Coração de ninguém.



Fosse Eu Apenas, Não Sei Onde ou Como
Fernando Pessoa

Fosse eu apenas, não sei onde ou como,
Uma coisa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu dourado assomo...


Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloríola com Ter
A árvore do meu uso o único pomo...


Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,


Mas doente, e , num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas...



Ode a  Fernando Pessoa
Humberto Rodrigues Neto


Quando a gente lê Pessoa
nosso estro sobrevoa
édens de intensa beleza!
Além dessa realidade,
lê-se nele a nua verdade
de que a palavra saudade
só podia ser portuguesa!

Do seu verso a alacridade
se mescla àquela humildade
da flor que nasce no brejo!
E nele a alma lusa entoa
da Mouraria à Madragoa
as cantigas de Lisboa
debruçada sobre o Tejo!

Tudo amou como poeta,
até mesmo a luz discreta
desses lusos arrebóis...
Mesmo ao zizio das cigarras
cantava, em rimas bizarras,
o soluçar das guitarras
e o trinar dos rouxinóis!

Ler nele os descobrimentos,
é ver épicos momentos
que tod'alma lusa entoa!
É ouvir a voz magistral
dessa "Severa" imortal,
isto é fado, é Portugal,
isto é Fernando Pessoa!

ALÁDIA PEREIRA DE ALMEIDA (Brasil)




Apelo
Aládia Pereira de Almeida

Quando eu deixar o mundo tão malvado,
para habitar, por fim, a lousa fria,
nessa hora de tristeza e de agonia,
eu peço que tu fiques a meu lado.


Não quero que tu chores nessa dia,
lembrando o nosso amor tão malfadado,
preciso recordar todo o passado,
e partir com suspiros de alegria.


Depois que eu repousar no meu abrigo,
não me deixes ali abandonada –
quero a visita de teu vulto amigo.


Se na vida, de ti, fui separada,
quero na morte reviver contigo,
toda a ventura que nos foi negada.



Fênix
Aládia Pereira de Almeida

Renascer é preciso, muito embora esmagada,
com a alma sofrida, abatida e sem rumo;
colocar novamente a esperança no prumo,
emergir dos destroços sem gemer, lacerada.


Refazer minha vida ( nem que seja em resumo ),
registrar uma história em que eu seja lembrada,
muito embora sujeita  uma carta marcada
que me trouxe a tragédia pela qual me consumo.


Vou erguer a cabeça, dar a volta na sorte,
já que existe outra vida no horizonte da morte,
qualquer dia, quem sabe ? Vou poder te encontrar.


Renascendo das cinzas a que fui reduzida,
vou viver a utopia, numa ânsia incontida,
e qual fênix, alada, a teus braços voar.



Aquelas Mãos
Aládia Pereira de Almeida

Eram tão magras, feias e manchadas,
aquelas mãos que tanto bem faziam;
cheias de rugas e tão maltratadas
por afazeres que as consumiam.


As unhas quebradiças, sem pintura,
mas sempre limpas e muito curtinhas,
bem raramente viam manicura
ou cremes que as tornassem mais lisinhas.


Eram mãos que se davam com carinho,
distribuindo o amor em seu caminho,
tanto aos estranhos quanto aos entes seus.


As mãos de minha mãe, quanta saudade !
Obras de arte, extrema  raridade,
que estão no acervo do museu de Deus.



Última Homenagem
Aládia Pereira de Almeida

É este o último verso que te faço;
também a última vez que penso em ti,
e estas linhas incertas que ora traço,
não falarão do mundo que sofri.


Segue também aqui o terno abraço,
que de teus braços nunca recebi;
fica comigo apenas o cansaço,
mais a ausência de tudo que perdi.


Não fui culpada, nem foste tampouco,
pois este sonho meu, ingênuo e louco,
tinha, por certo, que chegar ao fim


Resta um consolo ao coração magoado,
que ficou no meu peito, destroçado –
saber que um dia tu pensaste em mim !


Recomeço
Aládia Pereira de Almeida

Não tenho tempo para sentir saudade,
há muita coisa que fazer ainda,
uma ansiedade de viver infinda,
um só prazer de plena mocidade.


Toda emoção é válida e bem vinda !
Sinto o prenúncio da felicidade,
e o coração transborda de vaidade –
há tanta coisa que fazer ainda...


Se já vivi ? Dezenas de verões !
Já tropecei em dúvidas, senões,
já amarguei a solidão da idade.


Sinto um vigor, agora, incontrolado,
começo hoje – não sou mais passado,
não tenho tempo de sentir saudade !



Meu Coração é um Soneto
Aládia Pereira de Almeida

Quantos sonetos fiz ? tantos... nem sei.
Tenho levado a vida em poesia –
nos momentos de dor, sempre rimei,
rimei também nas horas de alegria.


Fiz versos às pessoas que eu amei,
fiz sonetos de angústia e nostalgia;
a Natureza e Deus eu exaltei,
e a Paz e o Amor cantei em poesia.


Fiz sonetos em tarde embaciada,
fiz sonetos em noite enluarada
e madrugada de intenso verão.


O bom Deus, por descuido, ao me criar,
colocou no meu peito a palpitar,
uma lira em lugar de coração.


Vou Chorar Amanhã
Aládia Pereira de Almeida

Vou chorar amanhã. Hoje estou decidida
a viver o momento, seja ele qual for;
vou deixar pra depois toda a mágoa escondida
vou chorar amanhã, sem vergonha ou temor.


Hoje eu quero viver esta hora proibida,
neste dia especial de convite ao amor,
sem sentir-me culpada, receosa, oprimida,
entregar-me à aventura sem censura ou pudor.


É o momento que conta, é o presente que importa,
pois não sei se amanhã estarei viva ou morta,
e talvez me arrependa se esta hora eu perder.


Que consolo terá a minha alma vazia,
rejeitando este espaço de encantada magia ?
Vou chorar amanhã, hoje eu quero viver !


Quero Morrer Assim...
Aládia Pereira de Almeida


Quero morrer assim, numa tarde de sol,
com cigarras cantando e este céu azulado,
no meu leito, tranqüila, sobre um alvo lençol,
consciente e sem dor, sem remorso ou pecado.


Minha vida foi lume sem chegar a farol.
Como um quadro sem tela, como um filme cortado,
como um campo vazio, sem rolar futebol,
me despeço sem mágoa do pobre passado.


Quero morrer assim, sem rancor, sem temores,
quero muita oração, quero velas e flores,
e que amigos poetas não me deixem ao léu.


Sobre a campa cinzenta uma cruz e uma trova,
na certeza que a vida se refaz, se renova,
estará minha alma versejando no céu.


Sabor de Vida
Aládia Pereira de Almeida

Eu amo a vida pelo que é a vida,
pela razão mais simples de viver,
sem me importar se árida é a lida,
se há mais dias de dor que de prazer.


Eu amo a vida mesmo na incerteza,
do dia em que ela me abandonará;
sem pesar de deixar tanta beleza,
sem pensar, lá no Além, como será.


A vida é boa, é só saber vivê-la,
não desejar brilhar qual uma estrela,
nem também, como um verme se arrastar.


Saber chorar, se a dor nos atormenta,
sorrir, quando a alegria se apresenta,
compreender, esquecer e perdoar.



Estranho Funeral
Aládia Pereira de Almeida

Fui sepultar as minhas ilusões
e volto agora, triste, mas feliz;
levei todos os sonhos e emoções,
tudo de bom que com carinho eu fiz.


O tempo solidário e sempre amigo,
que estava firme e claro de manhã,
anuviou-se e enfim chorou comigo,
mandando a chuva de minh’ alma irmã.


Coloquei uma cruz bem tosca e escura,
onde enterrei meus sonhos de ventura,
minha esperança, minha mocidade.


Ninguém veio assistir ao funeral
e eu presidi sozinha o ritual,
tendo a meu lado apenas a Saudade.



“Confiteor“
Aládia Pereira de Almeida


As palavras de amor que não lhe disse,
os gestos de ternura que não fiz
por pudor, por receio, por tolice,
poderiam tê-lo feito tão feliz !


Passei a vida em tola e vã mesmice,
lustrando as aparências de verniz,
e foi-me a juventude; hoje, a velhice
registra o quanto bem você me quis.


Agora é tarde, já não há mais jeito,
se esta paixão dilacerou-me o peito,
confessá-la, a esta altura, que adianta ?


Leia os meus versos, são declarações,
mais que palavras, são as confissões
que deixei sufocadas na garganta.


Coração Amigo
Aládia Pereira de Almeida

Tu vês, meu coração?  Estou sozinha
no emaranhado de visões tão tortas,
em meio à bruma espessa e folhas mortas,
nesta tarde outonal, como andorinha.


Fecharam-se para nós todas as portas,
e a saudade que chega e se aninha,
amargura meu peito e me definha.
Nem tu, que és meu amigo, me confortas.


Estou triste, estou só, estou perdida
num torvelinho de paixão dorida –
que ânsia de gritar e de correr !...


Seria solução, meu caro amigo,
se fizesses um pacto comigo,
deixando, simplesmente, de bater !



Homenagem:

Lenço Solitário
João Roberto Gullino
Homenagem à Aládia Pereira de Almeida
“Quem morre não morreu, partiu primeiro somente.” – Camões

Quando surge a distância em nossa vida
separada por caminhos diferentes,
mesmo que sejam rumos conseqüentes,
fica a dor que será sempre sentida.


Quando a separação é despedida,
transforma-nos em seres impotentes
diante de pesares mais latentes,
que nos traz toda ausência da partida.


Quando escorre uma lágrima na face,
no calado lamento necessário,
é como para si mesmo falasse.


Quando se agita lenço solitário,
a imagem, para que não se enfumace,
prende-se ao coração qual relicário.




THAIS S. FRANCISCO (Brasil)




Ciranda da Vida
Thais S. Francisco (beija-flor)

Em meio ao choro assustado do vir à luz
cheguei menina... Menina Thais,
adentrando nesta Mágica Ciranda,
Ciranda da vida!..

No aconchego do peito materno
acalmei meus soluços, suguei o néctar da vida.
Na segurança dos braços paternos
adormeci tranquila.
O susto passou!..

Cresci menina sapeca,
 vida simples, sem medos,                               
feliz, mil sonhos vivi!.. 
                                    
Nesta ciranda da vida
nas abençoadas oportunidades e dificuldades
muito aprendi, e, sob o bondoso olhar do Senhor
de Quem meus Pais ensinaram a Fé,
já menina moça segui!..

A ciranda da vida
nem sempre favorece às rimas
mas, em versos brancos, poetei meu estar aqui
na poesia do primeiro amor, enlace, filhos amados,
união familiar, obstáculos do dia a dia
vencidos com coragem e perseverança,
sob o olhar do Senhor!..

Hoje, aqui estou, e,nesta Magnífica Ciranda ,
vou colhendo entre tempestades e bonanças
os frutos que plantei:
- Filhos benditos, netos bem-vindos,
trabalho garantindo o pão,
coragem e fé,
fortalecendo a caminhada, nesta Ciranda
em versos outonais, que já deixam nevar os cabelos
mas fortalecem a perseverança,
no recomeçar de cada dia!..

Na Ciranda da Vida
com ou sem rimas, poeto com alegria
a bênção de um novo dia!..


Ah!... Poesia!
Thais S. Francisco (beija-flor)

Ah!... Poesia!...
és minha amiga e companheira
contigo, choro, corro, vôo tal qual um beija-flor
voejando por entre flores em Mágicos Jardins
sorrio, canto, declamo o amor
caminho pela via láctea, escondo-me nas estrelas,
banho-me na luz do Luar, torno-me amante, finjo-me amada...

Ah!... Poesia!...
contigo caminho nas areias brancas, onde o mar
meus pés vem beijar em rendas espumantes...
contigo, fecho os olhos, escuto o marulho inquieto do mar
querendo encontrar a sereia que encanta o pescador
e o faz viver um amor arrebatador!...

Ah!... Poesia!...
a ti, confesso minha dor, saudade, solidão...
revelo-te meus mistérios, meus segredos, meus anseios
na ponta dos dedos, dedilho o amor escondido
te conto da noite de amor, onde dois se fizeram um
deixando no ar, a doce fragrância da vida, vivida, amada!...

Ah!... Poesia!...
amiga e companheira, contigo me faço poeta
te faço minhas confidências até mesmo sem rimas sem métricas
mas, deixo em teus versos, minha essência, meus momentos
onde as lágrimas se tornam pérolas,
o sorriso se torna luz
e a dor, chama-se
AMOR!...


Azul !
Thais S. Francisco  (beija-flor)

Vestida de Azul, chego em silêncio.
Pétala por pétala, me desnudo,
permitindo transparecer quem sou.
Venho enfeitar a tua Primavera,
trazendo, no perfume, a suave fragrância
do reflorescer de uma nova esperança!...

Trago nesta esperança, que,
renasce após longo Inverno,
o momento em que eu possa te receber, e,
docemente, oferecer o néctar do amor e da vida,
neste teu beijo de formoso Beija-flor!...

Sou Flor Azul,
enfeitando Mágico Jardim,
onde borboletas voejam ao meu redor,
enciumadas de ti, meu Beija-flor,
que buscas em mim, o mel do meu Amor!...

Sou Flor Azul,
enfeitiçada pelo teu chilrear
que canta lindas canções de amor,
enquanto sugas do mel, que,
extasiada, pelo teu encanto,
deixo de mim...transbordar!...

És meu Beija-flor!...
Sou tua Flor Azul,
não importando, quantas outras estações
entremeiem nossas Primaveras,
pois teremos sempre,
o Amor a reflorescer,
Em nossos corações!...


Botão de Rosa Que Se Transforma
Thais S. Francisco  (beija-flor)

Botão de rosa que se abre,
suavemente, pétala por pétala,
maciez de cetim, bordas rendilhadas
deixando espargir
doce fragrância no ar...

Perfume de rosa cor de rosa,
menina moça, moça mulher,
tal qual o botão da rosa
abrindo-se ,delicadamente,
e da inocente menina moça
deixa brotar a essência da moça mulher
que já sabe o que quer!...

Essência de vida, que brota com energia
da pele que sente, o amor chegar
querendo transbordar, romper barreiras
inundar vales, encontrar o caminho dos rios
e correr freneticamente para desaguar, no mar...

Mar de amores, desejos, sonhos, loucura..
Mar que recebe o rio, em ondas espumantes
no vai e vem das marés, no encontro do querer
somar, compartilhar, dividir, multiplicar
subtrair da essência, a semente viva..

Semente plantada,
no fremir dos amores,
acolhida, no calor de outra vida
que aconchega, estimula, gera,
espera ansiosa, corpo em transformação,
sonhos no embalo da canção divina
que entoa em melodia,
a criação de nova vida..

Vida que chega
querendo a Luz, querendo o Ar,
buscando acalmar, entre choro, sem lágrimas,
um pequenino coração, que se assusta com a chegada,
num mundo tão diferente, onde os ruídos não são abafados.
são nítidos, agressivos ao seu primeiro ouvir,
seu primeiro sentir, do lado de fora da bolsa,
o coração que bate, já cantando a canção de ninar,
mimando ,no aconchego do peito farto,
essa maravilhosa transformação:

- da microscópica semente, um pequenino botão,
que, tal qual a rosa de bordas rendilhadas,
pétala por pétala foi se abrindo
em maravilhosa transformação chamada: SER!...

S E R,
QUE TRAZ DO AMOR
A  V I D A !...


Melodia Mágica ...
Thais S. Francisco  (beija-flor)

Na Magia da Melodia
que o Universo toca em Sinfonia,
vou seguindo em sonhos bons de se sonhar
buscando entre as estrelas deste meu céu
a ti, amor, encontrar...

Quero tocar teus cabelos
Sentir o calor de tua pele
O pulsar de teu coração
O abraço de teus braços
A estreitar-me em teu peito...

Quero sentir de novo
minha pele se arrepiar,
com o toque suave de tuas carícias,
deixando que se percam em meu corpo
tuas mãos seguindo em minhas curvas...

Quero deixar que me faças amor,
pois te farei também, e,
entre  lânguidos gemidos
deixar que os corpos unos
estremeçam no prazer
deste nosso Amor!...

Na magia desta melodia
o sonho toma conta de mim.
Banho-me no suor que este sonho
desejoso de ti, faz brotar de cada poro meu,
querendo te ter agora...sem demora!...

Vem amor,
vem  fazer parte deste meu sonho.
Sonha comigo, pois
sonho que se sonha junto,
deixa de ser apenas um sonho
para transformar-se em realidade...

Na realidade do intenso desejo
de Amar!..


Ès Minha Inspiração!...
Thais S. Francisco  (beija-flor)

Quando poeto meu verdadeiro Eu,
Poeto- te!... És minha doce inspiração!..
És o Amor que trago n'alma;
A Luz que dá brilho ao meu sorrir,
A Alegria que me dá a razão do viver;
O sonho que se faz realidade!...

Na realidade deste sonhar,
poeto meu Eu,
que já deixou de ser "Eu" para tornar-se "Nós",
pois caminhas ao meu lado,
no sentimento forte do querer,
coroando de flores e brilhos
este caminho que nos resta seguir...

Lado a lado caminhamos;
juntos deixamos voar nossos desejos
e nos lançamos a flutuar no espaço infinito,
entre as nuvens, sob o céu salpicado de estrelas,
delicadamente prateado pela luz do Luar,
emoldurando nosso Amor!!...

Tomo teu coração,
Entrego-te o meu,
Não te farei sofrer...
Não me faças chorar..
Nada serei sem teu Amor...
Nada serei sem poder te Amar!...

No Poema deste meu Viver...
És a Inspiração...
Os Versos...
As Rimas...
O sentimento...
O Amor!!!...

És minha Inspiração!!...


No Vento que Passa...
Thais S. Francisco  (beija-flor)

Eu te escuto no vento que passa,
Te sinto na brisa que acaricia minha pele.
Mas, não consigo entender, onde posso te encontrar.
E, o desejo é intenso em querer te amar...

Na cama fria, vazia de ti,
busco encontrar no sono, o dom de sonhar...sonho.
Neste sonho encontro teu olhar
que me desnuda dos pudores,
te sinto sobre minha pele...

Te amo tanto,
que deste sonho não quero acordar,
pois sei que o vento, pra longe irá te levar.
Teu olhar se dissipará, como nuvem passageira
e o vento...espalhará teu perfume pelo ar...
Foi tudo um sonho bom de sonhar!...

Não sei, onde te encontrar.
Sigo tua voz, no murmúrio que o vento sopra,
mas, o vento rodopia, me entontece...
já não sei, como te procurar
mas sei que muito quero te amar!...


DESPEDIDA
Thais S. Francisco  (beija-flor)

O que eu mais temia da vida,
era o momento da despedida.
Tentei fazer de tudo o mais certo,
para que esse momento
eu nunca sentisse de perto!...

Caminhei, lado a lado,
no mesmo compasso dos teus passos.
Vez ou outra, teus passos se adiantavam aos meus,
mas, ligeira, te alcançava novamente.
Mãos dadas, segurava firme,
para não te perder, quando mais
ligeiro era teu caminhar!...

Um dia, soltaste minhas mãos,
dizendo que já era tempo de caminhar
sozinha... e eu caminhei,
mas sem nunca te perder de vista
neste meu novo caminho a seguir!...

Segurei, então, em outras mãos.
Acertei o compasso dos passos, com
certa dificuldade... eram diferentes dos teus.
Consegui, então, cadenciar os passos
em novos caminhos seguidos,
mas, sem nunca deixar de
tocar tuas mãos, buscando
a coragem e teus ensinamentos!...

Segui... dei minhas mãos,
para que outras pequeninas mãos
se segurassem às minhas.
Acalmei meu caminhar, para que
pequeninos pés, acertassem o compasso
de seu caminhar, junto ao meu!...

Seguimos por longo tempo assim, mas
não deixei de levar esses pequeninos passos
a conhecer os teus, que eram firmes e seguros.
Te amaram! Deixaram suas pequeninas mãos,
bem seguras, dentro das tuas!...

O tempo passou e, sem nos perguntar
se assim o queríamos, caminhou depressa...
Tão depressa que me levou até onde eu
não queira estar, e sentir então:

"O momento da Despedida"!

Precisavas seguir por um outro caminho.
Mãos soltas, no teu próprio compasso,
na cadência dos que voltam,
após cumprir a predestinada jornada!...

Seguiste, então,
numa Despedida silenciosa.
Soltaste minhas mãos, mas
não te soltei do meu coração,
Papai!

Tua Filha
Thais "Jacuí – Beija-flor"

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