DELASNIEVE DASPET






SER MULHER...
Delasnieve Daspet

Tudo é mulher!
Um sopro de vida.
Um sorriso.
Um barco sem rumo.
O texto e o contexto.
O nexo e o conexo.

Andar na chuva
Deixando que a água
Molhe a alma e
Caindo dos olhos
Faça a folha brotar
(em nova vida)
À procura do sol,
Assim é a mulher!

Modificando-se a cada segundo.
Adaptando-se conforme a estação,
Florindo, dando frutos,
Caindo como folha seca
no outono da vida,
É a mulher!

Não é fácil ser mulher,
Viver à beira do precipício
Com tantas imposições
Condicionada a sentir,
Carregando na mão
O traçado do contradito,
Os mistérios sem raízes
dos sonhos que não cabem
No seu oceano interior!

Ser mulher é carregar o mundo no ventre,
O coração nos lábios,
A saudade n'alma,
E na metade que o mundo conhece
A grandeza invisível da metade que não se vê!


MULHER INDÍGENA
Delasnieve Daspet

Tu que perfumas a vida,
Que grita pela igualdade,
Que clama solidariedade,
Que conhece o sol e a lua,
O amanhecer e o anoitecer,
Que vive na penumbra,
Invisível à sociedade.
Tu que integras a natureza,
Sofre discriminações de todo tipo,
Redescubra teus valores e interesses
Teus sonhos e esperanças,
Planos e sentimentos
Na construção de uma comunhão sólida e interna,
Assume o espaço que é teu
Na terra que é tua por direito!
Necessitas,
Não para uma satisfação pessoal
Mas no todo que somos.
Uma comunhão que garanta
Paz de espírito e fidelidade,
A segurança do sincero e do duradouro
No futuro harmônico e seguro.
Do esforço de cada um
Sem crise de continuidade,
Lembrando que somos partes da mesma Terra!


Rosa Desfolhada
Delasnieve Daspet

Quero voar.
Quero sair de mim.
Quero não me preocupar
Com o mundo que me cerca.

Quero ter coragem.
Coragem de rasgar.
De quebrar.
De reiniciar.
De encher de vozes o vazio.
De dobrar em laços as recordações.

Quero derrubar as sombras.
Do profano ao sagrado,
Santificar o profano!

Quero não me preocupar
Com a vida.
Quero amanhã
Sonhar  como hoje.
Quero não fazer o que é preciso.

Quero apenas voar.
Como as borboletas.
Como uma rosa,
Desfolhada,
Com pétalas voando,
Voando - com a força
Do meu querer,
Pequeno beija-flor!


Tons de Outono
Delasnieve Daspet

As águas de março passaram
fechando o verão.
E chega o outono com os tristes
dias borrados entre frio e fosco,
garantindo noites escuras e profundas.

No chão - um acolchoado de folhas.
Árvores desnudas. Tudo em chocolate,
marrom dégradé, avermelhado,
cor da temporada.

Visto-me de melancolia.
Eu... Corpo curvado, coração magoado,
fustigada pelo sol, pelo vento,
metade sigo e a outra cede,
vou e fico,
morro e vivo
na solidão acompanhada
das saudades que vão e das que ficam,
marrom, obscura, hiato sem nexo...
... E entro no contexto do universo.


De Nós Mesmos
Delasnieve Daspet

A solidão e o medo são faces
Da mesma moeda.
De nós mesmos.

O medo que sentimos
De nós mesmos
É a insegurança perante
Os desafios da vida.

É o receio de nos encontrarmos a sós.
De rever a caminhada.
Dos planos concluídos.
Do que falta realizar.
De se olhar de frente.

Ninguém vive só.
É importante ter alguém
Para troca de idéias.
Esclarecer dúvidas,
Desabar e encontrar apoio,
Alguém que nos diga
Que vale a pena continuar.

Precisamos de um equilíbrio,
De alguém que ampare,
Que não nos deixe cair na escuridão,
Que nos faça ver a luz no meio das trevas.

Alguém que nos mostre
As alegrias em meio as tristezas.
Que não estamos sós na multidão.
Precisamos estar juntos,
Da esperança que brota no coração.

Precisamos de nós mesmos,
Para nos mostrar na riqueza interior,
Que não estamos reféns da terrível doença
Do medo e da solidão!


Cheiro de Alfazema
Delasnieve Daspet

Quando os raios do sol
se enterram na barra
do horizonte,
num casamento perfeito da
terra com os céus,
subo a colina para ficar
mais perto de Deus.

E no ar rarefeito da subida
sinto o cheiro de alfazema,
cheiro de coisa antiga,
sinto saudades  da vida,
a alfazema me cheira a saudade!

Tão só navego pelos mares,
tão calada ando pelos caminhos,
tão breve é o momento nesta ilha,
tão longa é a escuridão da incerteza.

Das vinte e quatro horas do dia,
abreviando o curso da existência,
talvez não viva nem duas.
Mas sempre há um amanhã
que justifica nossas fugas
e necessidades.


Morrer-me, sinto!
Delasnieve Daspet

Nada existe.
Nem em meus sonhos.
O vazio domina.
Tenho de pegar meus olhos
E aprender a ver a luz
Na noite escura...

Agora, no quase oculto
Em que vivo,
Tateando nas palavras,
Morrer-me, sinto!

O que acontecerá?
Na tristeza em desfazer-me a alma
Enxugarei o pranto que me inunda...

Não soubestes compreender
Toda a ternura que tivestes.
Mas, a duras penas aprendi
Que a vida muda de repente!

Vou percorrendo meu caminho.
Deixo pistas para que me aches.
E como uma aranha vou tecendo a teia
Para prender-te,
Deixar-te sem rumo.

O ódio atroz pode mudar?
Seguirás meus passos?
Quem saberá?!

Mas...
Lentamente, me situo!
Sou eu quem anseia pelo teu toque,
Sou eu quem sonha com teus beijos,

Sou eu - fera indomável,
Sou eu - rio solitário, fluindo para
A imensidão infinita do mar
De minhas quimeras,
Sou eu - quem ainda te ama...


Ando a Noite, a Noite Ando...
Delasnieve Daspet

Vou andar na noite
escutar do vento o cantar,
catar conchinhas a beira-mar,
a noite vou andar...

Andei questionando os raios do luar,
se pensas em mim,
o tanto que penso em ti...
Da primeira aurora,
do primeiro raiar de luz,
na primeira estrela que brilha,
O sonho que sonho sempre,
tem o teu cheiro, perfume-orvalho!

Na pálida vida que levo,
me sinto sufocada, desesperada,
saio pela noite, a andar,
procurando um mundo real.
que não esconda
O riso, flor-da-pele, prazer.

Ando a noite, a noite ando...
Pois a noite pertence ao amante,
a noite pertence ao amor.

E ao te tomar nos braços, noite infinita,
( que a vida circunda, não passa ),
sei o que me espera noite, negra noite
que tudo cobre e nada encobre,
no momento, no espaço, no verbo,
na carne, na vida, que não somos!


ASSIM COMO AS FOLHAS QUE TREMEM...
Deslasnieve Daspet

Assim como o sol que se curva a cada manhã;
Assim como as folhas que tremem
Com a brisa refrescante;
Assim como um pássaro a céu aberto,
Numa ânsia que toma,
Assim, no meu silêncio, este lamento.

Escrevo no pó da estrada
A profunda dor de minha mágoa.
E na aridez de minha saudade,
Com o canto preso na garganta,
Sou a lágrima triste
Que pinga sobre tua lembrança!

Assim sou, assim sigo
Um mero reflexo na janela...
Esta mentira é tão real que dá pena,
Sem perceber, sou eu mesma, quem vaga,
Na multidão que não passa...


Sombra de Mulher
Delasnieve Daspet

Sou uma menina.
De meia idade.
De acordar preguiçoso.
Das tarde ensolaradas,
Dos beija-flores coloridos!

Sou uma menina levada
Que se fez mulher
Que se fez sombra
Para viver.

Uma sombra nas nuvens.
Uma avezinha canora,
Que dentro da gaiola
Morre de saudades!

Sou uma sombra
Que não teve poder
Para gerar o que
Foi gerado.
Que queria apenas amar

Mas que amor busquei?
Será este argamassado
Em lágrimas?

Uma sombra bela.
Que martela na pedra.
Que corta o barro.
Para dar seu produto:
A inspiração!

Sou sombra.
Que se desespera.
Que errou por lugares longínquos.
Sou hera.
Colada na tristeza dos edifícios!

Sou desespero,
Que emerge do fundo do ser.
Sou paixão.
Não posso repetir façanhas
Do passado,
Reincidir.

Sou sombra.
Apenas uma sombra de mulher.
Em busca de luz.
Da liberdade.
Desse amor que foi
E é minha expiação!


Outro Dia Surge
Delasnieve Daspet

Não existe tempo melhor
Que o presente.
A noite está linda,
Estrelada e agradavel,
E eu quero falar.

Andei devagar.
Nem fiz muita questão de ganhar...
Nunca parei para pensar
Do tanto que tinha a perder
Por me abandonar.

Outro dia surge.
Abro as janelas de minh´alma
Para viver a vida
De verdade.

Cansei de apenas vagar,
De combater moinhos de vento,
Vendo o por do sol entendo,
- finalmente -
Que por qualquer estrada que eu siga
Preciso de mim, inteira!

Não necessito outras provas.
Posso respirar e aspirar
Os ventos que vem e que vão.

Jogo pedras no lago
E afundo no labirinto das águas
Os sonhos que me mantêm.


Transformação
Delasnieve Daspet

Sou a união
Do átomo e da molécula,
Do hidrogênio e do hélio.

Vivi em milhões de galáxias,
Em estrelas e planetas
Perdidos no universo.

Como vegetal
Plantada em solo fértil,
Uma diferente semente,
Me percebi em árvores,
Plantas e flores.

Animal, oriunda da junção
Do óvulo e do gameta,
Transformada após a gestação
Na obra prima da criação.

Sou eu, humana e perfeita,
Com corpo, alma e inteligência,
Tentando e aprendendo respeitar
A vida que se move ao meu redor.



A Canção do Silêncio...
 Delasnieve Daspet
.
Penso a vida, penso a morte.
A carcaça apodrece no dia a dia,
Só o verbo tem vida.
.
E no vento ( conhecido das  andanças)
Fustiga a fronte  macilenta;
As flores que vão se abrindo,
A ferida despedaçada, 
A saudade dói e maltrata,
Abraçam-me, calam-me, 
Na certeza da finitude.
.
E no silêncio que surge, impenetrável,
Começo a escrever um poema...
Não o mais belo dos poemas,
Nem a mais bela das canções...
Mas  a canção do silêncio,
O silêncio das coisas mortas, apagadas.
.
É o poema do esquecimento,
Da partida, do lamento,
De lágrimas quentes,  aos cachos, 
Que secam os lagos dos olhos,
Na molhada cor do tempo!
.
Canção que entôo,
Neste momento em que me encontro 
Tão perdida, tão absurdamente só...
.
Magoei-me  no caminhar...
E as sombras  me levam 

Na suave curva do precipício.

7 comentários:

  1. Apoiada. Bjs
    Adorei seu blog e seus textos poéticos. "Por qualquer estrada que eu siga
    Preciso de mim inteira". Eu também.
    SH

    ResponderExcluir
  2. Delasnieve Daspet, poeta que fala e coroa a Mulher Indígena, parabéns, estou contigo, porque também é preciso abrir a consciência humana e gritar como gritam os teus versos: FAZEMOS PARTE DA MESMA TERRA e indiscutivelmente isso está sendo esquecido, é lamentável que poucos cuidem e muitos destroem! Abraços de Raquel Nonatto.

    ResponderExcluir
  3. Delasnieve,
    Teu blogue está maravilhoso.
    Textos ótimos, linda formatação e a música ao fundo muito bem escolhida.
    Boa sorte.
    bjs
    Arlene

    ResponderExcluir
  4. Seus poemas são belos amiga querida e parabéns por mais esta página que está encantadora!!!
    Tenha um dia iluminado cm a minha admiração...beijos..Vanda Gigo

    ResponderExcluir
  5. OLA AMIGA LITERATA!
    COMO É BONITO ISSO, AMEI
    VOCÊ É DIVINA EM SUAS CRIAÇÕES.
    PARABÉNS, COMO QUERIA UM DIA TE CONHECER PESSOALMENTE
    QUEM SABE,NÉ!

    ABRAÇÃO POÉTICO DESSA ESCRITORA, DIRETORA REGIONAL DE ALTERNATIVOS CULTURAIS E POETA DEL MUNDO
    miria-pereira@ibest.com.br

    ResponderExcluir
  6. Ser mulher
    Delasnieve Daspet eh uma boa definição.

    ResponderExcluir

Web Statistics