BELAS ARTES EM FAMÍLIA - GILKA MACHADO, RODOLPHO MACHADO, EROS VOLÚSIA E AMAURY MENEZES

Roda de Samba | 140 x 100 cm | AST | 2009 | Acervo "Lapa na Pressão",
de AMAURY MENEZES



AMAURY MENEZES
(1941-2015)

Artista multimídia completo
Por ©Alexandros Papadopoulos Evremidis*



Posso afirmar, com isenção e sem margem de erro, 
 ser Amaury um dos mais completos e profícuos criadores de arte das últimas décadas. Devemos creditar isso à sua herança genética e à educação artística recebida desde o berço?! Gilka Machado, sua avó, eleita "a maior poetisa do Brasil" por concurso da revista O Malho, do Rio de Janeiro, e Eros Volúsia, sua tia, a revolucionária bailarina brasileira, são nesse sentido suas referências familiares e artistóricas. Isso, naturalmente, fez com que Amaury convivesse desde a mais terna idade com destacadas figuras da intelectualidade brasileira - escritores, poetas, músicos, artistas plásticos e outros expoentes da arte -, e fosse iniciado nas idéias da vanguarda. Não é de admirar, portanto, o precoce talento deste artista de qualidades excepcionais, desenvolvido plenamente na juventude e, na seqüência, maturado com estudos de arquitetura e belas artes.

Assim estruturado e polivalente por natureza própria, servindo-se de todos os meios e materiais e técnicas e suportes, Amaury desenha, pinta e cria esculturas com a mesma e espantosa facilidade e maestria com que escreve e compõe música popular, inclusive samba e até uma ópera! e toca e canta. Avesso a "grupinhos", com exceção do Clube dos Rafaéis, nos tempos do Belas Artes, não pertence a nenhuma escola, corrente ou tendência e tampouco segue modismos, por definição efêmeros, salvo a que ele mesmo escolheu e edificou e personalizou para si - a eclética e a do dar o melhor de sua criatividade sempre.

Exigente e autocrítico, não faz concessões ao mercado e só considera a obra pronta quando rigorosamente não há mais o que nela pôr e nem o que dela tirar. No que tange às artes plásticas, todas as suas criações, não importando se de viés clássico, realista, figurativo, cubista, moderno, abstrato, expressionista, pop, etc., são eloqüentes exemplares da sua inventiva criatividade e portam sua inconfundível assinatura e sua marca, seu DNA. Verdade, autenticidade, expressividade e liberdade de gesto são atributos sine qua non da sua arte merecedora de distinção.

Estranhamente, entretanto, Amaury, nunca se preocupou muito em exibir suas criações, que passam de algumas centenas, senão de milhares, seja em galerias ou em espaços culturais, salvo em exposições informais e para pequenos grupos de colecionadores e aficionados, aqui e ali, inclusive no estrangeiro onde, como soa acontecer, pelo ditado do "santo da casa...", a aceitação é maior e melhor. Mas, agora, parece ter chegado aquele momento decisivo em que a arte, mais forte que a vida e suas contingências, se impõe e subjuga, vence a natural timidez que acomete muitos artistas e exige a busca pelo "Outro", destinatário e árbitro final de todo produto artístico - o grande público, sem o qual toda arte, por mais genial, se reduz a mero onanismo. O tempo será testemunha. Tanto quanto o prêmio com que, mal saiu da toca, Amaury foi distinguido no VIIIº Salão de Artes Plásticas da Escola Superior de Guerra - 2008.

Rio de Janeiro 2008


©Alexandros Papadopoulos Evremidis => escritor crítico

(VISITE:  http://www.rioartecultura.com/amaurymenezes.htm

http://www.rioartecultura.com/)

O TALENTO NAS ARTES

O Blogue Expressão Mulher-EM traz aos seus leitores a magia da Arte não só no domínio das Letras, mas também na Dança, na Pintura e na Escultura, o que,  por si só, já seria uma grande ventura para os olhos e a sensibilidade. Mas o que mais encanta é ver que essas expressões de talento, cada qual numa distinta área, acontecem em diversas gerações de uma família.  

Numa das páginas do segmento ETERNAS deste blogue (http://expressaomulher-em.blogspot.com.br/2012/09/gilka-machado-brasil.html), foi dada uma pequena mostra da obra poética da simbolista GILKA MACHADO (Rio de Janeiro,1893-1980), poetisa que muitos já conheciam e aplaudiram e outros passaram a conhecer, aplaudindo-a também. No muito que o blogue deixou de divulgar por intermédio deste poderoso veículo que é a internet, chamou-nos a atenção a riqueza dos detalhes que envolviam a figura de Gilka Machado, não só no que se refere às razões para o esquecimento de tão bela obra poética, mas também por aspectos relevantes no terreno das Artes relacionados a pessoas de sua família.   

O painel acima denominado "Roda de Samba" é pintura de AMAURY MENEZES, neto de Gilka Machado e do poeta RODOLPHO MACHADO (Rio de Janeiro, 1885-1924). Nascido no Rio de Janeiro em 1941 e recém falecido (18-08-2015), Amaury Menezes além de pintor é escultor, desenhista e compositor. Ele é filho de HELIOS, um dos filhos de Gilka Machado, e sobrinho da outra filha de Gilka, (H)EROS VOLÚSIA, (Rio de Janeiro, 1914-2004). Eros Volúsia (que preferiu seu nome sem o "h") foi bailarina clássica e dançarina que se projetou internacionalmente com coreografias próprias e de vanguarda inspiradas na cultura popular brasileira.  

Pelas mãos de Gilka Machado, por suas palavras e lembranças, percorreremos esta rica matéria sobre BELAS ARTES EM FAMÍLIA, segmento ENVOLVÊNCIAS do blogue EM, no qual várias artes se abraçam num maravilhoso envolvimento que celebra a Vida (fatos, ideias, sensações, percepções, desejos, emoções, movimento e imaginação).

  

O QUE É ARTE? 

É cada vez mais difícil definir o que é Arte ao longo do tempo e das várias culturas humanas. Se nas sociedades pré-industrializadas não havia nem mesmo um termo para designar o que fosse Arte, nos dias de hoje são inúmeras as representações de Arte, ainda que não reconhecidas por todos. Embora não possa ser padronizada, a Arte deve atender a alguns requisitos básicos para que possa ser entendida como tal. São eles:

. a manifestação de alguma habilidade especial

. a criação artificial de algo pelo homem

. o desencadeamento de algum tipo de resposta no ser humano, como o senso de prazer e beleza

. a apresentação de algum tipo de ordem, padrão ou harmonia

. a transmissão de um senso de novidade e ineditismo

. a expressão da realidade interior do criador

. a comunicação de algo sob a forma de uma linguagem especial

. a noção do valor e importância

. a excitação da imaginação e a fantasia

. a indução ou comunicação de uma experiência-pico

. coisas que possuam reconhecidamente um sentido

. coisas que deem uma resposta a um dado problema

                         

 ARTE — HERANÇA GENÉTICA OU 
REAÇÃO A UM ESTÍMULO?

A ARTE DE GILKA MACHADO
(1893-1980)

Gilka Machado, por Amaury Menezes

Desenho a lápis de cera

"Arte é ancia de se conter o infinito numa expressão"

(Gilka Machado, Crystaes Partidos, 1915)

(grafia da época)

Espirituaes

Gilka Machado

I

Do meu amôr por ti como contar-te a historia,

si nem sei desde quando em meu cerebro o trago

erguido assim como numa igreja merencorea,

da qual tu sempre foste o milagroso orago?

De ha tanto não te vêr, apenas na memoria,

conservo do teu rosto um somulacro vago,

e, como desse amôr gôso supremo e gloria,

lembro de um teu sorriso o espiritual afago.  

O meu amôr por ti é intangível e puro,

desprovido de ardor, desprovido das ancias

dos prazares carnaes, ephemeros e escassos.

Amôr em que o meu sêr totalmente depuro,

amôr que te dedico através das distancias,

como um sol a outro sol, através dos espaços.

II

O meu amôr por ti é uma árvore exilada,

verde, em pleno vigor da juvenil chimera,

que, na ampla vastidão de solitaria estrada,

ama outra árvore que, de longe, a anceia e espera.

Que importa da tristeza o hinverno ponha em cada

folha sua uma ruga e a torne velha e austera?

para que ella resurja, alegre e remoçada,

a Esperança virá qual uma Primavera.

E ha-de este nosso amôr esperançoso e lindo,

os nossos corações, ó meu longínquo amante!

cada vez mais encher, frondejando... subindo...

Amôr mudo e soffrente, amôr calmo e tristonho

- arvore a receber de outra arvore distante

o alvo pollen da dôr para a anthese do Sonho.

III

Para que deste amôr nunca a memoria laves,

vivamos sempre assim, a distancia sujeitos,

tu — ignorando sempre os meus defeitos graves,

eu — ignorando sempre os teus leves defeitos.

Como duas eguaes e extraordinarias naves

irão — rumo do ideal — nossas almas de eleitos,

ambas vogando sobre os mesmos sonhos suaves,

ao desejo que as move e inflamma nossos peitos.

Cada vez entre nós mais a distancia augmento,

para que esse almo ideal, tantos annos sonhado,

não vejamos fugir num rapido momento.

e sintamos, então, immoveis, lado a lado,

essa nausea, esse tedio, esse aniquilamento

que vem sempre depois de um desejo saciado.  

(Crystaes partidos, 1915, grafia da época)

Gilka da Costa Melo Machado,
Viúva do poeta Rodolpho Machado.
Nasceu no dia 12 de março de 1893, Rio de Janeiro, Guanabara .
Morreu no dia 17 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro.
in
"Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou"
  J.G . de  Araujo Jorge - 1a ed.   1963

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 " Amei o Amor, Ansiei o Amor. Sonhei-o "

Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez ( sonhos insanos)! . . .
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.

Guardo nas mãos, nos lábios, guardo em meio
do meu silêncio, aquém de olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.

Desilusão tristíssima de cada
momento, infausta e imerecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!

Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pesar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte. . .




" Platonismo "

Para que deste amor nunca a memória laves,
vivamos sempre assim, à distância sujeitos,
tu - ignorando sempre os meus defeitos graves,
eu - ignorando sempre os teus leves defeitos.

Como duas iguais e extraordinárias naves,
irão, rumo do azul, nossas almas de eleitos,
ambas vogando sobre os mesmos sonhos suaves,
ao desejo que as move e inflama nossos peitos.

Dia a dia entre nós mais a distância aumenta,
para que aquele ideal tanto tempo sonhado
não vejamos fugir num rápido momento;

e sintamos, então, imóveis, lado a lado,
essa náusea, esse tédio, esse aniquilamento,
que vem sempre depois de um desejo saciado.



" Soneto "
                            (Sob o Céu)


Sob o céu, sobre o mar, dentre um profundo
silêncio de ermo, em meio às rochas nuas,
aninhamos na noite, como duas
aves, ébrios de nós, longe do mundo.

Em teus olhos de treva ardiam luas;
errava um cheiro, não sei de onde oriundo;
e minhas mãos, de tuas mãos no fundo,
tinham desejos de morrer nas tuas.

Sangrando luz, pendida a trança flava,
uma estrela do além se despenhava. . .
- Sorriste olhando-a, entristeci-me em vê-la...

Com a alma em fogo, pela noite fria,
em vertigens de amor eu me sentia
rolar no abismo como aquela estrela.



" Soneto "
                              (Sonhei-te)


Sonhei-te tantos anos! Tantos anos!
Eras o meu ideal de amor e de arte,
buscava-te a toda hora e em toda parte
nessa ânsia inexplicável dos insanos.

Enfim, vencida pelos desenganos,
como quem nada espera que lhe farte
a alma faminta, exausta de sonhar-te,
abandonei-me do destino aos danos.

Surges-me agora, em meio da jornada
da Vida: vens do Inferno ou vens da Altura?
- Não sei: mas de ti fujo, apavorada!

E, em lágrimas, minha alma conjetura:
uma felicidade retardada
quase sempre se torna desventura.



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 UM POUCO DE GILKA MACHADO 
CONTADO POR ELA

(autobiografia de Gilka Machado inserida nas páginas IX, X e XI do seu último livro, "Gilka Machado - Poesias Completas", Livraria Editora Cátedra, Rio de Janeiro em convênio com o Instituto Nacional do Livro, Ministério da Educação e Cultura, Brasília, Ano 1978)

  "Nasci no dia 12 de março de 1893, no bairro do Estácio de Sá, numa rua chamada Colina. De meu pai — Hortêncio Mello — sei apenas que era culto, bonito, inteligente e boêmio. Minha mãe — Theresa Costa — foi uma heroína, bonita e inteligente, enfrentou todas as dificuldades da vida sem desânimo, conseguindo obter um nome de relevo no teatro e no rádio. Na família materna brilharam dois gênios: Francisco Moniz Barreto, o maior poeta repentista da língua portuguesa, e Francisco Pereira da Costa, o maior violinista de sua época, assim considerado na Europa e no Brasil. Das famílias Moniz Barreto e Pereira da Costa muitos foram os cartazes artísticos, todos porém nublados pela pobreza.

"Estreei nas letras vencendo um concurso literário num jornal, A Imprensa, dirigida por José do Patrocínio Filho (1) Logo depois, um crítico famoso escrevia que aqueles poemas deveriam ter sido laborados por uma matrona imoral. Quase criança, comunicativa, indiscreta e falaz, saindo de mim mesma, contando meus prazeres e tristezas, expondo os meus defeitos e qualidades, eu pensava apenas em dar novas expressões à poesia. Aquela primeira crítica (por que negar) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos.

Havia no meu ser uma torrente que era impossível represar: os versos fluíam, as estrofes cascateavam... e continuei, ritmando minha verdade, então com mais veemência.

Casei com o poeta e jornalista Rodolpho Machado, rapaz tão pobre quanto eu. Desse casamento veio à luz um casal de filhos: Helios e Heros. Mais uns poucos anos e Rodolpho morreu de uma otite supurada. Viúva, sem herança e sem montepio, urgia procurar trabalho. Saí em busca do mesmo. A má fama é indelével. Todas as portas se me fecharam, ficando aberta uma que não consegui transpor por invencível repugnância."

 (1) - Gilka Machado contava 13 anos na época do concurso.

A ARTE DE RODOLPHO MACHADO

(1884-1924) 

Poeta, contista, jornalista e crítico de artes, escreveu um único livro de poesias — DIVINO INFERNO —, editado postumamente em 1924, um trabalho organizado por sua esposa, a poetisa Gilka Machado, que escreveu o prefácio.

DIVINO INFERNO, de 
RODOLPHO MACHADO
1924

RODOLPHO MACHADO E O SEU
 "DIVINO INFERNO"
(por Gilka Machado)

(grafia da época)

Ao assumir com tristeza a direcção de esplendida officina, subitamente abandonada pelo seu antigo e prodigioso artífice, ao observar quanto de formoso produziu elle, quanto poderia produzir ainda, quanto levou consigo, inutilmente, nas ninas inexgottaveis da sua imaginação, cheia do mais doloroso e transbordante dos enthusiasmos, vem-me a necessidade de falar, para o mundo, desse finado Alguem.

Treze annos trabalhámos juntos, egoisticamente sósinhos, orgulhosamente sósinhos, como si não existissemos um para o outro, na avareza dos nossos thesouros inuteis, na ancia ridicula da Gloria. 

E, quantas vezes, quantas, pela miseria dos nossos dias, após algumas horas de trabalho solitario, caminhavamos um para o outro, rindo do ouro do mundo, com as mãos cheias de sonho!...

Fôra necessario trabalharmos assim, egoisticamente, isoladamente, para a victoria do Eu, em prol da Belleza Eterna. Tal independencia, porém, não poude impedir que os maledicentes tentassem promiscuir com influencias e collaborações recíprocas nossas personalidades.

Quando eu o conheci — feio, pequeno, magro — uma sensação estranha me veio logo de toda a sua figura exquisita, sensação que os meus treze annos de menina-moça não podiam definir fosse de attracção ou repulsa. Defini, comtudo, que acabára de travar conhecimento com um ser anormal, inteiramente diverso de quantos, até então, me haviam passado pelos olhos. 

 — "Venho attrahido por uma força astral, pelos seus versos electrisantes, que não parecem de mulher, e, muito menos, de menina!" Referia-se, assim o poeta, a dois trabalhos inclusos no meu "Crystaes partidos" — "Falando á Lua" e "Rosas" — que tivera occasião de ouvir declamar numa festa íntima; e suas palavras de lisonja, que me deveriam ser agradaveis, desagradaram-me por completo. Duvidei-lhes da sinceridade: aquelle homem, que vinha de meios jornalísticos, que privava com poetas, mais me parecia um aventureiro amoroso que um admirador intellectual. Havia momentos em que o detestava até, considerando-o um profanador da minha poesia simples e sincera, da minha mocidade misera e orgulhosa. Fugia-lhe, então: e rasgava os meus versos para que elle os não lêsse e trancava-me na minha alcova para que elle não me olhasse.

Com o decorrer dos dias e, a sua persistente frequencia á nossa casa, pude, então, observal-o: maravilhosa transfiguração! Aquelle homem personificava o Bello-Horrivel, era uma tragedia viva.

De um nervosismo doentio, á primeira analyse, parecia um comediante, um exagerado, tal a gesticulação em que lhe entravam, a um tempo, em jogo cabeça, tronco e membros, destacando-se-lhe do conjuncto exotico do physico a belleza caracteristica dos cabellos crespos, revoltos, que pareciam, ás vezes, a continuidade dos seus pensamentos, cabellos de um trevor como que illuminado pelas projecções do seu espirito e os olhos grandes, inquietos, mobilissimos e brunos como passaros noctivagos.

Num paiz em que os juizos literarios estão, quasi sempre, na razão direta dos recursos pecuniarios dos autores, em que é assaz conhecida a "associação dos elogios mutuos", muito, irrisorios e suspeitos deverão ser os adjectivos traçados pela minha penna, relativamente a um poeta que foi meu marido. 

Não é, porém, a affeição pelo morto que me impelle a escrever estas linhas, mas sim a admiração pelo collega que conheci mais que todos e mais que todos tenho portanto o dever de lhe exaltar o talento.

Da verdade das minhas palavras digam, aos olhos dos que sabem sentir, os rythmos destes versos:

CANÇÃO DE HINVERNO

Rodolpho Machado

Nestas, de hinverno, noites tão frias,
quasi não pulsa teu coração...
De mim distante, como estarias?
— Toda de gelo tu ficarias,
qual uma estatua na solidão.

Corre, assovia, atravessa o Vento,
retorce o arbusto, remexe a rama...
Até parece que um pensamento
elle nos traga, de quem nos ama.

Teus finos dedos, inteiriçados,
são dez agulhas de alvo marfim;
frios e brancos, dedos gelados,
que o azul carinho dos teus cuidados
tanto teceram por sobre mim!

Da noite escura no largo espaço,
que linda brilha longinqua estrela!...
Aperta os olhos, faze o que faço,
aperta os olhos, si queres vel-a...

Sob essa cassa do teu vestido
(não te enrubeças ao me dizer)
teus frios seios, num só tremido,
quaes duas rôlas dentre o tecido,
em vão procuram adormecer...

Jesus, que frio! Mas, na Inglaterra,
dizem que o frio tem fino gume,
pois, sempre o filho daquella terra
chegando o hinverno, procura o lume.

Teu roseo beijo como se some!
— Alba, teu beijo não tem sabor.
O frio hinverno tudo consome...
Job eu me chamo: mudei de nome...
aguardo a esmola do teu amor...

Em todo caso somos felizes;
que importa o frio, si estamos juntos?...
Penso, à delícia do que me dizes,
nos que, sósinhos, ficam defuntos.

Como a serpente foste nervosa,
tinhas o fogo na luz do olhar;
mas, hoje, apenas, assim, medrosa,
tens da serpente mais preguiçosa
a pelle fria, de arrepiar...

Morrer distante do amado peito
é morte dupla, ninguém resiste...
Morrer, sósinho, num frio leito,
morrer sósinho... que morte triste!...

A confidência que me revelas
sôa tão debil que lembra um ai;
e todas, todas são amarellas
tuas palavras; iguaes àquellas
folhas que o vento levando vae...

Alguem, lá fóra, geme, á nortada;
de ir em socorro tenho vontade:
mas, si tu ficas abandonada,
como fazer essa caridade?!...

Qual uma branca, marmorea bola,
Lua tão linda vae a subir!...
e no ar dormente se desenrola
frio tecido que nos consola,
e uma carícia nos faz sentir.

O luar nos molha... fecha a janella.
Ha um frio estranho na luz da Lua.
Fez-se mais alva, fez-se mais bella,
de luar lavada, a deserta rua.

Na larga colcha da nossa cama,
de grandes flores de gyrasol,
a luz da Lua, que se derrama
em fina, fria, fluidica trama,
põe sobre a colcha branco lençol.

Ao vir da Lua, mais frio agora
vejo que sentes... eu tambem sinto...
Porque não dizes, aqui, nesta hora,
que me consentes... — "Oh! si consinto!..."

Nestas, de hinverno, noites tão frias,
quasi não pulsa teu coração...
De mim distante, como estarias?
— Toda de gelo tu ficarias,
qual uma estátua, na solidão."

Não é este, porém, o genero predominante na poesia de Rodolpho Machado; mais pensamento que sentimento, seu pendor para violencias, para tragedias, acha-se bem manifesto em sua obra literaria, principalmente na prosa, em que todas as suas páginas gravam entrechos empolgantes.

"Longe da civilização" — livro que a vida lhe não permitiu terminar — mesmo, assim, incompleto, enfolha tragedias inéditas, em que a nossa natureza apparece descripta com verdadeira eloquencia, em toda a sua belleza rude. "Divino Inferno" deixa, logo entrever, pela expressão paradoxal do título, quanto encerra da delicia torturante da arte, do claro-escuro do amôr, do contradictorio da existencia.

Impossivel seria definir quando o poeta conversava ou declamava; suas palestras eram cheias de symbolos, de interjeições, de superlativos, como suas producções poeticas.

Sendo um apaixonado pela forma, um insaciavel de belleza, vivia modificando, apurando os trabalhos; e são innumeros aquelles que inutilisou, depois de dados à publçicidade, em revistas e jornaes. Vibrava a cada instante, falava muito, escrevia pouco e quasi nada aproveitava do que escrevia, tendo sempre em perspectiva a elaboração de uma grande obra.

A paixão pela forma não conseguiu esfriar o fôgo dessa alma rara: longe de ser um parnasianao, embora nas páginas deste livro figurem trabalhos como "Ballada do Arôma", "Ar livre", "Ressurreição do Dia" e outros, que podem figurar, pela perfeição, junto aos dos mais notaveis cinzeladores da poesia, Rodolpho Machado se fez um poeta simbolista, de subjectivismo profundo e alto sentimentalismo.

Como quasi todos os grandes homens, era de natureza extravagante, morbida, atrabiliaria, de uma irascibilidade que nos infelicitou a ambos. Poeta, porém, depois de Castro Alves e Olavo Bilac, não sei de outro que o ultrapasse na radiação dos pensamentos, na justeza das expressões, na musica dos rythmos, na eurythmia das estrophes.

Para documentar o meu juizo, é bastante que escolha, dentre o profuso destas pedrarias, este punhado de gemmas que compõem  seu "Plenilunio".

PLENILUNIO

Rodolpho Machado

Fria e nevoenta luz clareia o espaço mudo,

Paira o silencio abrindo as azas dormideiras.

O ar ambiente contém maciezas de veludo...

Lembra a terra um convento; as arvores são freiras,

rezando, na mudez magnetica desta hora.

Descerra o olhar a estrella e, cada estrella, espera,

pelo estranho fulgor de uma nocturna aurora...

Ergue-se, pouco a pouco, a algida e branca esphera,

entra do arqueado céo na larga immensidade

— aeronave do Sonho em rumo da Saudade.

Rolam rendas de luar sobre a Noute dormente...

e, tal dentro de um templo as espiraes do incenso,

do lyrio, óra tornado em thuribulo albente,

sobe o perfume e paira, ondulando, suspenso...

O écho da voz de Deus desce atravez da Brisa

e, sob o pallio azul, por toda a Natureza,

em tremula surdina, entre as cousas desliza...

O Oceano acorda e reza a oração da Tristeza;

a Lua sobe mais... cessa do Vento o açoute...

— morta rainha sobre a eça negra da Noute!

Da etherea Babylonia, erguido e curvo, no alto,

é todo o Firmamento um jardim luminoso...

Aureas constellações, ó gemma astral que exalto,

para os extases do olhar parado do meu Gôso!

Estrellas immortaes — embalsamadas flôres:

Sirius, Aldebaran, Arcturus, Venus linda!

os petalos abrindo em rutilos fulgores

— crysanthemos de luz da Primavera infinda!

e, entre todas, a Lua, então, que no ar fulgura

é a camelia glacial desse jardim da Altura!

De cada ser se eleva o olhar ao globo frio

que no alto resplandece; e as almas, extasiadas,

vão ouvindo, num vago e estranho murmurio,

a voz da luz falando em cousas ignoradas...

e, emquanto, em longo pasmo, os olhos são volvidos

á abstracta Biblia Azul escripta em letras de ouro,

da Noute a sombra vae absorvendo os ruidos 

esquecida ao pallor do celico thesouro,

— frio, nocturno sol de gelatineo rastro

— alma, talvez, de Deus, transformada num astro!

Bizarra sensação vibra em toda minh'alma!

Lua — espelho da Magua — opala imensa e bella!

— bussola da Illusão — chronometro da Calma!

— aguia morta na paz da transparente umbella!

Do ether na fria chuva o luar meu corpo banha

e tropego, absôrto, entre arrepios ando...

Olho em tudo em redor sob brancura estranha

numa allucinação phantastica pairando...

                 tonto de luz arranco

hystericas visões de um pesadello branco!

Ha uma festa no céo... um baile estranho... os anjos

passam por entre incenso e nuvens vaporosas,

tangendo, em aerea ronda, harpas, lyras e banjos

coroados de jasmins, de lyrios e de rosas...

E a musica macia e etherea ondula e desce

pelas pautas do luar na celica amplitude...

e mais a paz nocturna em toda a Terra cresce,

minha audição de poeta, em sonhos, mais se illude,

e em meio do silencio em que ha tanta harmonia,

o luar é a serenata eterna da poesia.

Plenilunio! Entre neve erra agora meu Sonho

na apotheose da Luz, erguida no Infinito!

O' vertigem do Branco! o' phantasma tristonho

do primitivo Dia! o' Mãe de todo o Afflicto!

o' idéa da Tristeza! o' fluidica cascata

que vens molhar á noute em lagrimas de prata.

Lua — morta illusão que a urna do céo encerra!

                 Pharol do meu inferno!

Arca cheia de luz nesse dilluvio eterno!

Dorme dentro da Tréva o espírito da Vida!

inda o beijo solar no rochedo perdura;

inda paira o queimor na floresta dormida;

Sobe um vapor do Mar contido na agua escura...

é o derradeiro gráo da febre intensa e rubra

que o ser fecunda, inflamma, enrobustece, anima;

pois, de longe, afinal, sem que a Noute descubra,

o Alchimista do Espaço os olhos deita em cima

da Lua... e a Lua, então, mais se illumina e eleva;

lente em que o Sol observa a gestação da Tréva.

Entre scismas recordo o tempo primitivo;

cultos, adorações, velha crença dos povos...

fé, que estimula o Sonho e faz o homem captivo,

abrindo a rosa ideal dos pensamentos novos!

Vejo através desse astro a procissão dos annos,

levando o antigo andor dos seculos profanos

sinto a magia, o kratú, evocações, cantigas,

bruxas, fadas de luz... tudo é resuscitado...

— marmore do sepulchro onde jaz o Passado!

Noctambula do Ideal! — minh'alma se transporta

ao Sahara onde paira essa esphinge sublime!

Lua — dôr em silencio! o' dôr calada e morta!

— memoria para o Amôr — remorso para o Crime.

Horas que as tenha eu sempre e, assim, possa perdel-as,

noctivago movendo á serenada o passo,

emquanto brilha, em cima, o cravo das estrellas

que prende o toldo azul do Colyseu do Espaço!

Luar — tunica de luz que o Firmamento veste!

Lua — medalha astral no seio azul-celeste!

A insaciabilidade artistica e as preoccupações materiaes da vida fizeram com que, morrendo aos trinta e nove annos, não chegasse a realisar o poeta a obra que lhe vivia na imaginação. Era um orgulhoso do proprio merito, um consciente da futura gloria, burilando sempre os versos, na ancia de apresentar ao publico um livro definitivo de perfeição. Dentre as producções que figuram nesta obra, algumas inclui que o autor havia repudiado, por julgal-as capazes de consagrar um poeta. São ellas: "Lyrismo", "Papoula", "Canção de hinverno", "Tristeza do Relogio", "O Homem", "A Voz da Natureza", "Morta", "Por amor de uma estrella", "Tristeza dos bois" e "Hymno ás arvores".

Apesar de estarem estas paginas cheias de visões da morte, o poeta amava apaixonadamente a vida.

Não sei a qual de nós coube melhor destino: a elle que, neste momento atravessa o Desconhecido, arrebatado em pleno sonho ou a mim, que me fiquei, com uma já velha desillusão, na tristissima tarefa de invocar o Sonho ainda, para dispôr as pedrarias que me ficaram neste "Divino Inferno", como o mais pungitivo e precioso dos legados!...
                                                                                                                                                                                                                                                       GILKA.  

OUTROS POEMAS DE RODOLPHO MACHADO

LYRISMO
Rodolpho Machado

Tua pequena casa lembra um ninho
num jasmineiro em flôr;
e tu, lá dentro, és como o passarinho,
que, ao vir do Sol, pelo romper da aurora,
mal despertando, faz ouvir por fóra
uma canção de amôr...

Tua casinha, olhada bem de frente,
tem visos de um pombal...
quanta poesia aromatisa o ambiente!
— ao ouro da matinea claridade,
azas bates lá dentro de anciedade,
ó minha pomba ideal!...

Tua pequena casa é um cofre antigo
que uma joia contém...
ver-te nem mesmo sei como consigo!
Tão retrahida em teu abrigo puro,
como clareias todo meu futuro,
que luz de ti me vem!...

Tua pequena casa, de tão linda
é um casulo taful...
e tú, lá dentro, és a lagarta ainda,
que se prepara num desejo brando,
para sahir em claro dia, voando,
qual borboleta azul...

Tua casinha é uma amphora exquisita
contendo o vinho Cós...
Só de a lembrar meu cerebro se excita,
e, dentro della, que embriaguez de sonho,
quando em tua belleza os olhos ponho,
quando te escuto a voz!...

A tua casa já se não semelha
a uma colmeia: é egual;
e nella tu és a mais estranha abelha,
por cuja vida hei de morrer um dia,
seguindo-te no vôo da poesia,
no alto surto nupcial!...

Tua pequena casa lembra um ninho
num jasmineiro em flôr...
e tu, lá dentro, és como o passarinho,
que, ao vir do Sol, pelo romper da aurora,
mal despertando, faz ouvir, por fóra,
uma canção de amôr...




SPLEEN
Rodolpho Machado

A Vida é que nos vive e, assim, nos gasta
quando a sonhamos sem poder gosal-a,
quando a sentimos sem jámais tocal-a,
quando a queremos e ella nos afasta...

Para viver-se a Vida não só basta
tel-a no olhar, no coração, na fala...
Vivel-a é bem sentil-a em tudo e amal-a,
amal-a como mãe e não madrasta.

Não sendo assim é ella que nos vive,
até que um dia farta e já cançada
nos despreza, sem forças,  num declive...

E inuteis, sob a treva deleteria,
sem ter vivido, entramos para o Nada,
com a esperança gelada na materia.




A TRISTEZA DO RELOGIO
Rodolpho Machado

(De 1908 para 1909)

Qual um tysico, assim, que as illusões primeiras,
fanadas illusões, num sonho, as tem fugindo,
á meia-noute ouvi, desse anno velho e findo,
soluçar meu relogio as horas derradeiras.

E eu que sempre o escutei, manhans, tardes inteiras,
calmo, no seu tic-tac, o tempo dividindo,
por ouvil-o em tal noute, estremeci, sentindo,
como que um chôro atroz de doze carpideiras...

Então, saudoso e absôrto, entre sombras e fraguas,
a rêde da Lembrança abri sobre o Passado
e colhi pelo escuro as fallecidas maguas.

Ah! e o relogio embóra ouvisse tantas vezes,
jamais tão triste o ouvi bater, lento e maguado,
no extremo funeral dos Dias e dos Mezes.



(De 1909 para 1910)


Não tarda: vae falar para o Silencio. Fóra
no viveiro da noite erram aves de agouro;
vão pyrillampos no ar, com finas linhas de ouro,
bordando os mantos reaes para os festins da Aurora.

Ha pelo espaço-ambiente um profundo desdouro...;
Sobre o leito do tempo o velho anno estertora...
Sonho? — não sei si sonho: o certo é que nesta hora,
vejo sobre um sepulchro uma palma de louro...

Sinto que dentre um riso uma lagrima desce,
ante o fim desta noite e a esperança dos dias...
oh! a nova illusão com que a Illusão se esquece!...

Fala o Relogio, enfim: "Doze horas... desenganos...
doze meses — collar de maguas e alegrias...
ah! como inuteis são horas e dias e annos!..."





PAPOULA
Rodolpho Machado

Túmida e rubicunda, a côr que a exalta grita,
em metallicos sons, como um clarim vibrando!
— Flôr que estimula, inspira, enthusiasma e indigita
a alma a ver numa lança um coração sangrando.

Delirios, convulsões, odios febris, desdita
de um grande amôr fatal, tudo recorda, e, quando,
ao sol-pôr, sobre o hastil, ella adormece afflicta,
creio-a numa explosão de lagrimas chorando.

Papoula — floreo cancro ardendo em rubras dôres!
chaga do terreo ciume aberta ás outras flôres!
sangue, coalhado em flôr, da hemoptyse dos Poentes!...

Nella a tragedia narra as concepções do Bello:
olho-a e fico a sonhar que as torturas de Othelo
rugem-lhe no esplendor das petalas rubentes.

HYMNO ÁS ARVORES
Rodolpho Machado

Ver-vos não só me basta, inda mais quero: amar-vos;
somos partos eguaes da procreação da Terra;
não nos pode impedir a estupidez dos parvos
este amôr, nosso amôr que a liberdade encerra!
Saudemo-nos, então, minhas bôas irmans,
bebendo a luz do Sol na taça das manhans!

Amar-vos é possuir o estímulo dos nervos,
é viver a vibrar, sempre feliz, contente;
pois, para vos ter perto e sempre conhecer-vos,
farei cahor na terra o germen da semente.
Por vós empregarei meu braço resoluto,
que me dareis, mais tarde, o alimenticio fructo.

Erguido o tronco, enfim, na exubere rudeza,
e ao tremulo sorrir das folhas e rebentos,
terei, no eterno templo ideal da natureza,
a victoria do esforço e dos trabalhos lentos.
por vós eu gosarei da excelsa gloria — o Bem,
que, provindo de mim, de vós, assim, provém.

Ter-vos é ter o amparo, o abrigo do futuro,
tendo para o amanhan a tenda do descanço;
que intermino se torne o nosso affecto puro
e universal se faça o culto em que me lanço!
Hoje ponho por vós o meu trabalho em jôgo,
que um dia me dareis o necessario fôgo.

Sentir-vos é gosar a flôr que em si resume
um osculo de amôr — o vosso beijo agreste;
é ter no narcotismo estranho do perfume
o sonho da estação que de illusões se veste.
Vós me dareis a sombra, e, sob a sombra, então,
eu dormirei, feliz, calmando o coração.

O' arvores vós sois no interior desse templo
os symbolos da paz, da communhão fraterna,
o producto da união, o universal exemplo,
o estandarte vital de uma victoria eterna!fui 
no pezado sopor que torna o corpo exangue...
Trabalhar é viver, é conquistar, seguir,
pela estrada de luz que nos leva ao Porvir.

Assim, por todas vós minha alma sempre erguida,
cantará sob a luz o hymno da Liberdade!
Que se una a minha vida á vossa calma vida,
dentro da cathedral azul da Immensidade!
Cumpramos, na mudez das forças combinadas,
as leis que nos estão ha muito destinadas.

Não nos pode impedir a estupidez humana
este affecto assim puro, este affecto sublime;
a razão é uma força intensa e soberana
que apresenta a Virtude e faz tombar o Crime.
Nosso amôr se contempla em face, natural,
na verdade — o alvo e antigo espelho de crystal.

Amar-vos-hei, portanto, emquanto vivo, e, tendo
retornado ao que fui na evolução da Sorte,
inda por vós serei — homem — me desfazendo,
na decomposição periodica da Morte.
Arvores que reputo amigas superiores,
absorvei minha seiva e transformae-me em flôres!...





O HOMEM
Rodolpho Machado


             A Gonzaga Duque,


Essa trazendo alfim, — fórma que indo o acompanha,
Quando Elle appareceu no circulo da Vida,
Esquecido, afinal, do ponto de partida,
Teve por pae o Sol — e Mãe, a Terra estranha.

E, certa vez subindo á grimpa da montanha,
Olhou o Céo, o Mar, a Pedra adormecida...
E sentindo, pasmado, a idéa entristecida,
Achou-se com a visão que as coisas acompanha.

Estão, ouvindo o Vento a remexer num ramo,
Ao Vento perguntou na curva do Universo:
— De onde surgi? — Quem sou? Dizei como me chamo?

E ante o silencio atroz não conteve a vertigem:
— Cahiu, rolou por fim na propria sombra immerso,
E a Duvida pairou na escuridão da Origem.





A VOZ DA NATUREZA
Rodolpho Machado

Como dentro de um templo, ha sempre pela matta
um ciclo, um cochicho, um murmuro segredo
que diz o insecto á folha e atravessa o arvoredo,
e, do arvoredo, desce ás grutas e á cascata;

que a agua, em linguagem fria e liquida, relata
ao musgo, e o musgo, após, vae passando ao rochedo...
e, assim, radie o sol, surja a manha que, cêdo,
dentre a selva essa bulha em tudo se desata.

Em tudo esse rumor; de cada canto, em cada
lado, da planta e da ave, alegremente, inquietas,
ha uma fala saudando a luz da madrugada.

E' a voz dos seres, penso, a nós incomprehendida,
a voz da Natureza, as palavras secretas
da communicação espiritual da Vida.






POR AMÔR DE UMA ESTRELLA
Rodolpho Machado

I

Céo nublado. Por fóra, á serenada,
Coaxavam rãs no charco verde, abjecto;
Que aspecto horrendo, que mortal aspecto
O dessa Noute que nos foi passada?

Mau tempo, embora, a nossa estrella amada
Buscaste; — astro da Noute, predilecto,
Urna de luz que guarda o nosso affecto,
Contendo a nossa inspiração guardada.

E ella, distante, como que desperta
A' tua voz, as palpebras tranquillas
Abrio, de cima, vagamente incerta...

E, emquanto o olhar no Céo tinhas por vel-a,
Vi-te no fundo escuto das pupillas
A imagem de ouro da longinqua estrella.


II

Quando pela janella, essa cortina escura
da Noute se desdobra, em seu negror, cahindo,
Longe, longe, bem longe a estrella, então, subindo,
Lembra uma conta azul na solidão d'Altura.

Sóbe, cresce-lhe o brilho, a luz se faz mais pura;
Busco-a. E, commigo, alguem, o meu sentir, sentindo,
Ergue os olhos por vel-a, ao Céo curvado e lindo,
Onde, dentro da Noute, ella no azul fulgura.

Por nosso amôr astral, a sós, então medito;
Mas, tão sosinho agora, em pleno isolamento,
Pelo meu Sonho a estrella é a dôr de uma agonia...

E´a lagrima de luz que rola no Infinito,
A lagrima do Solque cáe no Firmamento,
Ma hora em que a Tarde fecha as palpebras do Dia.


III

Fecho os olhos de longe e penso em ti, Querida,
Hoje, qualquer rumor me acorda, me estremece;
— E´a ampulheta clara onde me corre a Vida,
Desde o romper do Dia até quando anoutece.

Mal a noute descerra a rosa indefinida
Dos mysterios, ness'hora em que tudo adormece,
Por meu amôr, por nosso amôr, por ti nascida,
— Flôr nocturna do Céo — a estrella me apparece.

Amo. Quem ama em tudo encontra o que tanto ama,
Em tudo vê de perto o que paira distante;
Assim, se busco a estrella, o teu olhar me inflamma...

Sonho. E dentro do incenso azul em que te vejo,
Dos labios teus me vem, na illusão deste instante,
A extrema-uncção do Amôr na hostia pura de um Beijo.




MORTA
Rodolpho Machado

Essa creança loura e pequenina,
que agora vejo no caixão deitada,
foi como a flor que nasce purpurina,
e se desfaz, do vento na esfolhada.

Alma que, da minha alma irmã sagrada,
a Parca arrebatou na ancia ferina!
de olhos vagos abertos para o Nada,
que linda fronte entre jasmins se inclina!

Eu, que carrego o coração suspenso
numa violenta dôr que o pranto estanca,
em longo sonho, com tristeza, penso:

ganhando o espaço com divina calma,
levou sua alma uma saudade branca,
roxa saudade me deixando na alma.



SERENATA
Rodolpho Machado

O eter do luar a Terra adormecei... A esta hora,
o silencio supplica as vozes de quem ama.
Vem a mim, meu Amôr! cada estrella te chama,
e aguardam rua sobra as sombras, cá por fóra.

A insomnia da paixão me hallucina e devora,
arde-me todo o sangue, o peito se me inflamma,
o calor do teu corpo o meu corpo reclama,
como reclama a Noute o almo fulgor da Aurora!

Oh! vem, não tardes mais! quero sentir-te nua,
conforme no ar, em meio às tranças luminosas,
assoma o corpo brando e hysterico da Lua!

Dá-me o sensual prazer dos teus virgens desejos
e terás, ao perfume embriagador das rosas,
o inédito sabor da febre dos meus beijos!




A ULTIMA CIGARRA
Rodolpho Machado

Da paysagem extatica, no fundo,
o Occaso, em chammas, arde,
suggerindo a visão
de um incendio a lavrar, na solidão
monastica da tarde.

Numa ascensão monotona de fumo,
do céo no concavo profundo,
rolam rolos nubivagos, sem rumo...

Um socego morno e largo
envolve tudo,
num descanço,
manso,
de lethargo.

Langue,  
numa exhaustão de nervos e de sangue,
na metriopathia
em que a deixára o Sol,
através da penumbra a Terra espia
a luminosa orgia
do Arrebol.

A Natureza, em extases, parece,
que, dentro de uma prece,
o soccorro de Deus neste momento exhorta,
e, nas azas da Fé, a sua alma se transporta,
buscando o rumo ideal de um bem desconhecido...

Trapo de sombras desprendido
— um bando
de aves escuras,
passa voando
e arrepiando
o velludo
do silencio das alturas.

No valle, as arvores, paradas,
abandonadas,
pensativas, mysteriosas,
nas suas conjecturas de infelizes,
vão torcendo na terra os dedos das raizes,
como as mulheres timidas, nervosas...

A um surdo ruido
que, de repente, lhes toca o ouvido,
ellas, surpresas,
num gesto lento e lasso, de tristezas,
mollemente tremem...
gemem...
depois, aos poucos socegando,
ficam absortas, escutando.

Um corpo esguio,
cinzento e leve,
como uma bala certeira
descreve
um traço
no espaço...

Pouza a cigarra derradeira:
perambulante,
bucolica cantora
que, pelo Tempo, fôra
contractada
para cantar, durante
a temporada lyrica do Estio,
as operas de Luz.

E, emquanto a varzea quieta se traduz
num desmaio de sombras e de calma,
ell a su'alma
harmonioza e inspirada,
pela matta
desata.

Canta!
e em seu cantar ha tanta
melodia
que o ultimo raio tremulo do dia
nessa hora bruna, mystica e tranquilla,
alonga-se da altura para ouvil-a.
Canta...

traz na voz expressões originaes,
e, artista de azas, principia
a vibrar a aria azul da Ave-Maria,
para a fina audição dos vegetaes.

Sobe uma escala,
tremúla,
modúla,
abemóla, afina
e, numa surdina
dolente,
languidamente,
cala.

Ao écho que se perde
como um lenço, a fugir, no adeus de uma saudade,
das arvores se eleva á immensidade
um suspiro longo e verde... 

De novo o canto rompe, sôa...
Agora é histerico, nervoso,
— um grito doloroso
que rebôa.
E neste ermo scismatico e tristonho,
indo e vindo,
zumbindo, zoando, zunindo,
corre, erra,
resôa na serra
a voz bizarra
chilreante,
estridulante,
da cigarra.

Oiço-a e, na suggestão pathetica de um sonho,
cuido sentir
uma corrente exotica e soante,
a subir
e a ondular
pelo ar...
Na quietude claustral
de uma fronde escura,
ella, afinal,
numa rizada de loucura,
a ultima nota despetála
e estanca, e estála
como um bejo frio
da lethal despedida
da vida
do Estio.

Da etherea curva,
então,
pulverizando a amplidão,
a Noute principia
a cahir, lenta e macia,
fina, frouxa, morna e turva,
como a cinza final dos escombros do Dia.

O poeta Rodolpho Machado teve dois de seus  sonetos inclusos na coletânea editada pelo poeta JG de Araujo Jorge em “Os mais belos sonetos que o amor inspirou”, publicação feita em 1963.  

Amor é a febre da alma em toda a natureza;

tudo o que os lábios meus sentem nos teus, unidos,

- loucura emocional de todos os sentidos,

- fascinação da Forma, atração da Beleza.

É a surpresa num grito e o pasmo na surpresa;

a saudade imortal nos olhos dos vencidos;

o eterno ideal que encerra os bens desconhecidos;

o riso da Alegria e o pranto da Tristeza.

Homem, árvore, pedra - os seres, finalmente,

esse fluido vital, percorrendo, eletriza,

despertando a matéria e a alma tornando ardente.

Amor (não crede a morte o acabe sob as lousas...)

é a nevrose que anima e que sensibiliza

a Vida, para a Vida, entre todas as cousas.

*****************************************

Sem um adeus! Somente a dor sombria

de te perder... e, olhando para trás,

ante meus olhos Paquetá fugia,

amortalhada em brumas hibernais.

Nem um adeus! Sem teu adeus, partia

condenado a remorsos imortais...

Que diga o coração... quanta agonia,

que ânsia, que desespero em horas tais!

Do mar sentindo, então, o abismo fundo,

amei a morte e, odiando a vida e o mundo,

sorri à idéia de deixar de ser...

Mas que loucura, que ilusão, querida!

Deixando a minha vida em tua vida,

fôra-me inútil desejar morrer.

*****************************************

 
CONTINUA GILKA MACHADO...

"O grande poeta e homem puro Pereira da Silva, padrinho de minha filha, arranjou-me um lugar de diarista na Estrada de Ferro Central do Brasil. O salário não supria nem um terço das despesas das minhas crianças. Exausta dos caminhos inutilmente percorridos, pensei, pensei muito, e uma idéia me ocorreu: abrir uma pequena pensão. Foi ainda Pereira da Silva que me auxiliou na obtenção de crédito para as principais despesas. Moça corajosa e sadia, assumi com fé e esperança a nova faina. Entendia de culinária, e por muitos anos fui também cozinheira da minha bendita pensão.

Uma revista, O Malho,  lançou um plebiscito: queria eleger a maior poetisa brasileira. Duzentos intelectuais, os melhores do momento, seriam eleitores escolhidos. O voto seria nominal. Venci por grande maioria. Algo de estranho acontecia e sorri orgulhosa dos colegas que votaram em mim sem que eu solicitasse. Era eu a mais pobre, a de nenhum prestígio social e já então matrona (2). Vencera. Uma nova mentalidade surgia.

Meu filho, que desde estudante fazia parte do quadro de trabalhadores da Prefeitura, formou-se em Direito e mais tarde alcançou o quadro de assessor jurídico do Estado da Guanabara. Minha filha, formada em bailado clássico, baseada no folclore, criou o bailado brasileiro. Tornou-se famosa no Brasil e no estrangeiro, e foi nomeada professora de Coreografia do Serviço Nacional de Teatro do Ministério da Educação e Cultura. Foi essa a minha maior vitória: ter dois filhos exemplares. Por certo não lhes dera o que desejaria dar, o que eles também desejavam, mas nunca lhes faltou o conforto e o carinho."


(2) - Gilka Machado contava 38 anos a essa época.

A ARTE DE EROS VOLÚSIA

(1914-2004) 

Heros Volúsia Machado (1º de junho de 1914 / 1º de janeiro de 2004) nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristovão. Seu talento artístico sofreu grande influência familiar, pois era filha do poeta Rodolfo Machado e Gilka Machado, simbolista e eleita "a maior poetisa do Brasil" em 1933, seus avós maternos também possuíam habilidades artísticas: o avô, Hortênsio da Gama Sousa Melo, era poeta e sua avó Teresa Cristina Muniz, atriz de rádio e teatro.

Desde a infância, conviveu com figuras renomadas da intelectualidade brasileira do início do século XX, dentre escritores, poetas, músicos e outros expoentes da arte nacional, como Arthur Azevedo, Coelho Neto, Olavo Bilac, Carlos Gomes e Chiquinha Gonzaga e também o jovem escritor Nelson Rodrigues, vivenciando toda a profusão de idéias de vanguarda que fluíram a partir dos anos 1920.

Eros foi aluna de Maria Olenewa (bailarina russa que integrou a companhia de dança de Anna Pavlova e naturalizou-se brasileira, tendo sido a responsável pela organização da escola de dança e do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro), na então Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, hoje Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. Eros estreou no Teatro Municipal e pouco depois podia ser considerada a inventora da dança brasileira.

O poeta Augusto Lima, depois de vê-la dançar a Morte do Cisne, Lenda de um Beijo e Agonia da Saudade, disse: "Aquelas pernas inquietas estavam firmando os alicerces do bailado nacional." Em sua primeira apresentação no Teatro Municipal, em 1929, onde participou de uma homenagem ao então presidente Washington Luiz, a bailarina apareceu dançando descalça, acompanhada por violão e batucadas, atitude inusitada e ousada até aquele período, tendo em vista as tradições daquele espaço. 

Historicamente, as primeiras décadas do século XX no Brasil foram períodos de construção de uma identidade e de valorização da mestiçagem. Eros Volúsia vivenciou toda esta profusão de idéias de vanguarda que fluía neste período: Semana de Artes Moderna, Gilberto Freire com o trabalho Casa Grande & Senzala, Getúlio Vargas e a política desenvolvimentista. E foi nesse contexto de nacionalismo crescente, de turbulência e novas propostas de interpretação do Brasil que Eros criou uma nova estética, incorporando novas metodologias na dança, teve a inteligência e sensibilidade de mesclar as danças populares nacionais à técnica clássica. 

A singularidade de seus movimentos criou identidade própria para sua dança, expressando a diversidade cultural que pulsava e que percebia suas raízes no híbrido, na miscigenação. Bailarina que uniu balé clássico e ritmos brasileiros nos anos 30 e 40, intitulada como Isadora Duncan brasileira, inspirou-se na natureza e na cultura do país, imprimindo na dança, de maneira pioneira, traços das raízes nacionais. Levou pela primeira vez ao mais tradicional reduto clássico do balé, o palco do Teatro Municipal do Rio, um bailado de contorno popular. 

A primeira bailarina a dançar samba de sapatilhas. Usava trajes de baiana com a barriga de fora, apresentava-se em cassinos e boates do país. Imprimiu ginga aos quadris e criou movimentos coreográficos sobre ritmos brasileiros como Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, Brejeiro, de Nazareth e Mignone, Eros Volúsia chamou a atenção no Brasil e no exterior. Um momento decisivo de sua carreira foi a apresentação, no Municipal carioca, em 1937, de uma coreografia solo acompanhada pela orquestra regida por Francisco Mignone.

Sua carreira ascendeu com a celeridade que suas virtudes artísticas bem mereciam. Seu espírito criativo e as influências intelectuais que assimilou desde a infância, lhe constituíram em uma mulher além de seu tempo, uma novidade excepcional. Além dos atributos de natureza artística, Eros foi agraciada com uma beleza singular. Sua tez morena e seu corpo escultural, denotavam a brasilidade que tão bem incorporou em sua arte. A singularidade artística em que consistia sua dança, acabou por trazer-lhe imenso sucesso. Na edição de 22 de setembro de 1941, a revista Life publicou sua foto na capa, foi o quanto bastou para que se tornasse ainda mais famosa e requisitada.

Atuou em vários filmes nacionais: Favela dos Meus Amores (1935), Samba da Vida (1937), Caminho do Céu (1943), Romance Proibido (1944) e Pra Lá de Boa (1949). Mas sua fama internacional veio através de sua participação no filme Rio Rita (1942), uma comédia da Metro-Goldwyn-Mayer, dirigida por S. Sylvan Simon. Nesta película, apresenta-se numa cena que se tornou célebre, na qual utiliza temas afro-brasileiros em um número musical.

Até Carmem Miranda entrou no time dos admiradores e dela copiou os graciosos movimentos de braços que vieram a se tornar sua marca. Na França, onde se apresentou diversas vezes, ficou conhecida como “La Muse Sucrée”, devido a Volúsia, um monte nos Estados Unidos exportador mundial de mel. Sua mãe foi quem deu à artista esse nome original.

Eros Volúsia não era, decididamente, uma artista comum. Seu talento para a dança ia muito além da técnica clássica e ela fez de seu corpo um instrumento catalisador das inovações tão necessárias ao bailado brasileiro. Buscou na raiz do intenso processo de miscigenação, fruto de fatores sócio-histórico-culturais, os elementos essenciais para a construção de uma dança cuja singularidade de movimentos refletia não somente a diversidade de culturas, mas, sobretudo, a busca de uma identidade própria para a dança brasileira, influência do nacionalismo brasileiro então em voga.

Inaugurou o que seria futuramente conhecido por “dançarino-pesquisador”, que resgata a formação do conhecimento artístico – a técnica – com a sensibilidade artística, para além dela. Usava de todo recurso que o corpo podia expressar, com os movimentos de olhos, mãos, quadris, e na boca um convidativo sorriso. Cria uma dança alegre e híbrida, ao mesmo tempo brasileira e universal. Seu corpo era o instrumento da inovação. 

As danças místicas dos terreiros, os rituais indígenas, o samba, o frevo, o maxixe, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco foram algumas das fontes de pesquisa artística da bailarina. Suas coreografias eram caracteristicamente brasileiras: Amor de Iracema, Peneirando o fubá, Moleque capoeira, Cascavelando e O Guarani - espetáculo apresentado no Teatro Municipal e que teve a presença do presidente Getúlio Vargas e de seu corpo diplomático. Numa de suas coreografias ("Macumba") criou um movimento de cabeça até hoje imitado por grupos de dança folclórica.

Possivelmente Eros Volúsia foi, dentre as artistas de sua época, a que mais contribuiu para a superação, na área da dança, dos preconceitos relativos aos temas nacionais. Com seu apurado talento, ela foi capaz de incluir esses temas em seus esboços coreográficos, resultando em movimentos bem elaborados que expressavam a diversidade cultural brasileira, cujas raízes estão atiradas originalmente na América, Europa e África.

Em fases posteriores de sua vida, Eros permaneceu contribuindo com a dança. Foi professora do Serviço Nacional de Teatro onde criou o curso de coreografia. Sua contribuição a nacionalidade brasileira veio, nesta oportunidade, reafirmar-se: este foi o primeiro, dentre os cursos de dança nacionais, a aceitar bailarinos negros. Muito embora Eros Volúsia tenha contribuído enormemente para a cultura nacional, seu nome ainda reclama maiores atenções.

Em 2002, a Universidade de Brasília (UNB) criou o Centro de Documentação e Pesquisa Eros Volúsia, vinculado ao seu Departamento de Artes Cênicas. Em 2005, Roberto Pereira, professor de História da Dança e crítico de dança do Jornal do Brasil publicou a biografia intitulada Eros Volúsia. Solteira, sofreu um derrame cerebral na manhã do dia 31 de dezembro e veio a falecer no dia 1º de janeiro de 2004, aos 89 anos. (O Globo, 02/01/04)

Foi em uma das inúmeras entrevistas dadas à revista O Cruzeiro que Eros Volúsia sintetizou sua missão artística: — “Dei ao Brasil o que o Brasil não tinha, a sua dança clássica”.

FONTES: WIKIPÉDIA / WIKIDANÇA.NET / DOCUMENTÁRIO EROS VOLÚSIA-A DANÇA MESTIÇA



IMPORTANTE LEITURA
(transcrição a partir do link
http://www.uniblog.com.br/profpaulo/115486/eros-volusia.html )

profpaulo:políticaeducaçaoartefotoppeditoração

EROS VOLUSIA
Culturadança
Passista de sapatilhas


Nas décadas de 30 e 40, a bailarina Eros Volúsia incorporou ao balé clássico movimentos do bailado brasileiro. Hoje, aos 87 anos, a pioneira na pesquisa em dança no país será homenageada com coreografia e com a criação do Centro de Documentação e Pesquisa da UnB, que leva seu nome
Alethea Muniz
Da equipe do Correio

Nehil Hamilton: Eros Volúsia trouxe de presente para a UnB as sandálias douradas com que dançou em Hollywood.



Eros na capa da Life em 1941

Eros Volúsia Machado caminha devagar, com certa dificuldade, mas não pensa duas vezes antes de reproduzir os passos de Cascavelando, inspirados no rastejar dos répteis. Nem de mostrar os braços de Tico-Tico no Fubá, coreografia que fez para a música de Zequinha de Abreu e dançou no filme hollywoodiano Rio Rita, de 1942. ‘‘A Carmem Miranda dizia: ‘Vou imitar as suas mãos’. E eu respondia ‘pode copiar’, porque só se copia o que é bom’’, conta.

  Aos 87 anos, Eros é uma das figuras mais importantes da dança brasileira. Começou no balé clássico aos 4 anos, estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1937, e passou a criar as próprias coreografias com elementos das danças populares brasileiras. Dançou samba de sapatilhas, caprichou na ginga dos quadris. Levou para o Rio de Janeiro o frevo, o maracatu e o caboclinho de Pernambuco. Também os movimentos dos terreiros baianos. ‘‘Todo lugar que tinha dança, eu ia espiar.’’
  Espiou tanto que passou a ser considerada a criadora do bailado brasileiro, a Isadora Duncan deste país, embora a história ainda lhe deva o lugar que merece. Pela ousadia (usava trajes de baiana com barriga de fora e dançava em cassinos), não raro era confundida com as vedetes dos anos 30 e 40. ‘‘A Eros chega para a gente como uma bailarina exótica, mas ela era pesquisadora, no sentido que se tem hoje. Ela achava que o país tinha que ter uma dança própria’’, afirma a professora Soraia Maria Silva, do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília (UnB).

  Soraia reuniu tanto material quando possível sobre a carreira da bailarina carioca, filha dos poetas Rodolfo (1885-1923) e Gilka Machado (1893-1980). Livros, fotografias, vídeos, certificados. Arquivo que passa a integrar o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa em Dança Eros Volúsia, da UnB, que será fundado hoje, às 11h, no auditório da Finatec. A intenção é reunir vasto material sobre dança, catalogado e disponibilizado para consultas na Biblioteca Central da universidade.

  Na cerimônia de abertura, haverá reconstituição da coreografia Tico-Tico no Fubá, dançada por Soraia e pelas estudantes de artes cênicas Ana Vaz, Maíra, Maria Neves e Themis Lobato. ‘‘A Eros tem uma brasilidade enorme. Buscou tudo na fonte’’, diz Maria, enquanto tira a indumentária com colares de pedras, saia longa, salto. Os figurinos são semelhantes aos do longa-metragem norte-americano.


Sandálias douradas

‘‘O sentido dessa homenagem é resgatar a história da Eros. Vamos dar as mãos para o passado e agora ela vai encontrar o seu lugar’’, afirma Soraia. A professora só lamenta a falta de patrocínio para adquirir os documentos originais para o Centro — cerca de R$ 10 mil. Por enquanto, só há cópias. E uma preciosidade que Eros trouxe no último sábado, ao desembarcar em Brasília: as sandálias douradas que usou para gravar em Hollywood. ‘‘Esse salto foi idéia minha’’, conta Volúsia. ‘‘Eu sempre criei meus figurinos.’’
  As sandálias se assemelham às que ontem estavam em seus pés, também douradas. E os colares que usa lembram aqueles dos figurinos. A vaidade não se perdeu com a idade e a tranqüilidade é algo que paira em seus olhos. A bailarina vive no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, com o sobrinho Amaury Menezes. Nunca casou-se. ‘‘Segui os conselhos da minha mãe. Ela dizia que se eu me casasse, viraria escrava.’’ Teve pretendentes, e o coração balançou por alguns deles. ‘‘Mas queriam que eu parasse de dançar. Fiquei com a dança.’’

  Eros Volúsia foi capa da revista Life (1941) e chegou fazer conferência nos Arquivos Internacionais da Dança, em Paris, em 1948. No Brasil, participou dos filmes Romance Proibido (1944), O Samba da Vida (1937) e Caminho do Céu (1942). Um incidente marcou sua vida, afastando-a por algum tempo do palco. O navio que trazia a bagagem (figurinos, especialmente) de viagem aos Estados Unidos foi destruído durante a 2ª Guerra Mundial.
  ‘‘Ela veio de avião, mas teve um colapso. Ficou muito nervosa porque perdeu todo o acervo’’, conta Menezes. Depois disso, Eros dedicou-se à escola de dança que levava o seu nome, hoje extinta. Formou tantas alunas que perdeu as contas. A passagem dos anos não a faz melancólica. Quando se pergunta qual o momento mais marcante da carreira, Eros responde: ‘‘É estar aqui hoje’’. E olha para os banners com fotografias suas, das quais se lembra de algumas, outras lhe fogem à memória. Memória que será preservada em Brasília.


SERVIÇO HOMENAGEM A EROS VOLÚSIA

Fundação do Centro de Documentação e Pesquisa em Dança, hoje, às 11h, no Auditório da Finatec (campus da UnB). Com reconstituição da coreografia Tico-Tico no Fubá, homenagem à bailarina Eros Volúsia e vivência do músico e artista plástico Amaury Menezes. Entrada franca.


Artigo
Criadora do balé brasileiro
Soraia Maria Silva
Especial para o Correio

Sempre precursora, Eros Volúsia se alimentava na mesma fonte inspiradora dos grandes mestres da dança moderna internacional, como Isadora Duncan, Rudolf Laban e Mary Wigman. Como eles, desenvolveu uma linguagem muito própria, também expressionista, um expressionismo bem brasileiro.
  Volúsia é o nosso grande salto qualitativo, aquela que inaugurou a atitude de ‘‘dançarino pesquisador’’. Um fato importante para os brasilienses, sabe-se que em 1958, o primeiro espetáculo de dança realizado em Brasília (10 de outubro) foi com Eros Volúsia (no Brasília Palace Hotel).

  Eros Volúsia, ao criar sua estética do ‘‘balé brasileiro’’, com uma nova metodologia na dança procurou averiguar a formação do conhecimento artístico, além das linguagens já estabelecidas (o balé clássico), no seu processo de união e de integração do homem com informações primordiais de sua natureza primitiva. A bailarina acreditava ser tarefa da arte, não só o domínio das linguagens codificadas em que essa se propõe expressar, mas também da pré-linguagem, na qual a unidade perceptiva do artista atualiza, na obra realizada, a consciência coletiva e o conhecimento intuitivo. Sua dança apresentava uma preocupação estética de desenvolvimento do conhecimento/movimento nos seus novos meios/mensagens.

Com sua extrema sensibilidade criativa, a bailarina percebeu o poder de se cultivar uma memória ética/estética, quando através de suas danças recria ritmos populares como o frevo, o samba e a congada sob formas híbridas com outras técnicas de dança, como a clássica ou a expressionista (ela foi a primeira bailarina que ousou sambar com as sapatilhas de ponta). Essa atitude da bailarina pode ser considerada uma atitude de compreensão de uma grande possibilidade de desenvolvimento da linguagem artística na modernidade, ou seja a expressão híbrida. 
  Dessa profusão de imagens poéticas, de um Brasil mestiço, Eros recria no movimento dos seus olhos, de suas mãos, de seus quadris e de sua boca em eterno sorriso a cadência da dança híbrida, alegre, universal e brasileira. 

DOCUMENTÁRIO
EROS VOLÚSIA - A DANÇA MESTIÇA

AMAURY MENEZES fala de Eros Volúsia, sua tia.
 Na parede, o retrato de Gilka Machado, sua avó.


Num belo trabalho de resgate da Arte de Elos Volúsia, o escritor e biógrafo Roberto Pereira desenvolveu importante documentário, no qual, entre outros tantos, tem-se o seguinte sensível depoimento de
 Amaury Menezes:

"... na casa da Rua Pedro Guedes, na Tijuca, vivi com 3 grandes mulheres que sempre moraram juntas e que me conduziram artisticamente: Vovó Theresa (minha bisavó, mãe de Gilka Machado), a própria Gilka (minha avó, que eu chamava de "Gilka") e Eros Volúsia (minha tia), a quem tratávamos por picorrucha. Eros ensaiava no piano todas as músicas que iria dançar. Elas me puseram também para aprender a tocar piano. Vivi com elas desde o meu primeiro ano e, com Eros, vivi até os meus 25 anos, quando saí para me casar. Quando a saúde dela se tornou mais debilitada, ela veio morar comigo. Vivi meus 60 anos em companhia dela. Nestes 5 ou 6 anos de sua morte, sinto muita saudade dela..." 

O blogue Expressão Mulher-EM convida os Amigos a assistir:


Documentário: Eros Volúsia - A Dança Mestiça
Realização de Roberto Pereira, Escritor e Biógrafo

(http://youtu.be/qlxgwmm_kHE)

A ARTE DE AMAURY MENEZES
(VISITEM: www.amaurymenezes.com)

Visão da realidade nuclear | 100 x 70 cm | AST | Medalha de ouro - Paleta de ouro ALAP 






Amaury Menezes Pereira, nascido no Rio de Janeiro dia 13/08/1941, cursou a Escola Nacional de Belas Artes em 1962 a 1966, sendo aluno de Aluízio Azular, Del Negro e Mario Barata entre outros. Desenvolveu sua vida profissional como decorador e arquiteto de interiores. Neto e sobrinho da poetisa Gilka Machado e da bailarina Heros Volúsia, teve a pintura como hobby. Como Artista Plástico convidado, participou de vários espaços culturais tendo mais de 200 obras colocadas no Brasil, Japão, França e Estados Unidos.

Em 2008, 2009 e 2014 resolveu apresentar suas obras nos Salões de Artes Plásticas citados abaixo:

• 2008 – MINISTÉRIO DA DEFESA
VIII salão de Artes Plásticas Escola Superior de Guerra - MEDALHA PRATA

• 2008 – VI SALÃO DA  ADESG/ RIO
Centro Cultural da Justiça e do Trabalho - MEDALHA PRATA

• 2009 – MUSEU HISTÓRICO DO EXÉRCITO FORTE DE COPACABANA
Academia Brasileira do Meio Ambiente - MEDALHA PRATA

• 2009 – IV SALÃO DE ARTES PLÁSTICAS
Museu histórico do Exército Forte de Copacabana - MEDALHA OURO

• 2014 IX SALÃO ADESG/ RIO
Centro Cultural do Tribunal Regional do Trabalho - MEDALHA DE PRATA

Composição IV (Ele e Ela) | 90 x 80 cm | AST | Medalha de prata - Ministério da Defesa - Escola Superior de Guerra 

Seresta Tropical | 100 x 80 cm | AST | 2009 

Composição IV (Ele e Ela) | 90 x 80 cm | AST | Medalha de prata - Ministério da Defesa - Escola Superior de Guerra 

Bloco Verde | 70 x 100 cm | AST | Medalha de prata - 6º Salão de Artes Plásticas da Academia Brasileira do Meio Ambiente 

Composição I | 100 x 70 cm | AST | Medalha de prata - VIII Salão de Artes Plásticas - Escola Superior de Guerra 




Composição II | 100 x 70 cm | AST | Medalha de prata - VIII Salão de Artes Plásticas - Escola Superior de Guerra 

Sinuca | 100 x 90 cm | AST | Acervo da Pizzaria Guanabara - Lapa 

Passeio na orla | 100 x 80 cm | AST | Medalha de prata - VI Salão de Artes Plásticas ADESG | Acervo de Roberto de Souza. 

AMAURY MENEZES
50 anos de Arte


ESCULTURAS 

TRABALHOS ATUAIS 

FONTES:

www.amaurymenezes.com

http://www.rioartecultura.com/amaurymenezes.htm

 FINAL DO DEPOIMENTO DE GILKA MACHADO:

"Um solo escorregadio, um ligeiro deslize de perna e quebrei o colo do fêmur. Dois anos de leito, um de cadeira de rodas, e o resto dos dias quase a invalidez. Minha filha, muito frágil, não resistiu à minha queda, adoeceu dos nervos. Foi forçada a abandonar a carreira em pleno êxito.

Há quase dois anos, numa noite de pânico provocado por um temporal de enchente, fui acometida por uma crise aguda de vesícula. Com muita dificuldade, Heros conseguiu uma ambulância, que me transportou à casa de saúde São José, onde seria encontrado o melhor operador na especialidade. Por milagre, levando duas horas para chegar, lutando com a enxurrada. Quero deixar aqui registrada a minha gratidão ao Dr. Augusto Paulino Netto que, com perícia e bravura, soube enfrentar e vencer a morte, e a toda sua equipe competente e amável que me deu a ilusão de haver adquirido uma outra família. Quero ainda agradecer à Dra. Izabel Araújo Nogueira pelo carinho com que me tratou.

Voltando à casa, perdi meu filho (3) que se operara na mesma semana em que me operei. Custa caro, muito caro, a longa vivência.

O que omiti, fugindo à monotonia das repetições, será facilmente encontrado em todas as páginas que escrevi, por olhos que queiram ver.
Nunca matei, nunca roubei, nem fiz mal ao próximo; nunca bebi, nunca joguei, nunca fumei nem participei de orgias.

Amei intensamente meus filhos, minha mãe, minha família. Amei a Deus, o homem, a natureza, a bondade, a beleza e o Brasil. Amei demais. Amei tanto a todos e a tudo que não sobrou amor para mim mesma.
Sonhei ser útil à humanidade. Não consegui, mas  fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor."

(3) - em 1976

O blogue Expressão Mulher-EM se pronuncia

Amigos e leitores do blogue Expressão Mulher-EM, é claramente sabido que o Brasil não tem memória cultural. Em muitos casos, conforme já expressado aqui nestas páginas, grandes e inequívocos valores foram e são relegados, esquecidos, soterrados por modismos de caráter discutível, por imposições de uma mídia ou por injunções externas de caráter dominante. 

No caso específico da importante obra e Arte de Gilka Machado, a época em que ela viveu e aqueles que se investiam da função de juízes da literatura— mais ferrenhamente da escrita feminina — negaram o devido reconhecimento a uma poesia que em muitos sentidos inovava (um dos requisitos da Arte). As letras de Gilka esplendidamente deixavam revelar os subterrâneos da alma de uma mulher (quiçá de muitas outras) na pormenorização quase tangível das sensações e dos sentidos, à luz da perfeita escolha das palavras, da utilização de sublimes metáforas que traziam as explosões da Natureza, inclusive as sensuais, para a arte poética. A obra de Gilka Machado   — inconfundivelmente original, inovadora e revolucionária — foi condenada ao limbo do mais profundo e execrável preconceito e da mais abominável hipocrisia.

Viradas as épocas nas folhas inclementes dos calendários, ao passado se voltam aqueles que admiram as letras nacionais, a poesia e, com mentes e ideias abertas, trazem à tona e à discussão obras e conceitos em novos, instigantes e importantes estudos (teses de mestrado e doutorados, palestras, conferências, seminários etc). De tudo uma verdade é inegável: Gilka Machado pavimentou caminhos com a sua obra pelos quais mais e mais mulheres vão pisando com muito menos tropeços e acidentes.

Para a sua leitura e apreciação, o EM recomenda com vigor os seguintes trabalhos:

I)
O olhar condescendente (crítica literária e literatura feminina no século XIX e início do século XX)

Sylvia Perlingeiro Paixão
UFRJ 
Brasil 

É mestre e doutora em Literatura Comparada/UFRJ. Linha de pesquisa: Mulher e literatura. Trabalhou alguns anos na OLAC (RJ) e frequentou assiduamente o GT A mulher na literatura. Foi palestrante no primeiro evento Fazendo Gênero, em 1994, na UFSC. Publicou A fala-a-menos: a repressão do desejo na poesia feminina. Rio de Janeiro: Numen, 1991. 

Publicou estudos introdutórios a várias obras de Júlia Lopes de Almeida como A Silveirinha, Correio da roça e tem pesquisado sobre as poetisas do início do século.

 Clique para ler:

https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/viewFile/17201/15775




I)

FONTE:

http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/machado.htm

Página na internet incluindo sonetos sobre a temática sensual da poesia de Gilka Machado. Mais sobre a poetisa: 

"Com a paulista Francisca Júlia e a potiguar Auta de Souza, Gilka Machado forma o grande trio feminino do pré-modernismo. Se Francisca é a mais social e Auta a mais espiritual, Gilka é certamente a mais carnal das três. Coincidindo com a Semana de 22, seu livro MULHER NUA ao mesmo tempo reafirmou o soneto (revigorando a estética simbolista que já se esgotava) e escandalizou na temática que, para os padrões da época, ainda parecia licenciosa demais para não ser assinada por um homem. É dessa fase que seleciono os sonetos abaixo:

ANALOGIA

Amo o Inverno assim triste, assim sombrio,

lembrando alguém que já não sabe amar;

e sempre, quando o sinto e quando o espio,

julgo-te eterizado, esparso no ar.

Afoita, a alma do Inverno desafio,

para inda te querer e te pensar...

para gozá-lo e gozar-te, que arrepio!...

que semelhança em ambos singular!...

Loucura pertinaz do meu anelo:

— emprestar-te, emprestar-lhe uma emoção,

— pelo mal de perder-te querer tê-lo...

Amor! Inverno! Minha aspiração!

quem me dera resfriar-me no teu gelo!

quem me dera aquecer-te em meu verão!...

OLHOS NUNS OLHOS

De onde vêm, aonde vão teus olhos, criança,

tão cansados assim de caminhar?

dessa tua existência nova e mansa

como pode provir um tal pesar?

A alma de fantasia não se cansa!

nunca existiu tristeza nesse olhar;

é que a minha mortal desesperança

te olha e nos olhos teus vai se espelhar.

Com toda a vista em tua vista presa,

penso: uma dor tão dolorosa assim

só há na minha interna profundeza...

Não me olhes mais, formoso querubim!

que vejo nos teus olhos a tristeza

dos meus olhos olhando para mim.

NO CAVALO

Belo e heróico, agitando as veludosas crinas,

meu árdego animal, tens a sofreguidão

do infinito — o infinito haures pelas narinas —

e, sem asas obter, buscas fugir do chão.

Domino-te; entretanto, és tu que me dominas.

É um desejo que espera a humana direção

a tua alma, e, transpondo os valos e as campinas,

meu sentimento e o teu se compreendendo vão.

Amas o movimento, o perigo, as distâncias;

meigo, sentimental, tens arrojadas ânsias,

em tuas veias corre um férvido calor.

Quando em teu corpo forte o frágil corpo aprumo

eu me sinto disposta a lançar-me, sem rumo,

às conquistas da Glória e às conquistas do Amor!

FELINA (à minha gata)

Minha animada boa de veludo,

minha serpente de frouxel, estranha,

com que interesse as volições te estudo!

com que amor minha vista te acompanha!

Tens muito de mulher, nesse teu mudo,

lírico ideal que a vida te emaranha,

pois meu ser interior vejo desnudo

se te investigo a mansuetude e a sanha.

Expões, a um tempo langorosa e arisca,

sutilezas à mão que te acarinha,

garras à mão que a te magoar se arrisca.

Guardas, ó tato corporificado!

a alta ternura e a cólera daninha

do meu amor que exige ser amado!

TRISTEZA

O prazer nos embriaga, a dor nos alucina;

só tu és a verdade e és a razão, Tristeza!

— flor emotiva, rosa esplêndida e ferina,

noute da alma, fulgindo, em astros mil acesa.

Não te amedronta o mal, o bem te não fascina,

és o riso truncado e a lágrima represa;

posta entre o gozo e a dor — satânica e divina —

moves eternamente um pêndulo — a incerteza.

Etérea sedução das longas horas mortas,

horas de treva e luz; mistério do sol-posto;

mal que não sabes doer e bem que não confortas...

Trago dentro de mim, desde que me acompanhas,

um veneno de mel, um mortífero gosto,

um desgosto em que gosto alegrias estranhas.

TRISTEZA (II)

Tristeza no langor das lentas melodias,

no lirismo do mel que afaga o paladar,

nos perfumes sutis, nas carícias macias,

na espasmódica luz da hora crepuscular...

Tristeza universal, que de tudo me espias,

desde quando alonguei pela existência o olhar;

tristeza que apagaste as louras ardentias

das fortes emoções que eu sonhara expressar.

Vindo tenhas, talvez, para encher os meus dias,

das distâncias do céu, das distâncias do mar...

se magoas não sei, não sei se delicias.

Sei que de há muito morro a te sentir e amar,

sei que me vivo em ti, Tristeza, e as alegrias

hoje apenas me dão vontade de chorar.

ESCUTANDO-ME

Nas horas de trevor, quando, erma, a Terra dorme,

dos longes de mim mesma, em súplicas, se eleva

uma voz que parece a de um ser multiforme,

que vem da minha treva e vai morrer na treva.

Esta múltipla voz, esta voz triste e enorme,

voz que minha não é por tão funda e longeva,

a vibrar, sem que o tempo a enfraqueça ou transforme,

os sentidos me exalta, amotina, subleva.

É a tumultuária voz de velhos mortos seres

renascidos em mim, voz de anteriores vozes,

de vidas que vivi nas penas mais atrozes!...

Quem poderá calar a multidão aflita

que, sempre, em minha calma e em meus silêncios grita:

Deus, Senhor, onde estão da existência os prazeres?!...

MISÉRIA

Miséria — minha íntima riqueza,

neste viver lentíssimo e enfadonho!

imortal estatuária da beleza

dos versos dolorosos que componho!

Cedo, teu vulto, de lirial esguieza,

olhei, de minha mãe no olhar tristonho;

e nem supunha, àquele seio presa

que eras tu que aleitavas o meu sonho!...

Deste-me, em ouro que se não consome,

ao espírito quanto me extorquiste

ao corpo, ó pão ideal da minha fome!

Faças-me a alma robusta e a forma etérea,

amo-te assim minha opulência triste,

minha faustosa e imácula miséria!

REFLEXÕES

Homem! um dia para mim partiste,

colhendo-me no horror da plenitude

de uma penúria em que eu medrava, triste,

qual flor de neve em meio a erma palude.

Desde então, com prazer, sempre, seguiste

os desfolhos da minha juventude;

e o tempo faz que para mim se enriste

melhor teu trato cada vez mais rude.

Se fiel a ti o corpo meu persiste,

a alma idealiza o amor, sonha-o, se ilude...

guardes-me, embora, de perfídia em riste!

À pertinácia do teu trato rude,

o amor se fez minha virtude triste

e meu pecado cheio de virtude!

REFLEXÕES (II)

Se de maldades anda a vida cheia,

duas virtudes pairam sobre a Terra:

uma tudo que tem aos mais descerra,

outra tudo que tem na alma refreia.

Esta semelha uma enoutada serra;

aquela é uma planície à Lua-cheia,

e se uma de si mesma vive alheia,

a outra sofre o pavor do quanto encerra.

Do Bem seguem as duas pela trilha:

esta — lutando, num esforço rude,

aquela — em gozo ideal que a maravilha.

Se ambas iguais parecem na existência,

chama-se uma inconsciência da Virtude,

chama-se outra Virtude da consciência.

REFLEXÕES (III)

Na soturna mudez dos meus infaustos dias

dentro em mim, sem que alguém os possa divisar,

há um anjo que abençoa as minhas agonias

e um demônio que ri do meu grande pesar.

Um me ordena a tortura, e fala em fugidias

delícias, e ergue aos céus o austero e frio olhar;

o outro tem seduções, risos, frases macias

e açula-me a um prazer bem fácil de alcançar.

Dous poderes rivais se defrontam em mim;

como atender, porém, a esse duplo comando?

— um dos dous (qual dos dous?) deve triunfar por fim?

Minha vontade hesita, é a um pêndulo igual,

e eu morro, lentamente, oscilando... oscilando...

entre as dores do Bem e as delícias do Mal.

REFLEXÕES (IV)

Eu sinto que nasci para o pecado,

se é pecado, na Terra, amar o Amor;

anseios me atravessam, lado a lado,

numa ternura que não posso expor.

Filha de um louco amor desventurado,

trago nas veias lírico fervor,

e, se meus dias a abstinência hei dado,

amei como ninguém pode supor.

Fiz do silêncio meu constante brado,

e ao que quero costumo sempre opor

o que devo, no rumo que hei traçado.

Será maior meu gozo ou minha dor,

ante a alegria de não ter pecado

e a mágoa da renúncia deste amor?!...

REFLEXÕES (V)

Busco fora de mim o que existe somente

em mim; sempre serei a solitária flor

que, da infausta existência esquecida, inconsciente,

varia na embriaguez febril do próprio odor.

Distribui-se meu ser de tal modo no ambiente,

que chego a uma alma irmã perto de mim supor;

sinto comigo, alguém, longe de toda gente,

e as multidões me dão da soledade o horror.

O que anseio é só meu, só no meu ser existe,

e por isso me fiz muito triste, assim triste,

no sonho de afeição que me é dado compor...

Procuro-me a mim mesma, em meus longes perdida,

sem poder encontrar, dentro de estranha vida,

um amor, outro amor, para o meu louco amor!...

REFLEXÕES (VI)

Ó meu santo pecado, ó pecadora
virtude minha! ó minha hesitação!
bem diferente esta existência fora,
ermo de ti tão frágil coração!...

Se ora és sensualidade cantadora,
instinto vivo, alegre volição,
logo és consciência calma, pensadora,
silenciosa tortura da razão.

Contudo, eu te bendigo, eu te bendigo,
ó dúbio sentimento, que comigo
vives, minha agonia e meu prazer!

Quanto lourel minha existência junca,
por ti, pecado, que não foste nunca,
por ti, virtude, que ainda sabes ser!



REFLEXÕES (VII)

Meu espírito — eterno insatisfeito —
inútil teu esforço de pureza!
hoje, que obténs das multidões, o pleito,
do que nunca é maior tua tristeza.

Ante o teu sonho consumado, esfeito,
notas, cheio da máxima surpresa,
que, na ânsia de ser grande, ser perfeito,
mentiste a Deus, mentiste à natureza.

A ti mesma mentiste, e, merencória
e humilde, Alma, contemplas estas flores
que se vêm de esfolhar por tua glória.

Sofres, os olhos te transbordam de água!...
doem mais do que injúrias os louvores
por um bem que se fez cheia de mágoa.



REFLEXÕES (VIII)

Ouve, minh'alma, e pensa muito, pensa:
nossa pobre existência já se evade,
cheia de tédio, cheia de descrença,
sem que leve sequer uma saudade.

Olham-me com a friez da indiferença
esses por quem, repleta de piedade,
trocaste outrora uma ventura imensa
pelo atroz desespero que me invade!

Regressa ao teu Amor, goza um momento,
que o momento de amor que a vida goza
mais do que a eternidade é longo e lento.

Ante o pequeno bem de almas tão frias,
porque te não sustaste, alma piedosa,
com remorso do mal que nos fazias?!...



REFLEXÕES (IX)

Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez (sonhos insanos!)...
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.

Guardo nas mãos, nos lábios, guardo em meio
do meu silêncio, aquém de olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.

Desilusão tristíssima, de cada
momento, infausta e imerecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!

Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pesar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte!...



IRONIA DO MAR

Soa um grito de dor... e o detono de uma onda,
Como uma salva, atroa e repercute, pelos
Longes do ar... De onde veio a voz o ouvido sonda
E, em vão, busco escutar do náufrago os apelos.

E o truculento Mar sinistramente estronda,
Ruge, regouga, rola, espuma, em rodopelos,
E, talvez, porque, agora, almo tesouro esconda,
Cada vez mais feroz se arrepia de zelos.

Para a presa reter, muralhas de esmeralda
Ergue, e, num riso atroz de realizado gozo,
Veste-a de rendas mil, de flores a ingrinalda;

Move a cabeça informe, as longas cãs balança,
E, alçando a larga mão, num gesto vitorioso,
Mostra, cinicamente, um cadáver de criança."

III) Esclarecedora palestra; uma análise profunda da poesia e Arte de Gilka Machado:

4º Ciclo de conferências | A literatura de autoria feminina: Gilka Machado: corpo, verso e prosa - Palestra do Professor Doutor Gilberto Araújo / Possui graduação em Português-Literaturas de Língua Portuguesa (2008), mestrado (2011) e doutorado (2014) em Literatura Brasileira (Letras Vernáculas), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor adjunto de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atuação na área de Letras, com ênfase em literatura brasileira, século XIX, Simbolismo e poema em prosa.

Academia Brasileira de Letras

Publicado em 17 de jun de 2014

Ciclo de Conferências " A literatura de autoria feminina"
Conferência: "Gilka Machado: corpo, verso e prosa"
Coordenador: Acadêmico Sergio Paulo Rouanet

(https://www.youtube.com/watch?v=XKQp_li1cS4)

Fechando este trabalho, o poema MEU MENINO, que Gilka Machado fez para seu filho Helios (pai de Amaury Menezes), falecido em 1976:

MEU MENINO

Gilka Machado

Cedo casei, fui pelo sexo vencida

e tive um filho bom, inteligente e forte,

mas dar a um ser a vida

é uma oferenda que se faz à Morte.

Meu menino dormiu o sono derradeiro

sem o embalo do berço dos meus braços...

iluminai-o luzes dos espaços!

Meu menino morreu e todas as vertentes

vieram desaguar nos olhos meus,

mas as águas são frágeis, impotentes

para lavar a mágoa deste adeus.

Rolai, rolai águas nascentes,

chorai por ele pelos olhos meus!...

Meu menino morreu quando tecera o ninho

de um amor todo seu,

e, dentro dele, como um passarinho,

tombou, emudeceu.

Ó sabiás que ele adorava tanto

soltai vosso triste canto,

meu menino morreu!

Meu menino morreu!

Certeza incrível,

Perturbação!

Demência!

Sua presença fez-se impossível,

Tenho a alma cheia de sua ausência.

Ouço-lhe as frases,

Sinto-lhe os passos,

Guardo seu beijo na minha mão,

Vejo-lhe o rosto de sombrios traços,

Estou com ele na solidão.

Meu menino,

Quando era pequenino,

Certa noite, febril, crendo no meu poder,

Crendo-me dona do seu destino,

Abraçava-se a mim,

Pondo-me em desatino:

"Tenho medo, mamãe, não me deixes morrer!"

Sarou, cresceu, mas na maturescência

Conservava o temor da infantil inocência.

Quisera sempre mandar-lhe rosa,

de perfumada coloração,

porém as rosas

são melindrosas,

em poucas horas fenecerão.

Mando-lhe a todo momento

meu sentimento

numa só flor

imperecível e merencória,

rosa-suprema,

rosa-memória,

rosa-poema

do mais puro amor.

O meu menino,

amando a vida com doidice

e eu sobrevivi na dor e na velhice...

Ó Deus perdoai a angústia deste grito,

perdoai Senhor este protesto aflito:

por que ele e não eu?!

por que ele e não eu?!

(MACHADO, Gilka, Poesias Completas, Livraria Eitora Cátedra, Rio de Janeiro, 1978)

A Obra Poética de Gilka Machado

                    

SUBLIMAÇÃO (1938)

. Cristais Partidos - 1915

. Estados de Alma - 1917

. Poesias (1915-1916) - 1918

. Mulher Nua - 1922

. O Grande Amor - 1928

. Meu Glorioso Pecado - 1928

. Carne e Alma - 1931

. Sonetos y Poemas - 1932 (Cochabamba, Bolívia)

. Sublimação - 1938

. Meu Rosto - 1947

. Velha Poesia - 1968

. Poesias Completas - 1978

AGRADECIMENTOS, HOMENAGENS E FLORES

Ao blogue Expressão Mulher-EM a satisfação imensa de mais uma página pensada e realizada.

Pudessem as mágicas ondas da internet chegar a todos, levando o calor da palavra, do movimento e da cor das vivências e entregas daqueles que professam a ARTE, que é um VIVER EM MAGNITUDE, transcendendo os, muitas vezes, modorrentos limites do cotidiano. A ARTE VÊ E CAMINHA MUITO ALÉM.

Ao juntar numa só página muito do que já havia na internet, o Blogue EM partiu para abrir livros guardados em sebos literários, ávidos por uma leitura ou um olhar mais dedicado. E foi ASSIM que pôde ser construída esta página BELAS ARTES EM FAMÍLIA, iniciada ainda quando vivia entre nós o Artista Plástico AMAURY MENEZES, e terminada quando não mais o temos presente fisicamente. A ele foi pedida autorização para se ir  além do que já está na internet, o que ainda não tinha sido mostrado...

AMAURY não pôde ver o trabalho do EM realizado, mas sua família, que  ora autoriza a publicação, o verá. E poderá SENTIR que ao EM interessa muitíssimo FAZER VIVER, nas suas singelas páginas, O BELO DA VIDA.

Partindo dos versos vigorosos e quase tangíveis de GILKA MACHADO chegamos às telas de AMAURY MENEZES, um AMANTE DAS ARTES, "tendo respirado ARTE e FEITO ARTE a vida toda", diz sua família.

AMAURY MENEZES que, nos últimos trabalhos de pintura, repensou o cubismo de Picasso ao arredondar as formas e alegrando as telas com muito mais vibrantes cores.Deliciamo-nos com EROS VOLÚSIA, com a beleza da sua dança seguindo SEUS PRÓPRIOS COMPASSOS, SEU NOME sendo já  um eterno movimento de AMOR À VIDA.

Sentimos os versos de RODOLPHO MACHADO, ora rascantes como um vinho que pôs em evidência a acidez das uvas, ora de um LIRISMO SEDUTOR que levaria às lágrimas até a cigarra cantora que ele cantou extraordinariamente... 

O Blogue Expressão Mulher-EM só tem — uma vez mais — a agradecer.

E porque sentimos que há muita Vida pra além da Vida, a ARTE EM TOM MAIOR reunida nesta BELAS ARTES EM FAMÍLIA nunca perecerá. 

Que se GUARDEM os lápis, os papéis e os sentidos à flor da pele de Gilka; a introspecção de Rodolpho e o seu inesperado voo às alturas; as sapatilhas, enfeites e os alegres e lindos meneios de Eros Volúsia. E os pincéis/lápis/contornos/formas de Amaury decorando lindamente o mundo com suas telas, músicas e esculturas.

A ARTE NÃO PERECE. JAMAIS.

NOSSOS ARTISTAS renascerão todos os dias em que olhos e sensibilidades se voltarem para as suas CRIAÇÕES e RECRIAÇÕES DA VIDA.   

AQUI NO EM eles terão SEMPRE reconhecimento e aplauso.

O abraço honrado, emocionado e agradecido do EM.  

Rio de Janeiro/RJ, 18 de setembro de 2015.

Importantes fontes de leitura:

I) GILKA MACHADO (1893-1980), por Nadia Battela Gotlib 

http://www.bbm.usp.br/node/78

II) USP - Acervo Digital - GILKA MACHADO

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.contributor.author%3AMachado%2C%5C+Gilka%2C%5C+1893%5C-1980

III) GILKA MACHADO NO SEGMENTO "ETERNAS" neste blog:
http://expressaomulher-em.blogspot.com/2012/09/gilka-machado-brasil.html