SÁ DE FREITAS / 10º Poeta Convidado




Meu Hino à Mulher
Sá de Freitas

Toda mulher merece ser querida,
Ninguém deve causar-lhe o amargo pranto,
Porque sem ela não haveria vida;
Se vida houvesse não haveria encanto.

Mulher é luz no caminhar do homem,
Que o guia sempre para onde for
E ameniza as dores que consomem,
Seu pobre coração ávido de amor.

Toda mulher merece ser amada,
Cercada de atenção e de ternura
E acima de tudo, respeitada.

Porque sem a mulher o homem então,
Seria condenado à desventura,
De vivo estar...  Morrendo em solidão.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil

Como Foi Criada a Mulher
Sá de Freitas

Deus fez o mundo e ainda não contente,
Com todas as grandezas que criara...
Nem com as flores de beleza rara,
Nem com a luz do sol resplandecente...

Achou por bem criar algo divino,
Que trouxesse paixão, luz e beleza
Ao homem que perdia-se em tristeza,
Em solidão, em dor e desatino.

Tinha que ser  a criação mais pura
De um ser sublime e cheio de ternura,
Que fosse o "tudo" que o homem quer.

Então copiou de um Anjo - a formosura;
Das Ninfas celestiais - tirou a doçura-
E a essa criação chamou: MULHER.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil 


Marcas do Tempo na Mulher
Sá de Freitas

Marcas que o tempo deixa-lhe no rosto,
São provas da mulher ( que é MULHER)
De que venceu, sem titubear sequer,
A dor, o pranto, a mágoa e o desgosto.
E cada marca, em si, bem nos revela,
Que o tempo vai, mas deixa-lhe beleza
No coração, na alma e traz nobreza
Que a faz, na vida, cada vez mais bela.
Marcas do tempo na mulher demonstram,
Graciosas linhas que atraem e encantam,
E mostram-nos grandezas infinitas.
Não lhe desfaz o tempo a formosura
E, se da pele lhe roubar frescura,
Deixa marcas de amor, bem mais bonitas.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


A Mulher e a Rosa
Sá de Freitas 

A mulher e a rosa são idênticas em tudo:
A mulher enfeita a vida e a rosa, o jardim;
A rosa tem o aroma, a mulher o perfume...
Ambas são lindas, deslumbrantes e desejadas.
A rosa fere-nos as mãos, a mulher marca o nosso coração.
Contudo a mulher é divina:
Sem a rosa vivemos; sem a mulher, não...
Porque nossa alma é o jardim onde ela impera,
Deixando a vida menos triste
E amenizando nossas dores com os seus carinhos.
Mergulho-me nessa comparação,
Até ao fundo de um oceano de mistérios
E não encontro resposta,
Porque a mulher é um paraíso inexplorável
E pode ser uma suavidade que enlouquece;
Uma liberdade que prende;
Um néctar que embriaga;
Um veneno que cura
E um remédio que mata.

Ambas são iguais...
A diferença está no fato de que a mulher ama, a rosa não;
A mulher acaricia e a rosa fere,
Mas quando a mulher fere, o coração se despedaça,
A alma perde a essência e o homem fica sem vontade de viver.
Mas que importa, se a mulher é vida que dá vida à nossa vida?
Prefiro morrer nos braços da mulher que me ama,
A viver sem viver,  distante dela,
Cercado de rosas que me ignoram.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Não Se Deixe Abater, Mulher! 
Sá de Freitas 

Quando um dia sentir-se injustiçada,
Ofendida e humilhada extremamente;
Quando for, sem motivo, caluniada,
Tendo certeza de que é inocente.

Quando alguém macular sua conduta,
Deixando você triste e constrangida;
Quando a deixarem a sós, perante a luta,
Sem ter ao lado seu, qualquer amiga.

Mergulhe no seu "eu" e o examine...
E se nada tiver que a recrimine,
Não se entregue, jamais, à dor extrema.

Dê um basta à qualquer maledicência,
Pois o mais importante à consciência,
É o que possa pensar de você mesma.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Um Anjo nos Meus Braços 
Sá de Freitas

Invade o nosso quarto o clarão brando
Do plácido luar... E a janela
Que semiaberta está, também revela
Milhares de estrelas nos fitando.

E ali felizes vamo-nos amando,
Ouvindo ao longe os sinos da capela,
Que fazem a noite se tornar mais bela,
Enquanto eu vou feliz te acariciando.

O tempo vai fugindo e nem sentimos
Lá fora o mundo, pois somente ouvimos
O nosso respirar já sem compassos.

E aí a imensidão do céu abranjo,
Pois penso não ser gente e sim um anjo,
Por ter um anjo entregue nos meus braços.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Mulher Menina
Sá de Freitas

Desperta menina,
Menina desperta...O sonho acabou!
Menina moça que vivia sorridente,
Era inocente até no modo de falar...
Colhia flores de ilusão, plantava sonhos,
Com o coração risonho,
Pela vida a suspirar.
Mas certo dia despertou à realidade,
E o seu castelo de areia  foi ao chão...
Foi a paixão que lhe chegou inesperada
Não deixando nada, nada,
Do seu mundo de ilusão.
Hoje a menina já não sonha como outrora,
Não faz castelos imagináveis pelo chão, 
Pois compreendeu que a confusa realidade,
Traz a dor, traz a saudade,
E maltrata o coração. 
Hoje é mulher que no amor sorri contente,
Ou até sufoca o pranto seu por tanto amar...
Porque é melhor amar, às vezes, soluçando,
Que viver só,  sem ter alguém por quem chorar.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil

Mulher, Essa É a Força do Amor 
Sá de Freitas
  
Amando eu reencontrei uma ilusão perdida,
Que um dia abandonou minh'alma de poeta;
Amando eu consegui dar brilho à própria vida,
Que havia se tornado tão escura e inquieta.

Amando eu construí um mundo diferente,
Onde a existência faz-se alegre e palpitante...
Senti o coração partido em dois... E a mente
Povoada de sonhos que vem de distante.

Amando eu consegui o muito em minha estrada
E mesmo que esse muito fosse um quase nada,
Desfez da minha vida aquele mundo triste.

E nos meus versos hoje a paz e o amor decanto,
Pois vejo em minha frente só beleza e encanto,
Porque tudo é possível onde o amor existe.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Hei de Encontrar
Sá de Freitas

Hei de encontrar ainda em meu caminho,
O amor que busco desde a mocidade,
Mesmo que seja no findar da tarde,
Que pressinto chegar-me de mansinho.

Não falo do gostoso "amor carinho",
Que traz ao nosso corpo a saciedade:
Falo do amor que falta à humanidade,
Sem o qual cada ser vive sozinho.

Falo daquele  amor que mata a fome,
Que agasalha a quem no frio dorme,
Que ao desolado vem trazer alento.

Falo do amor que no perdão se aplica,
Falo do amor que o coração pratica,
Quando lê o primeiro Mandamento.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Areia dos Desejos             
Sá de Freitas 

Vem! Eu quero naufragar-me nos teus beijos,
Aconchegar-me à maciez do teu corpo...
Vem! Naveguemos o mesmo mar,
Sigamos a mesma rota,
Em busca dos mesmos sonhos,
A procura do sentido da vida,
Da essência da paz.
Vem! Vençamos as ondas,
Para encontrarmos o arco-íris do "entregar-se",
Levados por essa balsa de sonhos,
Até que aportemos a ilha dos carinhos,
Para deixarmos as nossas marcas de paixão,
Na areia dos desejos,
Onde o vento do amor sopra bem forte.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Se Eu For Primeiro 
Sá de Freitas

Não sei se um dia o fim que está marcado,
Virá a mim ou a você primeiro...
Peço a Deus não ser eu o derradeiro,
Pois nada sou sem ter você ao meu lado.

E se antes eu for, ao ser lembrado,
Não quero que se entregue ao desespero,
Porque o nosso amor é verdadeiro
E nem com a morte ficará abalado.

Amarguras não quero no seu rosto...
Quero sua alma - de tristeza - nua
E o coração sem dor e sem desgosto.

Pois ao cruzar - da vida e a morte - as linhas,
Não quero lá sentir a mente sua,
Sofrendo aqui...Entre lembranças minhas.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Quem É Você?
Sá de Freitas

Quando a noite me envolve,
Envolvo-me em sonhos,
A contemplar estrelas...
E avaliando a distância que nos separa,
Peço ao sussurro do vento
Para lhe dizer
Que sinto as formas do seu corpo,
Que nunca acariciei;
A tepidez de seus lábios,
Que nunca beijei;
O som da sua voz, que nunca ouvi,
A não ser nos meus devaneios sedentos
De quem ama,
Na esperança de ser amado um dia.

Contemplo a lua,
A lua me contempla,
Mas eu não posso sentir você,
Como não posso tocar a lua,
Fora do espelho da minha imaginação...
E assim como a lua nunca pôde contemplar o sol.
Eu também jamais a contemplarei,
Porque você é apenas alguém,
Que a minha mente cria além daqui.
Quem é você?
Talvez a mulher que nunca existiu.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Maria-Estrela
Sá de Freitas

O  rancho no pé-da-serra,
O engenho, o Riacho e o pomar;
O cafezal verdejante,
Na terra vermelha a florar:
Morava ali um caboclo,
Bastante feliz por amar,
A meiga e linda Maria,
Que, um dia,
Com ele subiu ao Altar.

E ele às tardes sentava,
Bem rente a um pé de jasmim,
E ali com a sua viola,
A ela cantava assim:

"Maria! Não existe outra Maria,
Igual a você, entre as Marias,
Neste mundo de meu Deus...
Maria! Seu sorriso me embriaga,
E o luar até se apaga,
Ante a luz dos olhos seus."

Mas certo dia Maria
Doente ficou, foi com Deus:
E hoje o caboclo olhando pro céu,
Pergunta às estrelas que vê:
"Qual de Vocês é Maria?
Maria, que estrela é você?
Desça do Espaço sem fim,
Para ouvir os meus versos assim:"

"Maria! Não encontro outra Maria,
Igual a você, entre as Marias,
Neste mundo de meu Deus...
Por isso, quando o sol vier raiar,
Ele é que vai se apagar,
Nas águas dos prantos meus."

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Qual É a Mais Bonita? 
Sá de Freitas
                           
Se acaso um dia, em meu jardim chegares,
(Onde há glicínias, desabrocham rosas),
E sem receio algum me perguntares:
"Qual é a mais bonita entre as formosas?"

Ás rosas olharei - quantos Abrolhos!-
Que devo responder-te? Que farei?
Bem... Postarei meus olhos nos teus olhos,
E, a suspirar de amor, nada direi.

Então me envolverás num olhar de Santa,
A interrogar-me com doçura tanta,
E, ao mesmo tempo, em tom bem definido:

"Vamos! Responde! Pois te perguntei
Qual é  a mais bonita?" - Eu mostrarei
O teu rosto no lago refletido.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil






                          
Meu Carrinho-de-mão
Sá de Freitas

Menino ainda eu me lancei à luta
Vendendo frutas num carrinho usado
De uma roda só, meio quebrado,
Que pra empurrá-lo era a maior labuta.

Não me envergonho não... Porque agora
Tenho bem mais do que sonhei um dia...
Não é dinheiro não, é a primazia
De ir vencendo pelo mundo afora.

Do carrinho-de-mão sinto saudade,
Pois ele me mostrou que, na verdade,
O sofrimento veio me ensinar:

Que sem mover os pés ninguém caminha;
Que a gente pode ter o que não tinha,
Se for à luta... Sem desanimar.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Meu Recanto  
Sá de Freitas

Quem vê a velha casa não imagina
Quão bela foi em tempo já passado,
Com o seu terreiro todo ajardinado,
Encostada ao sopé de uma colina.

Embora fosse um tanto pequenina,
Seu interior bem limpo e perfumado,
Deixava o visitante extasiado
E envolvido numa paz divina.

Mas desde de que o seu dono a abandonou,
Em abrigo de insetos se tornou
E planta alguma hoje ali floresce. 

E assim também  com a nossa  alma ocorre:
Se abandonada for, nela o bem morre
E o mal então, com toda força cresce. 

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


É Bom Lembrar a Juventude 
Sá de Freitas

É bom lembrar a juventude ida,
Mesmo sabendo que ela já está morta,
Pois ela foi quem nos abriu a porta,
De nova etapa para ser vivida...

Nela demos início à nossa lida
Sem muita experiência, mas que importa,
Se revivê-la às vezes nos conforta
Nas horas da velhice já surgida?

Mas lastimar o "agora" não devemos,
Pois  é bênção de Deus que hoje temos,
Por ter vencido o tempo... E nessa idade:

Cada dia que surge é uma esperança;
Cada dia que vai deixa lembrança;
Cada lembrança traz uma saudade.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


A Casa onde Morei
Sá de Feitas

Casa vazia... Cheiro de lembrança...
Abri a porta ela rangeu saudade...
E eu senti que, apesar da idade,
Voltar pudesse aos tempos de criança.

Tola suposição, pois a mudança
Que o tempo faz, transforma a realidade
Em névoa apenas que avança e invade,
A nossa mente onde a ilusão medrança.

Antes voltado lá eu não tivesse,
Para sentir o nada que foi tudo,
Num tempo bom que a gente não esquece.

Então saí... A dor, lá deixei presa... 
O pranto sufoquei, quedei-me mudo...
Fechei a porta... Ela rangeu tristeza.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Meu Canto ao Entardecer
Sá de Freitas

Vendo o sol fugir da noite que se achega,
Espero as sombras que virão,
Porque não haverá mais lua de ilusão
E nem estrelas de impulsivos sonhos:
Verei imagens de lembranças,
Ouvirei ecos de saudade
E vultos de pseudos amores mortos,
Em minha vida já vivida.

Nas pedras do tempo
Fui gravando hieróglifos
Que não serão decifrados.
Neles contei histórias
De amizades perdidas,
Ingratidões inexplicáveis,
Zombarias do destino
E caminhadas inúteis.

Mesmo assim,
Canto hoje ao entardecer,
Canções de agradecimentos,
Porque ainda vivo para vê-lo...
Se eu chegar a ver o anoitecer,
Mesmo sem lua e sem estrelas,
Tenho certeza de que haverá uma luz,
A brilhar mais que as outras luzes,
Que por mim foi acesa e conservada,
Com o nome de AMOR.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Como Sinto um Adeus 
Sá de Freitas

O adeus é  prenúncio de ansiedade
Que surgirá nascida de uma ausência...
É princípio de angústia... É evidência
De prantos que virão com intensidade.

O adeus é um sentir de vacuidade,
É o interromper de uma convivência,
É um padecer com a triste permanência,
Da grande dor que traz uma saudade.

O adeus é esperança de um retorno;
É sensação terrível de abandono;
É temor do que inda não surgiu.

É apreensão que a alma mortifica;
Sonho também de ir, para quem fica;
Vontade de regresso a quem partiu.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


O Ontem e o Hoje 
Sá de Freitas

Quem não tem uma lembrança,
Lá no íntimo guardada,
Dos bons tempos de criança;
Da mocidade passada?

São coloridos momentos,
Que aparecem de repente,
Em forma de pensamentos,
No palco da nossa mente.

Reviram a nossa memória;
Conduzem a nossa vontade
Em confusa trajetória,
Pelas ruas da saudade.

A gente tenta fugir...
No presente se esconder...
Mas acaba por sentir,
Que é gostoso reviver,

Aqueles idos momentos
Que voltam e trazem  ilusão,
Trazem mil encantamentos,
Ao sofrido coração.

Por isso quero lembrar,
O lindo sol de outrora,
Para poder suportar,
As densas sombras de agora.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Brindes  
Sá de Freitas 

Qual pássaro vou voando com as horas, 
Pelo desconhecido Espaço deste mundo, 
Mas caminho bem firme e cauteloso, 
Pela ignota estrada da existência, 
Mesmo levando o fardo das mazelas,
Que as fraquezas puseram-me nas costas. 

E a cada passo que dou sinto o compasso,
Da melodia da fé, em cada luta, 
E ponho pausa na canção da espera,
Para aguardar a semente germinar.

Meu coração esbanja só esperança, 
A transbordar minh'alma de certeza, 
Num brinde à derrota da derrota, 
Num viva ao féretro do desânimo, 
Comemorando à extrema-unção da vil tristeza, 
E a festejar, do desengano, o enterro.

Por aqui não passarei qual passa a sombra,
Nem lamento impactos de açoites,
Nem reclamo de amores que morreram,
Vivendo... Só vivendo por viver.

Deixarei o meu riso de poeta,
O meu canto de paz e de esperança,
Aos que não sabem inda fazer da dor,
Uma lição para que errem menos.

Brindo o amor, antes que o ódio chegue; 
Brindo o sorriso, antes que venha o pranto; 
Brindo a existência, antes que a morte surja
Para brindar-me.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


De Onde Surgem os Meus Versos? 
Sá de Freitas

Meus versos surgem das matas,
Dos rios, lagos e fontes,
Do murmúrio da cascata,
Da fauna, flora e dos montes.

Meus versos surgem da lua,
Das estrelas, do Infinito,
E da nuvem que flutua
No céu azul tão bonito. 
  
Surgem também da Alvorada,
Da calma do entardecer;
De qualquer flor perfumada
Ou de uma planta a crescer. 

Vem do riso da criança,
Do choro de quem padece;
De um brilho de esperança,
Que num olhar aparece.

Nascem da dor e do pranto,
Pois meu coração, coitado!
Nos outros confia tanto,
Que, às vezes, sai machucado.

Vem, meus versos, da acuidade
Que tenho em tudo o que vejo,
Quer numa grande cidade,
Ou num simples vilarejo.

Surgem mesmo de um olhar,
De um sorriso  simplesmente,
Quando a mulher quer falar,
Sem falar, do amor que sente.

Mas ouvindo o coração,
Chego à conclusão de que
Toda a minha inspiração,
Nasce mesmo é de você

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Ao Som da Lira
Sá de Freitas

Ao som da lira eu fico embevecido,
Meio perdido até... se o amor decanto,
Porque o pranto flui-me tão sentido,
Quando envolvido estou por esse encanto.

Mas da lira não ouço o som doído,
Nem o gemido do meu peito, enquanto
Fujo de pronto, do meu tempo ido
E tão sofrido por desgosto tanto.

E as dores?... Busco eu sempre esquecê-las,
Pois prefiro ficar olhando estrelas
E nelas encontrar os versos meus.

Enquanto estrelas olho... a dor esqueço;
Quando esqueço da dor eu agradeço,
E quando eu agradeço... Sinto Deus.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Mãos
Sá de Freitas

Benditas são as mãos que se estendem,
Sem distinção aos corações sofridos...
Mãos santas são aquelas que se prendem
Cheias de amor, às mãos dos combalidos.

Abençoadas as mãos que, com humildade,
Se erguem rumo aos Céus, fazendo prece,
Para que haja amor na humanidade;
Para que haja alívio à quem padece.

Sagradas são as mãos que sempre espalham
Gestos de amor num pão, num agasalho
E que, em auxílio aos outros, nunca falham.

Grandiosas são as mãos que sempre têm,
Em suas palmas, marcas do trabalho
Que realizam, construindo o bem.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


O Pobre Feliz 
Sá de Freitas 

De trás do monte o sol surgi dolente
E começa a sugar toda a neblina,
Formada pela fonte cristalina,
Que segue o seu caminho calmamente.

Põe-se em pé o caboclo...Está contente!
Toma café, começa-se a rotina,
De ordenhar e ir pela campina,
Atrás de algum animal que está doente.

Seu patrão na mansão, lá na cidade,
No mesmo dia se levanta tarde,
E chega lá com a alma amargurada.

E vendo o empregado seu sorrindo
Feliz da vida, aos poucos vai sentindo,
Que a riqueza que tem não vale nada.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


O Tempo
Sá de Freitas 
(Soneto escrito com apenas duas vogais: "e" e "o")  

Tens sempre medo e sentes o tormento
Bem de perto, com medo de perderes
O sossego... E sem mesmo perceberes,
Foges-me sempre, como foge o vento.

Medo tolo! Se tenho só o ensejo,
De percorrer-te o corpo portentoso,
Com encostos leves de extremo gozo,
Vencendo-te de vez, pelo desejo.

Pelo medo, no tempo nós perdemos
O bom do tempo... E logo sofreremos
No tempo, do desgosto o desconforto.

Vem! Os momentos morrem, nós morremos,
E se perdermos tempo nem teremos,
Tempo de recompor o  tempo morto.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


O Idoso e o Jovem
Sá de Freitas 

A idade avançada é bênção... e a vida,
Se bem vivida, é um período ledo...
E quem não a tiver  é que, bem cedo,
Dará ao mundo a sua despedida. 

Mas mesmo assim, que o jovem tenha em mente,
Que deve dar ao idoso amor, carinho,
Pois, ás vezes, se sente ele sozinho,
E de atenção esteja tão carente. 

Porque o tempo, para todos, passa...
A juventude esvai-se qual fumaça,
E levará o vigor que era seu. 

E aí então, na faixa dos idosos,
Sedento de atenção dos que são novos.
Não poderá pedir o que não deu.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil
  

O Grande Rio 
Sá de Freitas

O fraquinho riacho em seu caminho -
Ás vezes com vagar, vezes com pressa  -
Vai dia e noite a murmurar baixinho,
Ao encontro do mar.
Mas... quanto impedimento ele atravessa!!!
Seixos, pedras, dilúvios de folhagens...
Mesmo assim, ante as múltiplas barragens,
Não deseja parar.

E quanto mais caminha, mais se encontra,
Com outras fontes que a ele se irmanam
Na longa caminhada... e lutam contra
Os reveses do chão.
E as pequeninas fontes se ufanam,
E o seguem qual povo peregrino,
Pois o riacho, outrora pequenino,
Tornou-se RIBEIRÃO.

Assim vai ele impávido e confiante,
Pronto a vencer qualquer dos empecilhos,
visto que a sua meta é o mar distante,
Aceita os desafios.
Fontes, riachos, ribeirões afoitos,
Mais e mais junto a ele vão chegando,
E as suas águas, vão se avolumando,
E nasce o GRANDE RIO.

Agora forte, sente-se o senhor,
E aí fica mais despreocupado
Com os perigos e, desafiador,
Continua a viagem....
Seguiu... seguiu... porém, muito espantado,
Viu, de repente, os montes que o cercavam,
Como blocos homéricos formavam,
Compacta barragem.
Mas nada teme...tem a liderança...
Então lança-se afoito contra as rochas,
Mas sente, no impacto, a confiança,
Desfazendo-se agora.
Espuma-se a rugir...porém suas forças,
Ele sente que estão se enfraquecendo,
E os companheiros seus, retrocedendo,
Debandam vale afora.

Grande rio orgulhoso!!!! O que fazer???
Vendo extinguir-se-lhe a grandiosidade,
RIACHO VOLTA A SER.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Ter Vivido Sem Viver
Sá de Freitas 

Pobre de quem se faz escravizado,
Do poder passageiro da riqueza,
Julgando nela estar toda a grandeza,
De quem pode mandar, sem ser mandado.

Sente-se protegido e alicerçado
No vil metal e apega-se à avareza,
Desprezando os que vivem na pobreza,
E o próprio Deus, por vez, deixa de lado.

Passa o tempo...Ele vê que nenhum dia
Viveu a vida como deveria,
E vai deixar seus bens aqui na Terra...

Bens que acenderão muitos rastilhos
De desavenças entre os próprios filhos,
Quando a herança lhes trouxer a guerra.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Como Sinto a Poesia
Sá de Freitas

É a poesia a expressão mais pura,
De um coração que sonha, canta e ama,
Ou um grito do ser exposto à chama,
Do desprezo, da dor ou da amargura.

Poesia é ressonância de brandura,
À mente inquieta que de amor se inflama,
É a paixão febril que se esparrama,
Em versos carregados de ternura.

Poesia é o desabafo do poeta,
É o lenitivo à uma dor secreta,
Que alguém carrega n'alma atormentada.

Poesia é o derramar de riso e pranto;
É o mostrar de encanto e desencanto;
Poesia é o tudo onde existe o nada.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


A Dor Maior
Sá de Freitas

A dor maior não vem de uma saudade,
Nem das preocupações por alguém ausente,
Nem com o cansaço que se faz presente
Em nosso corpo com o chegar da idade.

A dor maior não nasce da ansiedade
Que nos atinge inesperadamente,
Nem da desilusão com algum parente,
Nem do triste findar de uma amizade.

A dor maior não surge de uma ofensa,
Nem aparece com a angústia intensa,
Quando a gente se sente abandonado...

A dor maior é algo bem mais forte,
Do que talvez a dor da própria morte:
A dor maior é amar sem ser amado.

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil


Aos Meus Algozes
Sá de Freitas

Por muitas vezes já tentei debalde,
Flores plantar às margens do caminho,
Por onde ando às vezes tão sozinho,
Somente em busca da felicidade.

Mas sempre alguns, apenas por maldade,
Vem e semeiam espinho por espinho,
Até que não mais reste um só cantinho,
Para eu plantar minha tranquilidade.

Mas não faz mal, tudo isso me conduz
À vitória, pois sei que a própria luz,
Somente tem valor na escuridão.

E os que o mal me fazem, no mal caem,
Porque o que desejam a si atraem...
Mas fiquem em paz... Pois dou-lhes meu perdão. 

Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil




2 comentários:

  1. Belíssimos versos em homenagem as mulheres que são as rosas de nosso jardim. Seus versos sublimares são uma constante no seu poetar que merece aplausos - Um abraço cordial - Paulo

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  2. Humberto Rodrigues Neto1 de set. de 2013, 12:01:00

    Elogiar a qualidade dos poemas de Sá de Freitas é repisar o “óbvio ululante”, como costumava dizer o escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues, em especial quando nos deparamos com a riqueza semântico-literária que grassa viva e espontânea em cada um dos primorosos quartetos ou tercetos que elabora. Não raro, ele os arremata com finais dignos de figurar ao lado daqueles que eram primazia dos grandes poetas clássicos, qualidade esta fundamental num soneto e que nem sempre é obedecida por muitos que se consideram poetas! Por outro lado, jamais se vê, em qualquer dos seus sonetos, as rimas do segundo quarteto divergirem das utilizadas no primeiro, o que torna facílima a dura arte de compor esse tipo de poesia, a qual, na verdade, não constitui sonetos, mas simples poemas, posto que agridem frontalmente as regras literárias que os definem. Ou é soneto, ou não é! Era o que eu tinha a dizer desse ourives do verso que é Sá de Freitas, a quem incluo, sem favor algum, entre os mais talentosos sonetistas da atualidade.

    Antes de terminar, quero registrar um voto de louvor à direção do “Expressão Mulher” pela publicação dos belíssimos poemas de Fernando Pessoa, muitos dos quais boa parte dos poetas desconhece. Até me permito sugerir, por interessante, que essa iniciativa venha a repetir-se em casos futuros, quando couber.

    Abraços de
    Humberto-Poeta, São Paulo/SP

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