Quando eu morrer não me venham com flores! Nem lágrimas sentidas... Tragam suas alegrias, senhores! Música na minha partida!
Tragam lembranças boas de nós, risos deixados no passado... Abraços que calaram nossas vozes, na dor que havia nos calado!
Tragam prosas e cantigas, daquelas madrugadas boêmias, onde as estrelas raparigas cantavam ao cheiro das acuçenas!
Poesias que tinha guardado, caso sejam encontradas... Segredos de amores inconfessos e que sejam todas declamadas!
Tragam, por favor, os beijos da minha amada ! Em meu rosto de pouca cor, calarão em minha alma aliviada...
Deixem a lua bater em meu peito, abram as janelas, meus amigos! Era minha eterna amante, na hora dos sonhos perdidos...
Não espantem meu cão! Deixem-no quieto em sua dor... Ainda que à beira do caixão, ocupe o lugar de algum senhor !
Foi meu amigo fiel! Só nós dois sabemos de nossos compromissos... Há de ter um lugar no céu, se alma tiver o pobre bicho...
Não ofendam as minhas amantes! Todas elas tiveram o seu valor... Ainda que sobre mim debrucem qualquer desabafo, qualquer dor!
Nem um moribundo que chegar, tentando falar comigo... Tive tantos deles como par, na falta de vocês, meus amigos!
Recebam qualquer garoto, que aqui entre, melindroso! Com certeza é aquele que me pedia para tocar Ave Maria do Morro!
Engraxava meu sapato! Era tão dura a sua vida... Fazia moeda de troca por um prato de comida!
Não me tragam flores, nem coroas... Senão boas vibrações! Hão de ver-me, quando da saudade, entre as constelações...
Soltem meu canário prisioneiro! Num campo verde e perdido... Há de cantar para minha alma, nos pés de ipês floridos!
De resto, nada mais quero! Sou um nada estendido... Desta carne? Empréstimo vencido! Pronto ao enterro, meus amigos!
Mãe José Geraldo Martinez
Mãe querida ... Quero agradecer-te eternamente A dádiva que me deste da vida ... O empréstimo do teu abençoado ventre ! As canções de ninar , o berço que balançaste , as velas a me esperar, as lágrimas que derramaste ! Mãe querida, quero agradecer-te eternamente... O carinho das tuas mãos, teus conselhos sempre presentes ! Teu olhar de ternura , teu colo quente ... Os brinquedos que me deste, a fé que me permeia ! O pão que me alimentou , a alegria que em mim passeia ... Anjo celeste , das minhas noites de insônia! Agradeço-te todos os dias , a minha infância risonha ... Minha adolescencia confusa , tua sábia paciência ! O teu olhar de candura , nas horas de turbulencia ... As chineladas merecidas, o teu amor e guarida ! Este cuidar tão zeloso... Da minha vida ! Tornei-me homem velho, pai e logo avô ... Obrigado mãe querida , por tudo que me ensinou ! A poesia na sua lida , em rimas as vezes tristes ... O vencer de cada dia , o valente que persiste ! Obrigado mãe querida, poetisa do amor ... Fui teu verso e poesia , o sonho que sempre guardou ! Agradeço-te , Mãe querida ... A oportunidade da vida ! De tornar-me homem, poetiso ... Hoje e sempre é seu dia ! Dói-me Mercília Rodrigues
Hoje dói-me a lembrança... A vida passa, em andança ! De repente...as cores desbotaram, já envelheceram as crianças... Não há mais risadas, no estio nem de alfazema, o perfume, dos travesseirinhos macios ... Mora n'alma o queixume . O chorinho de querença do colo que apascenta, Dos olhos, em luz imensa a que nosso amor dessedenta ! Há silencioso finalmente... As aves voaram do ninho ! Vazios os braços, impotentes... Vestígios de ingênuos carinhos. Murcho e oco coração ! Não há risos na penumbra da dor que a ninguém deslumbra, na sombra da solidão !
O céu onde as minhas estrelas especiais estarão sempre a brilhar, mais uma se juntou... Lá está o amigo-poeta José Geraldo Martinez que, durante todos estes anos preencheu o vazio de muitos corações com seus poemas impregnados de romantismo, sempre enaltecendo a mulher, elevando a sua auto-estima, lustrando suas desgastadas vaidades, substituindo lágrimas por sorrisos e decepções por esperanças. Lá está o poeta que sonhou alto e jogou tudo, brilhando e bailando com seus pares, poetando por certo... Tomara que não se esqueça de nós que esperamos abraçá-lo um dia... (Cleide Canton) A Lua Não Me Quis! José Geraldo Martinez Hoje a lua não me quis. Também, não a queria! Azar dela não me querer. Tinha comigo as Três Marias, deitadas em meu lençol, beijando-me os olhos que, até então, choravam e padeciam solos! Brincavam por meu chão e desfilavam de cristais brilhantes... Acompanhavam-me nos sonhos chegantes! Trouxeram minha amada, com um sorrindo angelical... Numa alegria extravasada, sem igual, a puxar-me pela mão a cobrir-me de canção os ouvidos na maior recordação... Deu-me o pranto mais sentido! Abandonaram-me As Marias... A lua, de mim, nada queria! A noite pálida, nublada... Aparecida! Chorou em minha janela, copiosamente ... A dor de minha alma só, a dor de ti, ausente! A saudade me queria... Também não a queria! Se fosse fácil o querer, deixaria de sofrer... Meu amor, te esqueceria! Eu Não Quis a Lua Cleide Canton
Por que a lua, meu amor, haveria de espreitar os beijos que foram só teus? Por certo escondeu-se pois não sorriria, fêmea que é, com sonhos iguais aos meus.
Não quis a lua a testemunhar anseios nem as estrelas que já vi em teu olhar. Não quis Marias nos meus devaneios, Ursa e Andrômeda por ti a duelar.
No teu desejo só me fiz presente e a dor de tuas lágrimas amenizei. Perdeste o senso, te entregaste inteiro ao melhor dos carinhos que um dia ousei.
Enrubesceu a noite e de espanto se nublou. Cerraram os olhos os anjos da janela e aos beijos, o amor se doou. Mas a saudade, cruel e sentinela, vendo o sol ao teu peito retornou.
Ainda deu tempo, amor, de olhar-te distante e perceber que em ti algo de mim ficou. São Paulo/SP
Minha Liberdade! José Geraldo Martinez Ah, minha liberdade ! Tu és de meu direito ! Morar em meus sonhos vagantes, por todo canto do meu peito . Tu me fazes pisar onde desejo, por lugares que nem vejo e imagino . Receber no rosto o frescor matutino, o beijo do luar em meus caminhos. Ah, minha liberdade ! Recebo em minha alma o amor que espero, despeço-me das coisas que não me dão prazer quando bem quero... Faze-me eterno caminhante, das praias, amante ! Viajor no cosmo estelar ... Com o direito de mostrar meus sentimentos, de sorrir quando bem quero ou chorar! Ouvir as canções que eu gosto, beijar os lábios que eu almejo... De guardar minhas ilusões em segredos, distribuídos nas auroras que testemunhei. Ah, minha liberdade! Vagar a esmo pela cidade que dorme, observar a quietude das ruas ! Eu e tu , nós e a lua ... Queimar o meu cigarro em divagação, soltar sem lanternas meus pedidos pela escuridão, quando cruzar no céu uma estrela cadente, fazendo das minhas vontades um negro alazão, seguindo com o vento nas suas correntes... Faze-me livre simplesmente, para amar a vida e as pessoas, sem medo de ser feliz ! Das coisas que não vivi ter qualquer desapontamento ou arrependimento das coisas que já eu fiz ! Sou Livre! Eda Carneiro da Rocha Amo a vida e as pessoas, sem medo de ser feliz! Sobrevoo os resquícios de minh'alma, Voo, num vôo altaneiro, em direção a minha liberdade! Ninguém me calará! Sou aquele pássaro, que, apesar de pequeno, se lança, como águia ao encontro do seu amor! Vejo a Lua, descortino Estrelas que me dão a vontade de subir aos céus, para de lá te ver agarrado a mim. Eu, a ti, como dois seres imersos nesta imensa sofreguidão. Beijarei a boca da noite, quando ela me fizer companhia! Usarei teu peito, como travesseiro. Te amarei e me amarás, mas serei livre, como esse pássaro que voa para alcançar o Infinito do nada! Araruama/RJ
Quando Escurecer José Geraldo Martinez
Quando escurecer... Não te sintas sozinha! Etérea viajará a minha alma ao teu lado, amada minha...
Tua pele beijaria docemente no sereno manso sobre o teu rosto... E, quando fosses dormir, em tua cortina seguiria no vento fresco, a te guiar no mês de agosto!
Quando escurecer... Terei mil olhos nos pirilampos, mãos de muitos manacás! E se preferires lábios de violetas, para que tu possas beijar...
Braços de chuva quando quiseres te banhar... Com cheiro de chão molhado, clarão num riso serpenteado com meus olhos de luar!
Serei estrela no firmamento! Estarei no cosmos em qualquer tempo... Fartando-me de eternidade!
Quando escurecer... Estarei dentro de ti! Na fé inabalável de um inevitável reencontro.
Reencontro Glória Marreiros
Na hora em que eu sentir escurecer, vou procurar-te, amor, por todo o lado. E vais deixar teu sonho coroado de etéreas sensações deste meu ser.
Beijarás, com ardor, o meu viver, sentirás o meu rosto ao teu, colado. Verás o meu dormir abençoado na hora em que o Agosto alvorecer...
Mas quando escurecer, vou pelos campos guiada por teus olhos, pirilampos brilhando às violetas da saudade.
O cheiro a chão molhado será cama, na fé do reencontro a quem se ama, com estrelas a falar de eternidade! Portimão - Portugal
A Luz que Se Apagou! José Geraldo Martinez
No dia que um poeta morre, leva consigo um pouco da noite... Mensageiro de muitos versos aos corações de quantos se debruçaram em seus escritos! Buscando aquele que entregaria a sua amada... O poema mais forte, tocante e mais bonito!
No dia que um poeta morre... Leva consigo não apenas seus poemas! Leva a voz do povo e seu cotidiano... Um pouco das madrugadas boêmias. Leva mais ainda... Um tanto das serenatas, dos sonhos banhados pelo sereno em pranto, um pouco do verde das matas, do mar azul que beija as areias brancas, um pouco do encanto! No dia que um poeta morre, parece levar consigo uma nota de qualquer melodia, um pouco do sol no amanhecer do dia... O vento cessa por sobre os prados, as aves se enlutam nos banhados... Cala triste a cotovia! No dia que um poeta morre... Imagino chorar o ébrio, até um cão vagabundo! Um andarilho de rua, o próprio moribundo seu tédio! As ruas estarão mais tristes, os jardins com pouca vida! A lua não há de vestir-se de cetim, estará por certo escondida... No dia que um poeta morre, morre um pouco a vida em seus versos perdidos, para ressurgir a posteriori, eterno em qualquer livro.
"O importante não é como se morre e sim como se viveu." (A.D.)
"Poema dedicado ao amigo e poeta Nilson Matos" 14.10.2005
Poeta Não Morre! Lêda Mello
Há uma luz diferente no ser que canta a vida - e até mesmo a morte - no pássaro alado da poesia.
Há uma luz atemporal, perene que ilumina a alma dos que encantam com versos cada trecho do caminho.
O Poeta.
Poeta não morre! Como morrer se a chama da alma ilumina cada canto do universo, em cada canto que entoou?
Poeta não morre! Permanece vivo em cada página da vida que contou, em cada canto de alma que entoou, transbordando em versos sentimentos e vida.
Arapiraca (AL), 14.10.2005
Com carinho, respeito e admiração, minha alma oferece ao espírito de José Geraldo Martinez Poeta sem NOME Regina Coeli Rebelo Rocha
Quem és tu, Poeta sem NOME, que eu não encontro nas antologias, nos compêndios de Poesia, mas de escrever sei que tens fome...
Quem és tu, Poeta sem livro, que eu não vejo nas estantes, mas que arrebatas num só instante, logo na primeira linha...
Quem és tu, Poeta da melancolia, não aquela que vem com os versos, mas a que nasce do lado adverso que a lida mostra pra ti...
Quem és tu, Poeta-Maior que eu não vejo nas rodas, será que a alguém incomodas por seres apenas... maior?
Quem és tu, Poeta-menino que guardas lembranças de outrora, que lembras o ontem e choras a saudade que mora nas veias...
Quem és tu, Poeta perfeito na ideia, na forma, na rima, no sentimento que ensina o belo da Vida a passar...
Quem és tu, Poeta da Dor que eu sinto no teu peito, que dói e cujo defeito é te fazer chorar sem parar...
Quem és tu, Poeta sensível, de onde vem o teu poetar, das terras de além-mar, do sol, das estrelas ou da lua? Quem és tu, Poeta-triste, quero ser um teu amigo, dar-te o ombro como abrigo pra que eu possa me consolar...
Quem és tu, poeta Martinez, que papel e pena encantas, teus escritos são como mantras que abrem caminhos de Luz...
Quem és tu, Poeta de brilho envolto nas sombras da noite, que tomas as palavras sem açoite ainda que estejas marcado...
Quem és tu, Poeta Martinez, dize-me, responde-me agora se o verso triste te revigora, porque o alegre não te vem...
Quem és tu, Poeta, aonde irei pra te encontrar, onde ficas, Poeta sem par... Das tuas mãos um simples toque...
Quem és tu, Poeta de mãos perfeitas que derramam versos candentes que queimam Amor e Dor na gente, Onde estás, Poeta?...
Quem és tu, Poeta-Enorme que me chegas aos pedaços, quebra-cabeça que faço tentando te conhecer... Rio de Janeiro/RJ Quem Sou? José Geraldo Martinez
Regina, agradeço! Confesso: fiquei emocionado... Muito embora, trouxeste-me um sorriso, ao ter, em teu coração, meus versos tocado!
Quem sou eu? Alguém que as dores coloca em poesia... Um perdido pelas noites insones, talvez, um louco pelas madrugas frias!
Às vezes, nem sei quem sou . Pareço-me uma obra inacabada... Um homem que brota dos poros, o amor, noutras, uma estátua fria e sem nada!
Uma mistura de sentimentos, um conflito interno infinito... Poeto a ilusão dos sonhadores ou a realidade que ouço em altos gritos?
As dores das ruas? Do cotidiano de cada um? Ou romanceio olhando as estrelas e a lua, caindo depois em lugar comum?
Regina, querida... Gostaria de poetar alegrias! Dia e noite, noite e dia ... Não consigo! Ainda ontem morreu em um assalto, um grande amigo...
Não tão longe perdi um grande amor... Daquele que eu pensava ser eterno! Um mendigo bem pertinho de mim não suportou o frio do inverno!
Quem sou? Estou perdendo a identidade? Um poeta que apenas sonha um mundo que não existe? Poesia alegre ou triste ou poeto, ao mundo, a verdade?
Disse bem, "poeta sem nome"! Talvez a voz do ignorado que não sabe poetar... A vida que não lhe poupa os castigos, o pão lhe tem negado e um abrigo para morar!
Cansei, minha amiga, de falar das flores, dos amores que vivi por esta vida... Cansei de só mostrar a minha dor, escondendo dos outros as feridas!
Poeta menino? Ah, esse não abandonei! Ainda há pouco com a tua homenagem, qual menino, chorei!
Chego realmente em pedaços... Nem eu mesmo sei quem sou? Sem nome, anônimo, desconhecido poeta besta... Um complicado quebra-cabeça!?
Onde me encontras? Nas mil faces pelas ruas! No flanelinha, no mendigo, no trabalhador... Sobre os montes, no clarão da lua!
No homem que canta, no homem que chora... Nas tardes que partem todos os dias, nos amanheceres com suas auroras!
No amor não correspondido, nas paixões proibidas existentes... Nas enxurradas pelas chuvas caídas, nas terras que fazem brotar as sementes!
Encontras-me nas cartas que chegam para os que sentem saudade... Na poesia esquecida de qualquer jornal! Num sebo qualquer de uma livraria, num livro jogado no fundo de um quintal!
Sou um poeta sem nome! Isto é, se poeta eu for! Sou a lágrima do sereno que rompeu a noite, a brilhar cristalina na pétala da flor...
Sou o que nem sei... Um punhado de sentimentos! Jogando versos em desarmonia, contemporâneo, em meu tempo...
Uma Gaivota! José Geraldo Martinez
Quisera ser aquela gaivota, ainda que fosse por um dia ! Perdido vulto ao sol poente e naquele cantar de melancolia ser toda saudade que ela sente!
Sou, sim, uma gaivota presa, nos porões escuros de um navio... Naufragada nau em minha alma sem fim... Cujo socorro ela não ouviu!
Ainda me resta uma tábua velha, submersa deste porão... A mostrar-me ao longe uma ilha incerta, a noite que cai em escuridão!
Amanhã haveria o sol a contemplar-me no amanhecer? Estaria salvo desta saudade ou talvez por ela irei morrer?
Quisera fosse aquela gaivota a pousar no futuro... No colo de alguém que amaria, um porto de amor seguro!
Que fosse passado... Que fosse esquecido ! Tivesse eu um suspiro de alívio e feliz em outros braços ter sobrevivido!
Bebi Del Mar Victoria Lucía Aristizábal Bebí del mar en sus salobres aguas y de su muerta espuma el frío de mis ansias bebí de los peñascos y las rocas de erráticas gaviotas la desesperanza Bebí cansancio en la reseca arena bebpi tortura en la palmera enhiesta y de las barcas heridas y sin pesca bebí mi eterna soledad en sombras bebí del rojo atardecer su pena Bebí altivez para enfrentar sin miedo el rudo bendaval de la tormenta bebí la inmensidad del pensamiento la humana libertad, bebí del viento y levanté al azar frente a mi vida una antorcha de fe siempre encendida y una hoguera de amor siempre sedienta Bogotá - Colombia
EU Sarah de Tobias Eu sou o producto de subtil materia, Movida por um sopro omnipotente, Cheia de podridão e de miseria Que vibra e ama e sonha e pensa e sente... Fallando a Esmo Sarah de Tobias I Se não ardesse em chammas o desejo, Se não vivesse n'alma do perfume Tudo o que aspiro e vejo: Que seria de mim, triste sózinha, Adivinhando o teu perfil, no lume, Sentindo que o desejo te adivinha? Que seria de mim? Vamos, responde, — Na solidão amarga do meu leito, Onde o perfume teu se esconde, Sonhando o afago das tuas mãos profanas A percorrer nervosas o meu peito — Se eu soubesse amanhã que tu me enganas? Mas, não, devo espantar essas ideias, Devo afastar essa cruel tortura E rebentar da sociedade as teias... Eu sinto, a chamma ardente do desejo, E vibrar dentro em mim uma loucura Que me impelle á conquista do teu beijo. A mentira social repillo inteira, Antes ébria de amor morrer amando A viver prisioneira Das suas leis fingidas, mentirosas, Dentro da solidão agonizando Como as rosas... II Esta carne de lyrios e de rosas, Que se agita ao calor da mocidade, Que aspira o afago das tuas mãos nervosas Numa louca vertigem de anciedade. Esta carne que é tua, que é só tua, Que se arrepia e que se agita anciosa Palpita e freme quando o sangue estu'a Numa furia incontida e deliciosa. Esta carne rebelde em chammas arde, Numa vertigem de delirio insano, E, na penumbra azul da longa tarde Busca o teu lindo corpo de espartano... E mil segredos tem a carne ardente, Quando do sangue a floração purpurea Se estende em arabescos lentamente Num impulso infinito de luxuria. E de ancia em ancia a minha carne espera Espera e soffre louca de desejos, A caricia de nova primavera A divina harmonia dos teus beijos... III Nu'a, solto o cabello, o corpo meu exponho A' caricia subtil dos teus olhos profanos; E ébria do meu amor, rolo de sonho em sonho Pelo abysmo sem fim, dos delirios insanos. Canto a gloria pagã e em cada estrophe ponho Toda a força e a expressão dos impulsos humanos.. Vibro no meu retiro e os versos que componho Têm a rude impulsão dos desejos tyrannos... Em ancias me debato, em delirios me agito, Imitando a solidão, insondavel e muda, No desejo da posse auscultando o infinito... E demoro o olhar a percorrer o espaço E o espaço, altivo, infinito, em chammas se transmuda Para envolver subtil meu casto corpo lasso... Soror Dolorosa Sarah de Tobias Reconforta-me a furia dos devassos, 0 suspiro rithmado dos violinos, O coleio febril dos corpos lassos E os violentos impulsos femeninos. Irrita-me a cadencia dos meus passos, O pello acariciante dos felinos, O triste colorido dos espaços, E o rithmo lento dos enfermos sinos... Tortura-me o desejo das perdidas, Das que trilham do vicio a longa estrada, Das que fingem e são apetecidas... Mas revolta-me o cerco destes muros, Onde vivo escondida e torturada Mostrando ás outras pensamentos puros... Ellas e... Eu Sarah de Tobias Quando vou de passeio e vejo pelas ruas Silhuetas de mulher que passam quasi nu'as, Expondo-se ao olhar dos homens pervertidos. Tenho pena e lastimo aquella mocidade, Que podendo occultar a sua virgindade Procura desvendal-a excitando os sentidos... Eu comprehendo... A final, o desejo é perverso, Mas o effeito que causa a mulher é diverso, Ao que ella tem em mira Mostrando a lassidão do seu corpo de virgem, Ella quer provocar nos homens, a vertigem Da paixão e é mentira. Para poder prender os homens, é preciso, Um pouco de talento e outro tanto de juizo; Tendo essas qualidades. Basta um gesto de graça e alguma mocidade. Porque o homem é fraco, ama a curiosidade. Detesta as realidades. O homem é vulgar, ama o que não comprehende, Um olhar, um aceno um sorriso e se prehende Na rede da illusão... Quando se lhe ama, é cruel, é mao, é desdenhoso. Mas dando-lhe o desprezo, é ideal, é carinhoso. E ama com paixào. Eu que o sei comprehender, caminho pela vida, Com o seio a tremer e a belleza escondida, Da minha carne rubra, ao seu olhar profano... Pois escondendo assim, o meu corpo bonito, Eu sei que facilmente os corações agito, E desperto o desejo em todo o ser humano... A Violação de Thamar Sarah de Tobias "0 filho primogenito de David, Amnon, aconselhado por seu primo Jonadab, prepara urna cilada, com o o fim de violar a sua irmã Thamar. I Nas planicies de Sião, á sombra do arvoredo, Amnon e Jonadab, conversam em segredo. Amnom, melancholico : — "Quanto eu soffro Iahvé, e, soffro por amar, Com cégo e rude ardor, a minha irmã Thamar!... Ruge em mim, com furor, impetuoso, o desejo Exalta-me o seu corpo e allucina-me o beijo Dos seus labios em flôr...” Jonadab, assombrado : — "Amas a tua irmã!" Amnon, envergonhado : — A filha do meu pae, mais linda que a romã... Ouço que a sua carne, a minha carne chama, Que a vertigem do amor infinita me inflamma..." Jonadab, que nutre paixão pela filha do Rei de Israel, mas que, repellido por ella jurou vingança, finge commover-se : Amnon, enthusiasmado: — "Os olhos de Thamar, são rutilas saphiras Que accendem inda mais o fogo em que me agito...” Jonadab, com fingida austeridade : — "Se o teu amor é grande, é maior teu delicto...” Amnon, interrompendo : — "Seu corpo de alabastro embriaga como absintho, E os seios a fremer são rosas de Coryntho, Que eu quero desfolhar e beijar nesta furia Para gloria do amor e triumpho da luxuria... Jonadab, com falsa amizade: — “Amnon, o meu amigo, o teu desejo e immenso, Mas, para todo mal, ha um remedio, e, eu penso. Que poderás vencer gozando o corpo ardente Da filha de Maaká, a mais bella do Oriente..." — "Como? Não te comprehendo.' Jonadab, perscrutando o arvoredo: — "Chega-te a mim, escuta: Eu comprehendo a paixão que te agita e enluta, Que tortura o teu corpo e tortura a tua alma... — Mas, vê para triumphar é necessario calma. Vae para o gyneceo quando a luz esmaece E, para realizar este plano, adoece. Como o teu pavilhão, é retirado, espera, Que venha do teu pae, alguma mensageira... A essa, deves pedir que te venha cuidar A belleza de Siào... A divina Thamar... E ahi, nesse retiro onde a calma fluctua, A pureza triumphal de Thamar será tua... II "Amnon, em seu pavilhão do "gyneceo", espreita a semi-obscuridade que envolve o seu leito." Sentindo o coração a palpitar no peito, Amnon, ardendo em febre, espera sobre o leito. Amnon, em soliloquio: — "Será minha, será. A sua carne virgem Eu sentirei vibrar em lubrica vertigem... E, nessa ancia febril, nessa delicia louca, Eu beijarei seus pés, seu collo, sua bocca, Meus labios, entoarão o hymno dos meus desejos, Seu corpo envolverei no manto dos meus beijos... Será minha... Será. O doce sacrificio Se approxima afinal... Extincto o meu supplicio. Venha a magua, o pezar, a morte, a sepultura, Tudo supportarei em troca da ventura Que ha tanto tempo almejo..." Thamar, entrando: — "Meu irmão, meu irmão. Sei que muito esperaste e te peço perdão... Quiz meu senhor e pae, que trouxesse commigo Estes bolos que vês, de uvas e de trigo Que eu mesma preparei..." Amnon, allucinado, toma entre os seus braços robustos, o fragil corpo de Thamar, murmurando : —"Minha doce Thamar, Soffro muito e estou cançado de esperar O teu corpo adorado... O meu desejo é forte, E não temo afrontar, por teu amor a morte... Deliciosa Thamar, vê que eu soffro e te amo, Que é sublime o desejo e o amor em que me inflammo. Vem a mim, vem a mim, ó minha doce amante Deixa beijar assim, o teu corpo radiante... "Thamar, em vão tenta fugir e despojada do manto que envolve o seu corpo, desmaia nos braços de Amnon" E ecôa pela tarde infinita e calada O supremo estertor de uma virgem violada... III No valle de Sião agonizava o sol, Tingindo levemente o lubrico arrebol... Pobre de mim, e eu só vivo triste, a sonhar A violencia de Amnon e a magua de Thamar... Freira Sarah de Tobias A' meia luz da semi-obscuridade, Onde domo o furor dos meus impulsos, Sinto horror e repillo a virgindade E o triste manto que me algema os pulsos. Envergonha-me a falsa castidade, Amo, os impetos lubricos, convulsos, A alvorada da minha mocidade, Os desejos insanos e propulsos... Amo, os rutilos sonhos de ventura, A violenta emoção do meu delirio E o peccado que afaga e que tortura... Mas odeio e maldigo este convento, Onde vivo carpindo o meu martyrio E abafando o meu proprio sentimento.
Aos poucos morre a tarde no poente, Canta na sombra o meu amor... Palpito. E, o sol que inclina a fronte de doente, Tem o aspecto cançado do proscripto. Geme uma folha sob os pés, dolente; Choram as rochas brutas de granito. A sombra avança magestosamente Acariciando o corpo do infinito. A natureza agita-se nervosa, Sente da luz uma saudade enorme, Emquanto a sombra avança vagarosa. E dentro dessa magua que me altera, Sinto vibrar em mim, o impulso enorme Da carne a me assaltar como panthera... Tortura Intima Sarah de Tobias Dentro da obscura noite a musica sonora De um beijo, ecôa mansamente... A sombra, inclina a fronte sonhadora E envolve o verde corpo ardente, Da Natureza virgem... E' a hora da vertigem... E, até parece, Que o silencio, embalado na sombra adormece No céo distante, as primeiras estrellas Palpitam amorosas. Um queixume de folhas amarellas E um perfume de rosas, Erram pelo infinito... E, na paz emolliente dessa hora, Eu choro, e, ardo em febre e me agito. A calma sonhadora, Desta noite sem luar, Agita o meu desejo e me devora, A infinita vontade de peccar... E tenho ancias de amar... de apertar o Infinito, E de lançar a esmo o meu triumphante grito... Doe-me a tortura de não ter amado E levo dentro d'alma essa tristeza. Vendo vibrar na sombra a Natureza No espasmo delicioso do peccado... Ao Meu Sonho Sarah de Tobias Gloria a mim! que sonhei, na ancia do meu desejo Pelo deserto hostil da minha vida rude, 0 divino sabor do teu primeiro beijo, A primavera em flôr da tua juventude! Vem a mim... Vem ouvir o voluptuoso harpejo, Do enfermo coração cantando á solitude... Tenho sede de amor, e este feliz ensejo, Será meu, será teu, será nossa virtude... Vem a mim... Vem unir, numa volupia louca, A tua alma á minh'alma, inteiramente nu'a. O teu corpo ao meu corpo, e a bocca á minha bocca... Mas, ó sonho pagão, se fores sonho só Que eu não te goze nunca e nunca te possua, Na viagem triumphal do ser humano ao pó... Salomé e Yokanan Sarah de Tobias I 0 tu, que tens o aspecto de selvagem, Feroz e rude, repugnante e feio, Que envergas uma pelle qual roupagem, E tens nos olhos um clarão de anceio. Despe esse manto, que o furor da aragem Bata com força no teu corpo em cheio, Deixa que eu veja em pleno sol tua imagem, Que fite anciosa o pello do teu seio Rude pastor que assim soberbo fitas, O meu corpo ondulante e apetecido, Onde vibram doçuras infinitas. Pagarás com a vida, e a vida é pouca, Para a offensa de ter escarnecido 0 beijo que offertava a minha bocca.... II Yokanan o pastor, indifferente Sereno em sua dôr, profunda, intensa, Emquanto Salomé se agita ardente, Na horrivel dança como vil serpente, Contempla o céo indefinido e pensa... — "Maldita seja esta mulher, maldita, Que a colera do céo, a attinja inteira, Pois o peccado tentador palpita Em seu corpo, que lubrico se agita, Com a furia violenta da Panthera..." Heródes, ouve a maldiçào do crente, E rancoroso, enfurecido, exangue, Num gesto brusco de terror, latente, Ordena ao vil carrasco impenitente Vingar a offensa derramando sangue... III
E´ morto Yokanan. E Salomé dançando, Agita mais e mais, o corpo ao rithmo lento Da musica infernal... Mas subito parando, Derrama o olhar em torno, allucinado, attento... Palpita o coração, o seio vibra arfando, E, Salomé descobre o rosto macillento Do amado Yokanan, decapitado, quando, Ella agitava a rir, o corpo ao rithmo lento... Num impeto brutal, allucinada, louca, Se atira Salomé sobre a cabeça quente Do pobre Yokanan e beija-a na bocca... Treme a assembléa toda e Salomé furiosa, Soluça e grita e ri e morde e beija ardente E se estorse afinal e desmaia nervosa... Bálkis Sarah de Tobias Sou a rainha de Sabá, onde impera, A força soberana das mulheres ; Da esplendida cidade dos prazeres, Onde se rende adoração a Aschéra. Trago em mim o esplendor da primavera, Vê, Salomão, se os meus encantos queres, Apura a intelligencia afim de teres, Resposta breve, logica e severa... Assim fallando Bálkis, um madeiro, Entrega ao rei... Sereno, intelligente, Responde Salomão: — "é de um Outeiro E, representa a voluptuosidade —“ Bálkis suspira, e, deliciosa, ardente Concede ao sabio rei a virgindade... Sonho de Virgem Sarah de Tobias Sonho que vens, radiante de belleza, Beijar lassivo e tonto a minha bocca. E eu tremula de gozo e de surpresa, Sinto em sonhos, que o sonho me suffoca... Num arroubo sublime de impureza. Abro os braços, ardendo em ancia louca, E num mixto de amor e de incerteza, Minha bocca, procura a tua bocca... Louco de amor, afagas o meu peito, Ardes e fremes no delirio extremo E tombas extenuado e satisfeito... Acordo... Maldição. Tudo é tristonho, Foi mentira o meu sonho, e, de odio tremo, Na certeza que foi apenas sonho... Merah Sarah de Tobias Soluçante de amor, em retiro espero, O beijo redemptor, que a minha bocca aspira E na pompa triumphal do meu sonho ligeiro, Sinto rugir em mim, o amor de Dejanira. Um arrepio bom, corre o meu corpo inteiro, Cheio de fogo e amor, o peito arfa e suspira Sinto a carne vibrar, ao afago de Nero, E na orgia do sonho, o cerebro delira... O sangue em turbilhãos, borda a carne purpurea, Lascivo em torno meu, baila tonto o desejo E queima a minha bocca a espuma da luxuria. Ergo a taça do amor, bebo o lethal veneno, E, sobre o collo nu', a aza leve de um beijo Afaga mansamente, o meu corpo moreno... A Aspiração de Lenia Sarah de Tobias No torvelinho azul dos meus sonhos magneticos, Vejo spectros rugindo enfurecidos, presos, Agitados quiçá, por impulsos freneticos, Na delicia feliz de todos os excessos... Beija o meu corpo assim, em fremitos electricos, Kaldi, aperta inda mais os musculos retezos, Que ao furor infernal dos teus bragos athleticos Quero tombar cançada, olhos fundos e accezos... Grita a carne feroz, num lubrico delirio, No gozo espiritual de impudicos desejos, Arfa e chora maguada ao peso do martyrio... E é tão forte o desejo e tão forte é o supplicio, Que só vivo esperando a gloria do teu beijo Para morrer feliz á sombra do teu vicio... Exaltação de Ladice Sarah de Tobias Eu que trago na carne a sensação ardente, Os impulsos de amor, impudicos, bestiaes, Eu que tenho a maldade, impura, da serpente, E o fructo que tentou nossos primeiros paes... Eu, que sinto no corpo um fogo incandescente, Desejos de peccar, violentos e brutaes, Eu que vivo a sonhar arrebatadamente Os beijos de outro ser, ardentes e sensuaes... Eu que aspiro rolar feliz de leito em leito, Que sonho com o amor e que não sei amar, Sinto pulsar violento o coração no peito Quando fito o teu corpo e contemplo o teu porte, E fico tristemente a scismar, a scismar, Na delicia do amor... Na tortura da morte... A Loucura de Saul O Tocador de Kinor E Os Amores com Mical Sarah de Tobias (Episodio biblico) "'Os céos cantam a gloria de Iahvé... “O Eterno armou a Sua tenda no Sol, e o Sol, quando desperta, surge aos olhos dos humanos como um noivo quando sahe da alcova nupcial"... I A harmonia do azul, no infinito dos céos, Canta a gloria do amor, cantando o proprio Deus...
Em Guibea de Benjamin, Saul, o rei amaldiçoado pelo Nabi, encerrado na sala de Armas do gyneceo, vê por todo lado phantasmas vindos do Scheol:
Range os dentes em furia, em cólores se agita, Por toda parte vê, phantasmas que o perseguem E abre os braços feroz, e os braços não conseguem Apertar com furor os phantasmas... e grita... "Que o rei elouqueceu", murmura-se em surdina E a populaça em torno ao gyneceo inquieta, Se agglomera e murmura: — "a colera divina Cahiu sobre Saul pela voz do Propheta !... Saul, o vencedor de Amaleq, encerrado, No vasto gyneceu, rodeado de trophéos Olha em torno, com furia, a multidão, o gado Que anda solto a balir... Olha com raiva os céos... As mulheres lá fora, as tunicas rasgadas, Batendo sobre o peito agitam o kinat Soltando pelo ar, convulsas gargalhadas Num mixto de terror e amor pelo Sabath Ante a furia do céo e a vingança de Iahvé, Saul, o altivo rei do povo de Israel, Sente o peso brutal da raiva de Sahé. Que pouco a pouco innunda o coração de fel. A lubrica Merab e a pallida Mical Filhas ambas do rei, agora amaldiçoado, Procuram atenuar, a força desse mal, Que agita o coração do rei allucinado; E cheias do esplendor da mocidade ardente Se approximam do rei, encantadoras, mansas, Trazendo ao soberano outr'ora indifferente Um ramo multicor de lindas esperanças... Merab e Mical, fallando ao rei: — "Nosso pae e senhor, a vida assim. é ingrata, Para um rei como vós, e, impõe o nosso amor, Que mandemos buscar, lá das bandas de Ehprata, Um habil e sereno e pallido pastor, Que arranca notas mil, em branda serenata Quando toca febril seu magico "kinor"... Assim esquecereis, o mal que vos agita, A dôr feroz e má que vos magoa ainda, Ao rithmo do kinor do jovem bethlemita... Mandae senhor e pae, pois essa dôr infinda, Ao rithmo celestial da musica bemdita Transformada em prazer será mais doce e linda!!
Saul, chamando Doeg, ordena a vinda do pastor: — "Quero esquecer de vez as minhas agonias E espantar o pezar que o destino semeia... — Parta para Bethlem, á casa de Isaias E ordene a esse David, a vinda até Guibéa''... O administrador dos rebanhos, parte á procura do jovem pastor, sagrado pelo Nabi rei de Israel. II As filhas de Saul, O rei amaldiçoado, Esperam vêr no azul O principe encantado... Será bello o pastor? Perguntam em segredo, Ambas cheias de amor, Ambas cheias de medo... As filhas de Saul vão para os bosques esperar o pastor... Architecteando em sonhos Encantados castellos, Olhos, langues e bellos, Torturados em ancia, Percorrem a distancia, Indagando tristonhos Onde estará o pastor, O jovem bethlemita, Cujo meigo "kinor" Em suas mãos palpita? Subito apparece na distancia, David, que vem em companhia de Doeg Eis que surge no caminho Meigo e bello o pastorinho...
David, chega perto de Merab e Mical Vem de uma longa jornada A pelle fina, queimada, Mas de uma belleza sã, E' mais linda que a romã... Olhos negros e pisados, Cabellos pretos cacheados, Labios tingidos de sangue, Chega afinal, vem exangue... David que chega radiante De sublime formosura, Tem no pallido sembiante Um ar de meiga doçura...
David apeando-se do jumento e dirigin- do-se ás filhas de Saul: Lindas filhas de Saul Rei do povo de Israel, Lastimo que o meu corcel Seja tardo e seja rude, Para cortar a amplitude, Veloz como o pensamento E num rapido momento Vir sereno como a idéa Desde Bethlem a Guibéa... Invejo o vôo das aguias Que soberbas e altaneiras Cortam serenas o azul... Quiz em vão chegar de pressa E caminhei pelo monte... Mas vi com funda tristeza, Surgir o sol no horizonte... E caminhei... Caminhei... Mas, ingrato tombou o sol, E eu que era alegre, fiquei Triste por vêr o arrebol...
David, entrega a Merah um bolo de mel; Acceitae este presente Que não tem nada de estranho, E' o fruto do meu rebanho Trabalhado humildemente...
0 pastor offerta a Mical duas pombas brancas : Não reclama muita sciencia A offerta que vos destino. E' o symbolo da innocencia E do amor casto e divino... David, guiado por Merah e Mical, e, acompanhado por Doeg, chega ao gyneceo, onde Saul esperava a sua chegada. III A treva pela noite é um manto de velludo, Sobre a triste Guibéa onde repousa tudo... David é recebido pelo rei na sala de armas. Este, teve um choque violento, vendo o jovem pastor, porém é dissipado pela attitude humilde de David. Saul, dirigindo-se ao pastor: Pelo Deus vivo que amo, espero ó bom pastor Que dissipes meu mal com teu meigo kinor...
David, obedecendo, entôa um hymno. Ha urna vaga fragancia de sandalo e a luz agonica nos candelabros solitarios... O bethlemita, após o hymno de amor, cujas notas cariciosas ainda se derramam na grande sala do gyneceo, contempla os olhos lindos de Mical.
Falla o Rei: — "Jovem pastor, a tua musica me embriaga Doce e feliz, meu coração enfermo afaga... Toca mais, inda mais, deixa que eu adormeça Ao rithmo do kinor, num sonho de belleza... Quero esquecer a magua, o pezar esquecer E ouvindo-te tocar, tranquillo adormecer...
O rei adormeceu — sómente Mical contempla amorosa os olhos do pastor, que continua tocando. Na semi-obscuridade, o metal estremece, 0 oiro, vive agora, e, na sala parece Que a vida despertou e palpita nas cousas... Erra um perfume além de sandalo e de rosas E o "kinor'' a trinar harmoniosos harpejos. Como um amante ideal vae derramando beijos.
Tocada pelos effluvios da harmonia, a flôr do amor abriu no coração de Mical, que se approxima de David... Em quanto a luz dos candelabros esmaece, Lento o kinor suspira e languido emmudece ............................................................ O torso semi-nu'... Com as pomas erectas, Mical vibra, sentindo as emoções secretas... Em Guibéa de Benjamin, o sol accorda entre nuvens...
A Um Fauno... Sarah de Tobias Meu pobre e lindo Fauno adolescente, Como o som da tua flauta faz vibrar A minha carne, arrebatadamente. Dentro da noite de luar... E quando ecôa a musica sonora, Da tua flauta de marfim Sinto vibrar ó Fauno, dentro em mim, Uma volupia tentadora. Amo o teu lindo corpo esguio e forte, Os teus olhos em languidos cilicios, Amo o ardor infinito dos teus vicios Que dão a vida e a morte... Amo a noite de luar, serena, calma, O brilho esplendoroso das estrellas, Amo as estrophes languidas e bellas Que para mim arrancas d'alma... E quando vens, dentro da noite quieta A' luz do luar alvissimo de prata Entoar uma sonata, Eu sinto ó lindo Fauno adolescente, Que amo o poder, arrebatadamente, Que te fez homem e te fez poeta... Suggestão Sarah de Tobias Amo ao cahir do sol, a olympica belleza Que tonaliza o poente, Amo o sol que tombou como um adolescente Enfermo de tristeza... Tenho culto por tudo o que é vellado e frio, Pelo cantar do rio, Por tudo o que é ligeiramente Transparente... Borda o sol ao morrer, esboços de aquarellas Serenas e bizarras... Ouvindo o farfalhar das folhas amarellas Alegres chiam as cigarras... Eu amo as noites claras de abandono Em que o luar, Tem caricias de luz e desmaios de somno E se fica a scismar... Adeus Sarah de Tobias Versos que eu trabalhei á sombra do retiro, Onde vivo enganando as emoções que eu sinto, Levae para o além o languido suspiro Da magua e do pezar que agitam meu instincto. Ide felizes, voae á paz das horas quietas, Levae meu desencanto em phrases voluptuosas, A' santa inspiração dos lubricos poetas Ao retiro feliz das virgens amorosas... Emoções que eu senti, palpitando Secretas Levae o meu ardor, deixae-me as horas quietas.
Créditos à obra: Autor: Tobias, Sarah de Título: Emoções secretas (versos) Local de Publicação: Curitiba : Placido e Silva & Cia Ano de Publicação: 1924 Descrição Física: 93 p., fot. Idioma: Português Direitos: Domínio público Assunto: Literatura brasileira - Séc. XX Poesia - Séc. XX - Brasil Assunto: Brazilian literature - 20th century Brazilian Poetry - 20th century URL: http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01925600 Tipo: Livro