Ilustre Patrono Fernando Pessoa,
o blogue Expressão Mulher-EM lhe pergunta:
A Morte é a Curva da Estrada,
Fernando Pessoa
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
A Morte Chega Cedo
Fernando Pessoa
A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
(Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”)
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
(Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”)
Para Além da Curva da Estrada
Fernando Pessoa (por Alberto Caeiro)
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva.
Só olho para a estrada antes da curva.
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes
da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro
lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde
estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra
parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para
além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá
chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes
da curva
Há estrada sem curva nenhuma.
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva.
Só olho para a estrada antes da curva.
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes
da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro
lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde
estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra
parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para
além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá
chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes
da curva
Há estrada sem curva nenhuma.
Fernando Pessoa (por Alberto Caeiro)
Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Ilustre Convidado, Romildes de Meirelles,
o Blogue Expressão Mulher-EM lhe pergunta:
Poeta, o que significa a morte de um poeta?
O Poeta Não Morre
Romildes de Meirelles
Parte um poeta!... Luto na poesia!...
Mas não termina a vida do escritor,
do artista da palavra, trovador
e poeta que dá-nos alegria,
de seu versos, cantando todo o amor
que lhe vai na alma, e o canta com mestria.
Não, não morre o poeta. Este escultor
da palavra, do amor e da harmonia,
há de viver por toda a eternidade,
deixando aqui apenas a saudade,
entre as palavras que podemos vê-las,
compondo estrofes lindas com seus versos,
que se amontoam pelo céu dispersos,
no rastro luminoso das estrelas..
No Jazigo do Poeta
Romildes de Meirelles
(homenagem ao Saudoso Poeta Francisco Igreja)
— Vem, coveiro, mostrar por piedade
onde descansa meu querido amigo;
quero prestar ao pé do seu jazigo
o meu último preito de amizade.
Eu quero ver seu derradeiro abrigo
e matar em meu peito esta saudade;
se foi a morte uma fatalidade,
foi para nós poetas um castigo.
— Eis, senhor, nesta cova escura e fria
jaz o poeta e toda a sua poesia.
— Aqui?! Aqui?! Oh, não, mentes, coveiro;
Não nesta cova pequenina, abjeta,
pois para conter os versos do poeta
até mesmo é pequeno o mundo inteiro!
Uma honra e um enorme prazer, voltar ao Expressão Mulher e deparar-me com estes dois magníficos sonetos do poeta Romildes de Meirelles, cuja poética desconhecia ainda!
ResponderExcluirO maior dos meus abraços para todos vós, obreiros deste magnífico espaço da Poesia no feminino!
Maria João Brito de Sousa
Gostei muito da pergunta do EM ao patrono e, evidentemente, das "respostas" dele.
ResponderExcluirRomildes de Meirelles está brilhante em seus dois poemas. Eu não a conhecia e, certamente,
ficará em minha lista de leituras.
Abraço a todos e uma boa semana!
Que maravilha, Regina, encontrar neste simpático blogue, como patrono a figura ímpar desse grande poeta que é Romildes de Meirelles, tão portentoso sonetista quão exímio trovador! Esse brinca com as palavras, dá um show de rimas e dribla maravilhosamente quaisquer metrificações. Sempre se aprende mais lendo o que ele escreve. Hoje o elenco de colaboradores do Expressão Mulher fica mais rico de inspiração e lirismo. Parabéns por tão preciosa aquisição! Humberto Rodrigues Neto - São Paulo.
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ResponderExcluirQuem conhece Meirelles não pode deixar de ser seu amigo e admirá-lo por todas suas pequenas grandes qualidades - simplicidade, seriedade e, acima de tudo, grande sensibilidade de poeta. Conviver com ele é admirar tudo isto e ainda se emocionar com sua invejavel memória, pois raros serão os poemas que não saiba de cor - um poeta completo na acepção da palavra e de grande invergadura. Infelizmente vivemos num país sem memória e sem cultura, cuja mídia só divulga o que quer sem pesquisar os valores alijados e ignorados. Com longa estrada no segmento, ofusca com facilidade os grandes "valores" impostos pela mídia. O EM está de parabéns, como também o Meirelles por terem se encontrado neste recanto.
ResponderExcluirRomildes de Meirelles, bravíssima é a sua participação no EM. Talvez seja o seu olhar de simplicidade da foto que me deu a segurança de entrar consigo na sala do mestre Fernando Pessoa, sentindo-me a vontade para sentar e assitir esse rico diálogo poético entre os dois sobre a morte, tema tão obscuro para muitos. Mas que interessante e convincente a teoria de cada um, ambas impulsionando o mais alto nível da reflexão.
ResponderExcluir" ... Morrer é só não ser visto" - Fernando Pessoa
" ... se foi a morte uma fatalidade,
foi para nós poetas um castigo." Romildes de Meirelles
Foi um prazer estar em companhia de sábios poetas.
Abraço emocionado da Raquel Nonatto
"Não, não morre o poeta. Este escultor
ResponderExcluirda palavra, do amor e da harmonia,
há de viver por toda a eternidade,
deixando aqui apenas a saudade,
entre as palavras que podemos vê-las,".
Poetas e poemas serão sempre ternos.Por que esconder que chorei ao ler esse poema.Parabéns, Romildes de Meirelles, pela sensibilidade nos versos.
Abraços, Tetê D´Oliveira
Ilka e Regina, amigas do meu coração, peço desculpas pelo atraso da minha visita, mas estava de fato ausente da net.
ResponderExcluirQue mais linda atualização, meninas!
Estou encantada e emocionada com os sonetos de Romildes de Meirelles e com os poemas de Gilka Machado, da nossa querida "Olhos de Lince" Marilda Diorio e das poetas Conceição Evaristo e Virgínia Vendramini. Deixo aqui registrada a minha admiração por todos eles e junto o meu agradecimento pelos sentimentos que despertaram em mim com suas escritas.
Mais uma vez e sei que serão todas as vezes, vocês duas dão um show com as escolhas que fazem.
Parabéns Expressão Mulher e muito obrigada por existir em nossas vidas e na vida da Poesia.
Com carinho e afeto
Sandra LC Perazzo