Do Amor Unilateral
Ana Maria Gazzaneo
É tanto amor que trago no meu peito
Que sei que te amaria eternamente
Que importa se o vazio do meu leito
Revele o meu amor lateralmente?
Eu amo e isso me basta, certamente
Não necessita ser correspondido
Embora eu te deseje imensamente
Me basta tão somente o referido.
Eu te amarei sem peso e sem medida
Incenso eu queimarei em sua honra
Porque me faz feliz, amar, somente.
Assim, só por amar, minha alegria
Riqueza que me deixa satisfeita
Mesmo que eu nunca seja a sua eleita.
Volta
Ana Maria Gazzaneo
Pra variar eu volto pro teu lado
Que descobri que é o meu lugar
Desiludida de tanto vagar
Se me quiseres deixe-me um recado.
Não quero mais deixar-te assim balado
As tuas penas hei de amenizar
E a feridas que acaso sangrar
Vou estancar com meu amor dobrado.
Quem dera enfim, juntinhos nós sigamos
E o sofrimento tanto e variado
Seja sanado em doce conviver.
Possível seja sem mais desenganos
Seguirmos juntos e o nosso fado
Venha mudar o que sobrou viver.
Resumo do Dia
Ana Maria Gazzaneo
Certeza que não fiz tudo o que eu quis
Mas mesmo assim termino grata, o dia.
Talvez insatisfeita impeça um bis
Mas vale pelo ar de nostalgia.
Bem menos que somou o meu desejo
Bem claro que sobrou algum amargo
Mas outro bem melhor eu já prevejo
E jogo em seu afã o duplo encargo.
No dia que virá, guardo esperança
De ver nascer o sol da alegria
E roube meu sorriso de criança.
Espero vivenciar sem contratempo
O sonho que sonhei e uma poesia
Rascunhe o meu prazer como eu queria.
Romântica
Ana Maria Gazzaneo
Na árvore da pracinha, à canivete
Grafei teu lindo nome junto ao meu
Num lindo coração, pintei o sete
Romântica, te fiz o meu Romeu.
No tempo sei que cicatrizará
O amor que lá gravei com peraltice.
Cruel realidade me fará
Até sorrir de tanta invencionice.
Não ligo o amor irriga essa ousadia
Que toma as minhas mãos, guia meus passos
Me leva por caminho venturoso.
... de ombros, pois me alegra essa mania
De romancear teus beijos e abraços
Mesmo que ao fim se torne infrutuoso.
Decepcionada
Ana Maria Gazzaneo
Palavras não espelham o sentimento
Que rouba a minha voz, macula o canto.
Meu verso abandonado e sem encanto
Ilustra na pobreza o meu momento.
Quisera descrever contentamento
Com seu encantos mas, negros cenários...
Sequer eu sei falar destes fadários,
Algozes que roubaram meu intento.
Queria descrever só o que é belo
E grande e em si trouxesse uma mensagem
Mas outro o meu falar, só um lamento.
Poupar-lhe-ei de descontentamento
Calando a grande dor que em tal voragem
Engole em tal furor o meu castelo.
Sobre a “Idade de Ser Feliz”
Ana Maria Gazzaneo
Qualquer idade é boa para o gozo
Não se limita o desfrutar do mesmo
Nem se licita por viver coeso
Nem se é castrado ao existir ao esmo.
Qualquer idade alcança a plenitude
O que importa é estar de bem com a vida
Felicidade nunca foi açude
Nem qualquer trunfo que se adere à lida
Eu penso mesmo que feliz só seja
Quem de olhos credos permaneçam puros
E jamais vejam entre os quintais, os muros.
E penso até que seja, o ser feliz
Uma facilidade de escapar por triz
Desta maldade que o mundo troveja.
Sedativo
Ana Maria Gazzaneo
Escrevo... Estranha esgrima que me salva
Do tédio destes dias tão iguais
Da morte, do perigo e atemporais
Que ameaçam a paz dessa ressalva.
Escrevo e assim renasço ao fim do dia
E vivo a alegria deste engano
Sem importar, se pós, em perda ou ganho
O que me sobre então, fé, heresia.
Mão dócil e sem nenhuma outra intenção
Deslizo com a pena a branca linha
Desenho a sensação que me alicia
Que importa se em banal declaração?
Labor que me mantém assim, calminha
Agita, me alimenta e me vicia!
Pulando do Penhasco
Ana Maria Gazzaneo
Maculado o que sinto, do espelho me afasto
Sem repasto desisto da inútil porfia
Ar solene rebate o motivo não casto
Só me resta esvair pela rima em poesia.
Fosse nobre o motivo não hesitaria
Dormitar abrigada sob a sedas do emplasto
Em palavras fugazes aos céus renderia
Sinfonias, oráculos, nunca a fuga e esse asco.
Mas o horror e esse abraço da cruel letargia
Que me prendem sem fim, sob gélido casco
Em veneno transformam a beleza do dia
Não, não posso e queria semear a alegria
Semear o planeta com o sonho, euforia
Mas despenca senil, meu querer do penhasco.
Ode à Tristeza
Ana Maria Gazzaneo
Dias nulos me enovelam numa bolha
Jazem rotas as antigas ilusões
Existir nesse marasmo sem escolha
O que resta, horas mortas sem paixões.
Enumero sem beleza esses vilões
Que tingiram de horror os meus momentos
Retalharam meu futuro e em senões
O que resta de existir em fragmentos.
Horas tolas, rabiscar desses sentidos
Sem pudores os meus ais mais doloridos
A tingir de tom cinzento ode à tristeza.
De mau gosto essa atitude, sem beleza
Sensação que me desola e faz banida
Sem desfecho, foge ao eixo, morte em vida!
Máquina do Tempo
Ana Maria Gazzaneo
Daqui não levaremos, fama, nada
Conforme o que trouxemos levaremos
E os remos da esperança deixaremos
No cais abandonado, finda a estrada.
Epílogo, um sinistro ou mesmo piada
Na síntese de tudo, seus extremos
A revelar bem mais do que nós vemos
Rasgando os véus da última abobada.
Em pó nos tornaremos na verdade
Na máquina do tempo, o nosso fim
Martírio que nos lança ao infinito.
Certeza, no mistério vai implícito
Revelação da mágica de MERLIN
Por fim a tão sonhada liberdade.
Aos Críticos
Ana Maria Gazzaneo
Um soneto, por audácia, irei compor
Com migalhas, que me sobram, de tua mesa
Se faltar alguma coisa, por fineza
Não se irrite, nem sorria, por favor!
Mendigando, o que em talento, sobra a tantos
Lá vou eu, na ilusão, riscar bobagem...
Talvez não! Maduro o trigo da estiagem,
No deleite, deste feito, eu ganhe encantos.
Caso falte algum acento, me corrija...
Não se acanhe em condenar meu Português.
Se berrante a minha falha, eu passo a vez!
Mas se acaso, algum descaso, ao que eu redija
Com certeza, outra loucura me agite,
Vou de novo, implorar, por seu palpite!
Caçando um Riso
Ana Maria Gazzaneo
Qualquer coisa que eu disser
Soará vazia e estranha
Tristeza que vem da entranha
Atravanca o meu viver.
Tenho o olhar perdido, lasso
E a voz bem embargada
Nesta tristeza, danada
Um sorriso fácil, caço.
Quem sabe lá na sacada
Do teu belo sobradinho
Eu recolha uma cantada
E te jogue o meu beijinho
Vou passar na sua rua
Com meu vestido florido
Não te sintas coibido
De pedir-me pra ser tua.
A tristeza que me amua
Com certeza vai passar
Se eu conseguir te achar
E te amar por sob a lua.
Doce Afã
Ana Maria Gazzaneo
Mergulhada em meu labor
Nada penso, à própria lida
Sempre entrego a minha vida
Em nada mais o meu dispor.
Horas bebem meu suor
Se alimentam do meu ser
Do labor recolho a dor
Mas também o meu viver.
E assim me entrego afeita
Ao mais sutil holocausto
Confiante que da empreita
Colherei riso mais lauto.
Sei que um dia, afadigada
Me dispense deste afã
Sequer haja um amanhã
Haja um fim para a jornada.
Até lá, fiel prossigo
A lançar sobre o meu dia
A semente deste trigo
E colhendo a poesia.
Desértica
Ana Maria Gazzaneo
Na fase das conchas
Cuspidas do mar
Na areia espalhada
O meu divagar.
Lua devastada
Por denso nevar
Na noite calada,
Meu céu, sem luar.
Homenagem ao Poeta
Ana Maria Gazzaneo
Alguém inventou um dia
Em homenagem ao POETA
Quisera fazer poesia
Para a homenagem completa.
Poder falar desse ser
Que diferente dos mais
No mundo faz acontecer
Revoluções ancentrais.
Nunca se perde em falácias
Como voz do amor, da paz
Semeia as belas acácias
Depois de mil roseirais.
São fartos os seus trigais
Seus campos são sem peçonha
De ser dócil até demais
Poeta não tem vergonha.
Taxado de canastrão
Seu aceno é de brandura
Em tudo põe coração
Mestre se faz em candura.
Elas por Elas
Ana Maria Gazzaneo
Elas por elas, prossigo
Como se em novidade
Os desejos que persigo
Sem qualquer necessidade.
Como num jogo em lazer
Que nada há de acrescentar
Teço os meus sonhos sem ver
Sem me importar em ganhar.
Sem criar expectativa
Nem cavar fosso ao desgosto
A alegria me cativa
Não dou campo ao seu oposto.
Breviário
Ana Maria Gazzaneo
Pelos caminhos da sorte
Sob o sol ou tempestade
Sempre mantive o meu norte
Com muita garra e vontade.
Se aqui hoje, termino
Grata pela realidade
Que brincando, enfim domino
Não foi por fatalidade.
Bençãos dos céus sempre houve
Nunca neguei, agradeço
Proteger-me sempre aprouve
Aos anjos do meu apreço.
Logo mudo de endereço
Me entrego à metamorfose
Na escala que conheço
Veste da nobre gnose.
Peço não haja tristeza
Sequer lamento ou revolta
Beija-me aura em nobreza
Felicidade me escolta.
Coração Preguiçoso
Ana Maria Gazzaneo
Meu coração tão silente
Segue inerte no seu canto
Bate baixinho, indolente
Sem paixão e sem encanto.
Nada o move, em desengano
Finge que é morto o danado
Passa dia e passa ano
Permanece recatado.
Já não faz juras de amor
Nem mais perde o rebolado
Cansou de ser sonhador
Vai quieto, acabrunhado.
Já não se altera, vadio
No seu fraco movimento
Qualquer dia, sem um pio
Permite o meu pó, ao vento.
Sonho, Tempo, Brincadeira
Ana Maria Gazzaneo
Os céus que eu concebia
Feito nuvens de algodão
Sem futuro, alegoria
Despencaram pelo chão.
Os sonhos que eu sonhei
Sem corpo ou face pra vida
Evaporaram, sobrei
Olhando a data vencida.
Hoje sei o quanto custa
Cada pérola do tempo.
Que a realidade assusta
E é real esse evento.
Meeira
Ana Maria Gazzaneo
Divinal escapulida
Por entre as vis reticências
Não imploro por clemências
Nem protejo a minha vida.
E nessa face despida
Sem limite, ao seu dispor
Deixo estampada em perdida
Tela de computador.
Eu, sob os eixos da esteira
Folha ao vento a rodopiar
Da tua atenção, meeira
No mais doce delirar.
Vou Vestir a Fantasia
Ana Maria Gazzaneo
Vou vestir a fantasia
Me perder lá na avenida
Me embriagar de poesia
Pela alegria surgida...
Deixar fluir o amor
Energizar a carcaça
Sentir prazer do sabor
Dessa ilusão que passa.
Depois sequer vou me opor
Deixar o sonho esvair
Num relax para a dor
Vou sambar e vou sorrir...
Muuuuito bem, Ana, só o soneto de abertura mostra o quão talentosa você é, um decassílabo heroico digno se aplaudir de pé. Muuuuito bonita a sua página, Ana, tudo na medida certa. Mineiro fala errado, mas faz as coisas certas, não é mesmo?Um abraço chique para você.
ResponderExcluirGrata, amigo, José Edward. Ser avaliada por quem admira e nos incentiva é sempre um motivo de alegria. Grata pela gentileza. Meu carinho, sempre! Abraços
ExcluirAna Maria, aproveitando o abraço chique que o seu leitor anterior lhe deixou, deixo-lhe um abraço perolado pelos versos francos e raros de sua construção que tão bem fizeram à minha alma. Amei a sua poesia!
ResponderExcluirFizze Hernandez
Boa tarde Fizze
ExcluirFico feliz que tenha gostado e agradeço suas palavras gentís e incentivo!
Abraços gratos para você também e sejas sempre bem vindo à nossa página.
Retribuo o carinho
Ana Maria Gazzaneo
Ana Maria, não conhecia os seus textos e confesso, estou encantada com todos eles que estão aqui neste espaço que tanto amo e admiro.
ResponderExcluirParabéns Ana Maria!
Ilka e regina, obrigada meninas, por me apresentar esta poeta maravilhosa!
Meu carinho
Sandra LC Perazzo
Agradeço juntamente com você, querida Sandra a oportunidade de colocar à mostra um pouco daquilo que venho escrevendo... Confesso que Ilka e Regina fizeram um òtima seleta de tudo, e que bom que você gostou.Incentivam-me a criar mais e melhor, com certeza, afim de presenteá-las.
ResponderExcluirAbraços, minha gratidão eterna e carinho a vocês: Sandra, Ilka e Regina.
Ana Maria Gazzaneo
Muitos aplausos meus, Ana Maria, muitos aplausos especialmente ao seu poema PULANDO DO PENHASCO, pois se me permite, pensarei que foi escrito pra mim:
ResponderExcluir... "Não, não posso e queria semear a alegria
Semear o planeta com o sonho, euforia
Mas despenca senil, meu querer do penhasco.
BRAVO!!!
Abraço o seu talento!
Carinhos da leitora,
Eliza Been
Ana Maria,
ResponderExcluirseus poemas falam contestam e afagam...
amparam a vida e ensinam-nos como lidar com ela...
Seus poemas são água fresca em deserto muito quente...
É muito bom ler Ana Maria Gazzaneo!
Abraços,
KK Poeta
Caríssima poetisa Ana Maria Gazzaneo . Estive aqui no Blog “Expressão Mulher” e visitei a sua linda página. Parabéns pelas lindas obras que você oferece aos leitores internautas sedentos de boas leituras. Um forte abraço -Sardenberg
ResponderExcluirQue coisa mais linda!... Somente hoje que dei com a preciosidade deste teu blog, Ann Mary!!! Tudo nos trinques, poemas teus que não conhecia, todos de altíssima qualidade. Parabéns, mina, além de poetisa maior, tu tens mãos de artesã. Um felz domngão pra ti, mina. Beijos,JG.
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