Canção do Desencontro
Dúnia de Freitas
Fui guardar meus versos
em tua vida.
Na encruzilhada,
desviei-me de ti.
A vida me fez vestir
minha palavra de silêncio.
E te perdi.
Canção do Meu Olhar
Dúnia de Freitas
Dúnia de Freitas
Se meu olhar
te disser além, muito além
do que queres saber,
desvia.
te disser além, muito além
do que queres saber,
desvia.
Se meu olhar
me trair
e deixar transparecer
toda a ternura
que tenho por ti,
disfarça.
me trair
e deixar transparecer
toda a ternura
que tenho por ti,
disfarça.
Se meu olhar
tentar assim
te conquistar e seduzir
e o brilho ardente
te incomodar,
dissimula.
tentar assim
te conquistar e seduzir
e o brilho ardente
te incomodar,
dissimula.
Se meu olhar,
em teu olhar, encontrar
a mesma sintonia,
por favor,
sorria.
em teu olhar, encontrar
a mesma sintonia,
por favor,
sorria.
Cores: Inquilinas do Mundo
Dúnia de Freitas
Dúnia de Freitas
A cada nova aurora,
réstias de luz
brincam em nossas vidraças,
e aguardam a febre do meio - dia.
réstias de luz
brincam em nossas vidraças,
e aguardam a febre do meio - dia.
Na dispersão da luz
as cores se avolumam:
terra, laranja, amarelo e ferrugem.
as cores se avolumam:
terra, laranja, amarelo e ferrugem.
Vestida de espectro solar, a natureza
realça sua viveza até afogar-se num pélago
de tintas outonais.
realça sua viveza até afogar-se num pélago
de tintas outonais.
Entre contrastes, a lúcida pupila
acomodou sua alma
na visão edênica,
criando para si
um mundo ainda inconcluso,
advento da tônica final.
acomodou sua alma
na visão edênica,
criando para si
um mundo ainda inconcluso,
advento da tônica final.
O que esta visão revela?
Um silêncio?
Uma ventania?
Uma canção?
Colhe-se Canções quando em Pranto
jogamos as sementes?
Um silêncio?
Uma ventania?
Uma canção?
Colhe-se Canções quando em Pranto
jogamos as sementes?
Hora Matinal
Dúnia de Freitas
A lagarta enrolou-se
formando um anel verde
com seus pés rombudos.
formando um anel verde
com seus pés rombudos.
Paredes rachadas em gretas de ouro
refletem coreográfica dança solar.
refletem coreográfica dança solar.
Há sombra de flores azuis
em forma de dedos sob a janela.
em forma de dedos sob a janela.
O sono, enovelado feito nevoeiro,
ultrapassa o telhado
abrindo as comportas do dia.
ultrapassa o telhado
abrindo as comportas do dia.
Pássaros voam, em jatos de sementes:
germina a musicalidade da manhã.
germina a musicalidade da manhã.
No muro, coberto de heras,
flores bóiam como peixes de luz
nas águas escuras e verdes.
flores bóiam como peixes de luz
nas águas escuras e verdes.
Navegantes do dia, num vai-e-vem,
carregam no olhar parcos silêncios.
carregam no olhar parcos silêncios.
Um Quintal de Memórias
Dúnia de Freitas
Entre o bocejo e o sonho
penetro em meu quintal.
As árvores, testemunhas de minha infância,
sempre de pé, sem mudar de posição,
estão lá... vestidas de silêncio.
O flamboyant. O ipê. A sibipiruna.
O marmeleiro e suas varas flexíveis
cheio de ais arrancados pelo vento.
A jabuticabeira enfeitada de festa
com colares de ônix volteados no tronco.
A pitangueira mostra a visão
de um candelabro de jóias vermelhas
ardendo em pleno dia.
Rosas circundam os beirais dos canteiros.
Entre tudo, jardins circulares
guardam amores - perfeitos.
Este era o lugar sagrado, o recanto do monólogo:
eu comigo, solidão acompanhada.
Chão lavado de chuva
recende no ar o cheiro da terra molhada .
O silêncio me interroga.
Espio as árvores vivas,
as raízes enlaçadas, os ramos entretecidos.
Minha memória aspira largamente o ar...
carregado de cheiro de infância.
Bebendo em Chávenas dos Ventos
Dúnia de Freitas
O fogo do ar
apagava-se lentamente...
O castelo do corpo
sabia da tua chegada.
Penhascos de palavras vicejam
feito codicilo,
em chávenas dos ventos.
Manancial poético
bebido a dois.
A verve do bardo Borges
balança nossa poesia :
"toda a casa é um candelabro
onde as vidas dos homens ardem
como velas isoladas".
E neste prado das gaivotas
navegamos
com a bússola da palavra.
Com as luas da fronte
entrevimos
o cavalo da neblina.
E bebemos a lua.
Verbo Ad Verbum
Dúnia de Freitas
Palavra é água
que mata a sede,
brota da sombra.
Persigo a palavra
no vão da sombra
que me foge.
Colho a palavra
em estado de crise.
Ergo-a no escuro.
Ferida de luz
a poesia sangra.
Despedida sem Abraço
Dúnia de Freitas
Muito antes do amanhecer
ele desperta.
A mesa está posta com cântaros
onde bebem deuses.
Corpos plenos de saciedades enrugam.
Antes de ir-se, atiça um sonho,
um sonho ressonante de passos:
escutas medir as distâncias
e jogas pra lá tua alma.
Destreza
Dúnia de Freitas
Gosto de ti sem tamanho,
gosto de ti sem medida.
Gosto de ti.
Gosto e pronto!
Lembro teu cheiro,
lembro teu gosto.
Lembro de ti.
Lembro e pranto!
Canção para o Mar que vem Me Fazer Rio
Dúnia de Freitas
Será mar, será rio,
esta inundação de amor?
Descubro porque rio...
é pelo amar.
Este mar ateia fogo no meu coração...
Dentro deste mar convulsiono meus sentidos
que gritam por navegá-lo.
Rio em silêncio.
Respiro brisa de mar de rosas
e o ar marinho se instala em meu corpo.
Reverbera em mim...
tua luminosidade.
Sazonada que estou
amaduro com teu cheiro
e me solto em tuas mãos.
Este mar... traz os olhos cobertos de orvalho
para regar meus lábios.
O pensamento se faz barco...
e nas noites viajo em busca deste mar
que me faz maré cheia em sua praia...
Vem desaguar teu mar
em minhas terras quentes e generosas.
Tarde em Arlington
Dúnia de Freitas
Serpentinas cantam
no sopro do vento.
O farfalhar da vida em mim
grita teu nome.
Cascata de cores devora sombras.
Pedras acumulam limos.
Parasitas renascem na avidez
das seivas emprestadas.
Achas de lenha empilhadas
esperam ser lambidas pelo fogo.
Esquilos acrobatas perambulam
em troncos assimétricos.
Um poste de pedra
com luz solitária faz sentinela.
Tudo está em seu lugar,
apenas eu, a estrangeira.
Declaração de Amor diante da Vida
Dúnia de Freitas
Declaro publicamente meu amor
neste dia 12 de junho
à vida.
Namorar a vida
é acordar
com festejos no coração.
É ver o verde contrastando o azul,
no amarelo o púrpura.
Na mistura de tons
encontrar o tom perfeito.
Nesta harmonia,
descobrir o sentido exato da vida.
Namorar a vida
é sentir as pessoas
que nos cercam,
nossos amigos
e através da convivência
descobrirmos a delícia de sermos amantes dela.
Namorar a vida
é resolver o não resolvido,
é dar solução
ao que não tem solução.
Viver é namorar a vida.
Dúnia, seu viver namorando a vida e sendo a expressão mulher/ fortaleza, é contagiante! Parabéns/abraços/
ResponderExcluirObrigada e quero mais do que nunca continuar namorando a vida. Regina o meu carinho.
ExcluirQuerida poetisa Dúnia de Freitas, sua TARDE EM ARLINGTON é belíssimamente estrangeira e doce. Parabéns, poetisa!
ResponderExcluirAbraços,
Hilda Monteiro Sanches
Amada Dúnia, é sempre uma alegria ler a tua alegria de vida e fortaleza. Obrigada por ser e estar querida. Tenho orgulho de ser tua irma. Continue... Avance... Fortaleza de Mulher. Te amo,
ResponderExcluirMara
Obrigada mara querida. Um beijão e meu carinho.
ResponderExcluirMinha querida descoberta Dúnia de Freitas. Seus textos são leves para o coração e fortes para a ação. Maravilhosas pérolas.
ResponderExcluirPorém, a última estrofe da "Canção do Meu Olhar" é ousada, sem perder a ternura. Um sabor novo para quem experimenta e procura na poesia a doçura do mel.
Marco obrigada pela delicadeza das palavras. Um abraço. Foi surpresa encontrá-lo aqui.
ResponderExcluirSurpreender positivamente é gratificante, sempre!
ExcluirBeijo em seu lindo coração.
Cadadia mais eu me encanto com você amigo. Um abração.
ExcluirEstou feliz de encontrar pessoas que gostam de poesia como eu. A todos que teceram comentários muito obrigada. Meus olhos obesos de carinho a vocês.
ResponderExcluirDúnia