GILIA GERLING

RETRATO

Gilia GerlinG

Meu tempo está correndo

Meu chão endurecendo

Meu sonho nebulando

Minha força enfraquecendo

Suaves são as noites,

até que o dia vem

e o som da calmaria,

esvái-se em agonia.

Quero mais fé,

quero mais cor,

quero mais eu, dentro de mim.

Quero que o instante não dure tão pouco.

Quero do eterno um instante de paz.

MANHÃS EM PRECE
Gilia GerlinG

Momentos mágicos, as manhãs.
Mágicas manhãs, quando momentos.
Momentos de mágicas, as manhãs.

Tudo é possível, plausível, fictício ou real.

Importa é amanhecer dentro do dentro nde nós.
Amanhecer para os olhos no espelho.
Importa é amanhecer a cada minuto.
Fazer das manhãs eterrnas primaveras em pleno inverno.
Amar as manhãs como se ama a chegada de um grande amor.
Anoitecer as manhãs com as mais belas estrelas visíveris..
Amanhecer as noites com o sol que aquece feito ternura.

Amanhecer amanhã?
- Nunca!
Amanhecer hoje,
agora e sempre.
amém!


PROCURA-SE

Gilia GerlinG

Procuro uma janela sem grades
mas que, mesmo assim,
me proteja das quedas

e dos invasivos patológicos.

Procuro um tempo tranqüilo,

mas que não me imponha

a inércia do buscar.

Procuro buscar,

mas não quero me esvair em pranto

por não achar o que já sei

não existe mais.

Procuro um desenho que não me imponha forma,
mas que não me deixe desprovida

de paredes seguras
e nem da linha do horizonte.

LEGADO DE AMOR

Gilia GerlinG

Leva minha alma contigo e faz que ela dance em ti

Leva minha alma contigo e faz que ela te respire por inteiro

Leva minha alma contigo e faz que ela vibre a tua

E se eu precisar morrer

Não chore por minha alma

Ela estará eternizada em cada pedaço da tua.

E à noite, quando o vento soprar,

será este o meu canto estrelado para te fazer adormecer.

E sonha!

Sonha, meu infinito amor.

Sonha com minha alma leve e tranqüila.

Minha alma serena e descansada com a memória plena

de teu aconchego de sempre.

E ao sol,

reverencia teu mais belo sorriso.

Será este,

o  meu jeito eterno de te aquecer nas horas frias do cotidiano.

DUPLO POEMA PARA UM DESCONHECER

Gilia GerlinG

Desconheço-me, enquanto com dores

- Dores diversas, avessas e indiscretas -

Desconheço-me, enquanto lúcida

- Lucidez enlouquece, frente a cenários e atores constantes –

Desconheço-me, nas manhãs solitárias

- No entanto, optei pelo estar só,

  quando comecei a me desconhecer -   

Desconheço-me quando não choro

- Aprendi tarde, a chorar o verdadeiro pranto –

Desconheço-me, quando constato:

- Tem horas que não são momentos e existem

 momentos que não estão na hora -

Desconheço-me

- Quando sinto que me conheço -

ENCONTRO

Gilia GerlinG

Despida de máscaras

Isenta de armas

Sedenta de voos

Entregue a momentos

É assim que me quero,

quando meu eu disser:

“Vem, vem sem medo,

que a vida é nossa.”

PERDAS

Gilia GerlinG

Difícil

não são as perdas,

mas entendê-las

Difícil

não são as lágrimas,

mas esquecê-las

Difícil

não são as insônias,

mas os dias e as noites

Difícil

não são as dores,

mas senti-las “repetida-mente”

Difícil

não são as forças que faltam,

mas saber de onde elas não vem

Difícil

não são os olhares,

mas o nada ver

Difícil

não são as mortes,

mas sim vivê-las em vida

MOSAICO

Gilia GerlinG

Estava juntando os cacos da minha vida,

quando deparei com pedaços dos meus próprios olhos.

Os pedaços de abraços que não dei surgiam,

lentamente,

dentro de cada lágrima que eu chorava.

E os medos, que quebrei,

estavam ali,

juntos,

empilhados,

num canto qualquer de mim.

Não nego,

fiquei marcada e os cacos ainda fincam.

Mas, agora, o  meu pranto jorra e

o meu sangue é feito de estrelas. 

PRÓLOGO

Gilia GerlinG

"Sentimentos-Tempos" nos fazem mudar.

Transformam cenas,

luzes, brilhos,

amores e dores.

E como num turbilhão,

fundem-se os sonhos e as realidades

que, confusas,

perdem-se e debatem-se,

machucando a alma

feito foice em corpo exposto.

É preciso muito mais que uma esperança

para alimentar o dia.

Ainda assim vivemos, (ou morremos)

de tanto sentir.

CENÁRIOS DE MIM

Gilia GerlinG

O que fazer dos sentimentos petrificados

que se desenham em nossos olhos interiores?

O que fazer da solidão, sempre tão presente,

no tempo do dia e da noite?

E para onde ir e como caminhar, sem medo,

se alguns caminhos se desfazem como vento?

E como aguardar a manhã,

se a noite insiste em não passar?

Não seria agora, então, a hora de aprender?

Aprender a perder a hora?

Aprender a hora de viver a hora,

na plenitude de seus segundos...

ou, simplesmente,

aprender saborear mais

os minutos que nos afrontam com sua velocidade...?

Silêncio em mim...

As perguntas me doem e as respostas também.

As solidões insistem no sentir e

os afetos gritam no olhar.

Então, se é hora, ou não, já não sei.

E se tudo isso é sonho, já não importa.

Importa é a invenção de vida que eu inventar.

É nela, que vou achar um tempo novo para continuar.

SOLIDÃO CONFIADA

Gilia GerlinG

Eu sei de mim, mas tenho medo.

Tenho medo, mas sei de mim.

E porque me sei,

confio nas solidões e nos exílios aos quais me entrego e

que me acolhem.

O maior medo é encontrar nestes porões de mim,

uma réstia de luz que me diga para ficar abrigada

dessas guerras

de olhares e dos combates

nos interiores dos mal amados.

Mas confio na solidão.

Confio, porque nela encontro silêncio.

E é no silêncio que ouço e falo o que mais preciso, posso e quero.

E haverá de brilhar a réstia de luz, sim.

E ao meu lado haverá, quem sabe, uma raiz quase seca precisando de luz.

E minha lágrima de estimação matará a sede da planta esquecida.

Então, tateando o porão de mim, acharei a saída pelos meus próprios olhos.

INVENTAR HORIZONTES

Gilia GerlinG

Inventar horizontes

Única maneira de suportar a possível perda de rumo nestes

mares aflitos que nos ameaçam todas as manhãs

Inventar gaivotas

Única maneira de suportar estas nossas lágrimas

pela dor maior de um céu não azul

Inventar ondas

Única maneira de suportar a calmaria que a lucidez nos obriga

Inventar sol e lua

Única maneira de suportar estes tempos iguais

que nos enlouquecem com suas diferenças

Inventar velas

Única maneira de suportar o espanto dos nossos olhos

refletidos nas águas que acolhem estes restos de naufrágio

Inventar...

Inventar gaivotas, ondas,

velas, sóis e luas.

E sempre, inventar horizontes

E, caso o horizonte nos falhe,

tentar a sobrevivência

e, se ela se negar,

inventar um cais em cada lágrima.

CENAS

Gilia GerlinG

Vemos a vida que queremos,

através de frestas emprestadas e inventadas

no nosso cotidiano real ou imaginário.

Somos frestas, para sonhos de terceiros

enquanto o sol nos empresta seu brilho

e assim, iluminamos almas sedentas de luz.

Somos frestas, para desejos enrustidos

e sentimentos abatidos que apenas

pedem para serem ressuscitados.

Queremos frestas, para melhor ver nosso

próprio rosto que, nem sempre sereno e doce,

reflete a delícia de viver.

SOLUÇÕES

Gilia GerlinG

É preciso ter cabeça de argila

para que se possa caber nas mãos

de quem faz o nosso dia.

Tomar a forma de tudo

sem tomar a forma de nada...

É preciso ter o fio de uma faca

para que se possa

cortar os frutos do tempo,

fazer um suco de sonhos

para engolir realidades...

E, se os limites

te deixarem com fome de voar,

tenta ao menos entender,

voando em teu olhar...

E, se as palavras doces

te proibirem de falar,

canta, fala, dize e crê:

é preciso ser adulto e criança,

para que se possa entender

os contos de fadas;

olhar a bruxa do medo,

sem ter medo de nada...