O Blogue Expressão Mulher-EM abraça você, Amigo, Poeta ou Leitor, e lhe deseja um Feliz Natal e um Ano Novo de muita Paz, Amor e Fraternidade.
Abaixo, nos versos de diferentes Poetas, Pátrias, Épocas, Estilos e Crenças, o desejo comum: a igualdade entre os seres humanos.
Também é este o pensamento do EM, um blogue feito para afagar a mulher. E o homem também.
O abraço sempre agradecido e feliz do
Rio de Janeiro/RJ, 18 de dezembro de 2015.
PASSEI MAIS UM NATAL
COM MINHA MÃE
Aníbal Nobre
Pedreiras (Porto de Mós) - Portugal
Passei mais um Natal com minha mãe,
Solitário e triste, no meu quarto.
Foi um Natal dif'rente!... mas ninguém
Ouviu o que dissemos - mal ou bem -
Em silêncios de Amor que não reparto!
Olhámo-nos com olhos de quem fala,
(Que o mutismo do Mundo veio a nós...)
Soou a meia-noite... fui beijá-la...
Mas meus olhos - enxutos de chorá-la -
Já só derramam lágrimas na voz!...
E p'ra secar meu pranto neste acto,
Em silêncio fiquei... - triste, porém.
Ela, no Céu, velando o filho ingrato;
E eu, no quarto, olhando o seu retrato,
Passei mais um Natal com minha mãe!
(Do livro Musa Triste, Academia Antero Nobre Editora, 2002, página 29)
A MINHA NOSSA SENHORA
Aníbal Nobre
Pedreiras (Porto de Mós) - Portugal
Ao ser chamada por Deus,
minha Mãe rumou aos Céus
onde, feliz, vive agora!
Mas ao seguir seu Caminho,
meu Presépio pobrezinho
ficou sem Nossa Senhora!
SONÊTO DE NATAL
Machado de Assis
Rio de Janeiro - RJ (1839 - 1908)
(grafia da época)
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o sonêto... A fôlha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
(Do livro Ocidentais, Poesias, 1896, pág. 376)
NATAL DE MARIANA
Machado de Carlos
http://machadodekarlos.blogspot.com.br/2015/12/natal-de-mariana.html
VERSOS A JESUS
J.G. de Araujo Jorge
Tarauacá - Acre (1914 -1987)
Serviu-te a manjedoura humilde de comêço,
nem palácios reais, nem berços de cetim
- aliás, para pregares a obra que conheço
tu só podias mesmo ter nascido assim...
Decorei tua história e dela não me esqueço
porque sei que tu fôste humano igual a mim!
- e sofreste, e sonhaste, e pagaste por preço
do teu sonho o Calvário que aureolou teu fim!
Sem falsas liturgias revelaste a Vida,
e curvado, com o pêso da cruz sôbre os ombros
sangraste os pés desnudos na íngreme subida...
Inútil sacrifício!... Hoje, apóstolos teus
reduzindo a grandeza do teu sonho a escombros
mercadejam teus restos em nome de Deus!
(Do livro Amo!, Casa Editôra Vecchi Ltda, Rio de Janeiro, 1956, páginas 77 e 78)
POEMA DE NATAL
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro - RJ (1913 - 1980)
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
(1946)
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/poema-de-natal
NATAL DE MENINO POBRE
Mário Rossi
Petrópolis - RJ (1911 - 1981)
Quando eu era criança
e vivia o milagre da esperança,
sempre que o Natal se aproximava,
alvoroçado, eu procurava
as vitrinas das casas de brinquedos.
E contava nos dedos,
aqueles que, rezando, eu pediria
quando chegasse o grande dia.
Geralmente,
numa modesta folha de papel,
eu anotava, muito ingenuamente,
o que queria de Papai Noel :
- bolas de gude, soldadinhos,
e outros brinquedos, simples e baratos,
que coubessem, inteirinhos,
dentro dos meus sapatos.
( Eu sei que era um garotinho mau...
Tinha a maldade ingênua dos meninos
que cavalgam corcéis feitos de pau
e cometem pequenos desatinos.
A verdade, porém, é que Papai Noel,
mesmo sabendo
que todos os meninos são assim,
nunca deixou de ser cruel...
E, só pelo prazer de me deixar sofrendo,
não mandava presentes para mim.)
Nas vésperas do Dia de Natal, naquela
ânsia que faz o mundo adormecer sorrindo,
eu punha os meus sapatos na janela,
e tinha sonhos, cada qual mais lindo !
Depois, cedinho ainda, eu despertava...
E, numa sensação desconsolada,
invariavelmente, eu encontrava
- os meus sapatos... e mais nada.
( Ah!,,, como dói, que sensação de frio
deixa na alma dos garotos
- um sapato vazio !...
E algumas vezes, dois sapatos rotos... )
Eu hoje sou Papai Noel... Tão triste
é o meu passado, que me faz chorar...
Meu pobre pai já não existe,
mas me acompanha com um triste olhar
- Nesta saudade que me faz mais triste,
nesta lembrança que me faz chorar...
Parece que o vejo
ao lado de minha mamãe, na porta da cozinha...
O meu presente era o seu beijo.
---------------------------------------------------------------
Que gosto amargo aquele beijo tinha !
NATAL
Olavo Bilac
Rio de Janeiro/RJ (1865 - 1918)
Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...
Não houve sedas, nem cetins, nem rendas,
No berço humilde onde nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na Cruz.
Sobre a palha, risonho e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino Jesus, que está cercado
Dos animais de pobre estrebaria.
Não nasceu entre pompas reluzentes:
Na humildade e na paz desse luar,
Assim que abriu os olhos inocentes,
Foi para os pobres seu primeiro olhar.
No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
Vêm cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.
Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sobre esta palha está quem salva o mundo
Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal!
Natal! Natal! Em toda a Natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve, Deus da Humanidade e da Pobreza,
Nascido numa pobre estrebaria.
(Do livro A Poesia na Escola, Imprensa Oficial, 1956, Belo Horizonte/MG)
SONETO DE NATAL
Odylo Costa, filho
São Luís - Maranhão ((1914 - 1979)
A Luís Carta
Perdi-me dos pastores e sozinho
procuro o rastro do caminho certo.
Há luz no escuro mas não há caminho.
Fica tão longe o que parece perto!
Busco o Menino mas não adivinho
como encontrá-lo no meu passo incerto.
O desespero pesa como vinho.
É a dor apenas que me traz desperto.
Minhas mãos adormecem na quebrada
da noite, pelo frio da chapada.
A neblina se deita no horizonte.
Mas de repente esbarro na lembrança
das risadas de quando era criança,
e Deus nasce do chão como uma fonte.
CANTO DE NATAL
Manuel Bandeira
Recife - Pernambuco (1886 - 1968)
Recife - Pernambuco (1886 - 1968)
O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.
Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.
Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.
Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.
(Da "Antologia Poética, Manuel Bandeira", Editora
Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001)
Alcides Ferreira
São José do Mipibu - Rio Grande do Norte (1888 - ?)
(grafia da época)
Fui menino e você, Papai Noel,
Não pôs presentes nos meus sapatinhos!...
No entanto, aos muitos outros garotinhos,
Você dava brinquedos a granel.
Muitos dezembros vi, bebendo o fel
De uma infância deserta de carinhos,
Enquanto os meus amigos e vizinhos
Das flôres do Natal sorviam o mel.
Você, que eu via em todos os recantos
Da cidade, tão meigo para tantos,
Não teve, para mim, um gesto nobre!
Porém, o seu desprêzo eu justifico:
Você só gosta de menino rico...
Você não gosta de menino pobre!
(Do livro Os mais belos SONETOS BRASILEIROS, Seleção e Notas de Edgard Rezende, 3a. edição, Livraria Freitas Bastos S.A., 1956, página 248)
CONTRASTE DE NATAL
João Roberto Gullino
Rio de Janeiro - RJ
"Nunca voltamos tão tristes à vida,
como quando vivemos a divina mentira do sonho"
(José Maria Vargas Vila, escritor colombiano, 1860 - 1933)
Confraternização com alegria
mágoas ausentes, dores ou rancores,
parece que do peito brotam flores
quando a alma, no Natal, faz terapia.
Tempos sagrados, cheios de magia,
conseguem apagar os dissabores -
em cada esperança fiadores,
misturam emoção com liturgia.
Mas há Papai Noel, doce ilusão
tão inocente e pura, é alimento
que provoca uma triste decepção,
quando pobre criança sem alento,
sonhando melancólica no chão,
verte sofrida lágrima ao relento.
(08-11-1997)
(Do livro Raízes Somente, prazerdeler editora, 2013, página 45)
SONETO DE NATAL
Alphonsus de Guimaraens Filho
Mariana - Minas Gerais (1918 - 2008)
É Natal. Foram tantos os Natais...
Pois que é Natal mais uma vez, apreende
esse cântico longo que se estende
por terras, mares, não termina mais.
Natal mais uma vez. Uma vez mais,
o menino que só a estrela entende,
os pais que a treva inquieta, ela, a quem rende
a certeza das coisas abissais.
Pois que é Natal, pensemos no menino,
apenas no menino. E o contemplemos
no berço onde ora está, tão pequenino.
Já quanto aos pais, a meditar deixemos.
Sabem os pais qual a hora do destino.
Fingindo não saber, sonhando olhemos.
(Do livro Todos os sonetos, Editora Galo Branco)
MEU PAPAI NOEL
Odir Milanez da Cunha
João Pessoa - Paraíba
João Pessoa - Paraíba
Quando criança, eu nele acreditava.
Papai Noel pensava haver, de fato.
Porém, o que eu pedia não me dava,
trocava por brinquedo mais barato.
Exigia estudar: eu estudava.
Dos idosos fugia ao desacato.
Mandava-me rezar: como eu rezava!
Devia comer mais! Raspava o prato!
Então, quando o Natal se aproximava,
meu velho pai (como lhe fui cruel!),
amigo de Noel, a mim falava:
- Escreve o que desejas num papel!
Mas ao ler sobre o sonho que eu sonhava,
como chorava o meu Papai Noel!
JPessoa/PB
25.12.2014
oklima
SONETO DE NATAL
José Antonio Jacob
Juiz de Fora - Minas Gerais
Essa mulher, que sonha, sofre e chora,
E o escasso seio estende, e o acaricia,
Ao filho magro, que seu leite implora,
Podia se chamar Virgem Maria.
O que lhe importa se essa noite é fria
E além da porta é Natal lá fora,
Se Jesus Cristo nasce todo dia
E está dormindo no seu colo agora?
Ela é Nossa Senhora da Pureza,
Cuida da nossa vida de pobreza
E ora por nós que somos filhos seus...
Essa Mulher, que sonha, sofre e chora,
Só pode ser então Nossa Senhora,
A Mãe de todos nós... A Mãe de Deus!
(Do livro Poesia de Bolso, ArtCulturalBrasil, 2011, página 72)
NATAL... NA PROVÍNCIA NEVA
Fernando Pessoa
Lisboa - Portugal (1888 - 1935)
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
NATAL
Olavo Bilac
Rio de Janeiro - RJ (1865-1918)
(grafia da época)
No ermo agreste, da noite e do presepe, um hymno
Rio de Janeiro - RJ (1865-1918)
(grafia da época)
No ermo agreste, da noite e do presepe, um hymno
De esperança presaga enchia o ceu, com o vento...
As arvores: "Serás o sol e o orvalho!" E o
armento:
"Terás a gloria!" E o mar: "Vencerás o
destino!"
E o pão: "Darás o pão da terra e o pão
divino!"
E a agua: "Trarás allivio ao martyr e ao
sedento!"
E a palha: "Dobrarás a cerviz do opulento!"
E o tecto: "Elevarás do opprobrio o
pequenino!"
E os reis: "Rei, no teu reino, entrarás entre
palmas!"
E os pastores: "Pastor, chamarás os
eleitos!"
E a estrella: "Brilharás, como Deus, sobre as
almas!"
Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,
Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos:
Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.
(Do livro Tarde, Livraria Francisco Alves, 1919)
FONTE:
FONTE:
http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/00292700#page/1/mode/1up
NATAIS
João Milanez da Cunha Lima
João Pessoa - Paraíba
Há Natais e Natais nesta cidade
João Pessoa - Paraíba
Há Natais e Natais nesta cidade
e em todo o mundo, tudo é mesmo assim:
uns cercados de viva ansiedade,
outros tristeza adensam, mágoa enfim.
Parece às vezes que uma tempestade
para alguns se arma aos poucos, enquanto no ínterim
outros enxergam só a claridade
em que esperanças luzem sem ter fim...
Que separam Natais? Que aproximam?
Por que comoções mostram desiguais
que de uma forma ou de outra nos dominam?
Mas não é só. Também há os Natais
que deslumbram, inspiram e sublimam,
só traduzíveis em Amor e Paz!
João Pessoa/PB, novembro, 2009
(Do livro Sol das Almas - Sonetos e Poesia Vária, IBRASA, Ano 2011 )
Se não houver partilha de bondade
Não há Natal na vida que amenize
A dor profunda da desigualdade
Entre os irmãos de casa e da marquise.
Que a ceia repartida simbolize
O pão sagrado da fraternidade
E que consagre a paz e realize
Esse Natal de fato e de verdade.
De não ter criança pobre numa esquina
A olhar brinquedos dentro da vitrina,
Onde "Papai Noel" sorri contente...
Natal é muito mais, e mais seria,
Se a gente retribuísse o dia a dia
Que a vida nos concede de presente.
Lisboa - Portugal (1937 - 1984)
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
POEMAS DE NATAL NORDESTINADOS
Categoria: REPENTES, MOTES E GLOSAS - Pedro Fernando Malta
CARTA A PAPAI NOÉ
Luís Campos
Seu moço eu fui um garoto
Infeliz na minha infância
Que soube que fui criança
Mas pela boca dos outo.
Só brinquei com os gafanhoto
Que achava nos tabuleiro
Debaixo dos juazeiro
Com minhas vaca de osso
Essa catrevage, sêo moço
Que a gente arranja sem dinheiro.
Quando eu via um gurizin
Brincando de velocipe
De caminhão e de gipe
Bola, revólver e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto que dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruquê eu num pudia
Pegar naqueles brinquedo.
Mas preguntei uma vez
A uns fio de dotô
Diga, fazendo um favô
Quem dá isso pra vocês?
Mim respondeu logo uns três
Isso aqui é os presente
Que a gente é inocente
Vai drumí às vêis nem nota
Aí Papai Noé bota
Perto do berço da gente.
Fiquei naquilo pensando
Inté o Natá chegá
E na Noite de Natá
Eu fui drumi mim lembrando
Acordei fiquei caçando
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Que de presente o que tinha
Era de mijo uma pocinha
Que eu mermo tinha botado
Saí c’a bixiga preta
Caçando os amigos meu
Quando eles mostraram a eu
Caminhão, carro e carreta
Bola, revólver, corneta
E trem elétrico, até
Boneca, máquina de pé
Mas num brinquei, só fiz vê
E resolvi escrevê
Uma carta a Papai Noé.
“Papai Noé, é pecado
Os outro se matratá
Mas eu vou le recramá
Um troço que tá errado
Que aos fio de deputado
Você dá tanto carrin
Mas você é muito ruim
Que lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Que num se lembra de mim.
Já tô certo que você
Só balança o povo seu
E um pobe qui nem eu
Você vê, faz qui num vê
E se você vê, porque
Na minha casa num vem?
O rancho que a gente tem
E pequeno mas le cabe
Será que você num sabe
Qui pobe é gente também?
Você de roupa encarnada,
Colorida, bonitinha
Nunca reparou que a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Prêu num chamá-lo de ruim
Para o ano faça assim:
Dê menos aos fio dos rico
De cada um tire um tico,
Traga um presente pra mim.
Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela
Moro naquela favela
Que você nunca foi lá
Mas quando você chegá
Que avistá uma paióça
Cuberta cum lona grossa
E dois buraco bem grande
Uma porta véia de frande
Pode batê que é a nossa.
FELIZ NATAL?
Dedé Monteiro
Tristes Natais de hoje em dia…
Pois “QUEM” aniversaria
Está na periferia
Ou a esmolar num sinal,
Enfrentando o preconceito,
O maltrato e o desrespeito,
Sem ter direito a Natal…
Por isso os Natais da gente
Precisam sair, urgente,
Atravessar o batente,
Andar por praças e guetos,
“Registrar” nome por nome,
Os CRISTOS que passam fome
Equilibrando esqueletos…
Aí, após “cadastrá-los”,
Ouvir seus ais, abraçá-los,
Tentar descrucificá-los,
Num gesto de amor profundo.
Depois, retomar a luta,
Na certeza absoluta
Do melhor Natal do mundo!!
MEU PAPAI NOEL DE CASA
Dedé Monteiro
Aos garotos desconhecidos deste velhinho
Os sinos tocam contentes.
Aí, Papai Noel sai,
Distribuindo presentes,
Como se fosse outro pai.
Durante essa missão sua,
Desce rua, sobe rua,
Sobe morro, morro desce…
Palmilha todo o terreno.
Só meu casebre pequeno,
Papai Noel desconhece.
É porque eu não conheço
Onde Papai Noel mora.
Senão, o meu endereço
Eu ia enviar-lhe agora.
Escrevia um bilhetinho,
Pra lhe contar direitinho,
Onde fica o meu chalé.
Se dizem que ele advinha,
Por que só minha casinha
Ele não sabe onde é?
Quer saber o que se dava
Se papai fosse um ricaço?
Papai Noel não errava
As grades do meu terraço.
Chegava fora de hora,
Rondava a casa por fora,
Pela chaminé descia
E, em silêncio e sorrindo,
Deixava um presente lindo,
Pegava o saco e saía.
Chaminé muito enfeitada,
Minha palhoça não tem.
Mas, duma lata amassada,
Papai fez uma também.
Mas, se o senhor entender
Que ela não vai lhe caber,
Eu deixo aberta a janela.
Aí, se o senhor cansar
E achar que não deve entrar,
Jogue o presente por ela.
Reclamando desse jeito,
Talvez, eu esteja errado.
Pois, meu mocambo foi feito
Num lugar muito atrasado.
Lá, Papai Noel não passa,
Porque nem tem luz, nem praça,
Nem parque de diversão…
Esse Papai Noel nobre,
Não liga menino pobre
Que vive de pés no chão.
Mas, papai que é mais humano,
Este ano me falou:
“Se Deus quiser, para o ano,
Seu Presente eu mesmo dou!”
Papai é papai de fato.
Não é papai de boato,
Como esse Noel que atrasa.
Meu papai é tão fiel,
Que não há Papai Noel
Como esse que eu tenho em casa!!!
DESEJO NATALINO
Mundim do Vale
A pretensão deste verso
É de paz em cada lar,
É da criança estudar,
Para obter o sucesso.
Do mundo alcançar progresso
Num conceito da verdade,
Adotando a humanidade
Em benefício do povo.
E a vinda do Ano Novo
Seja de prosperidade.
Desejo nesse Natal
Muitas conciliações
Entre todas as nações
Em prol da paz mundial.
Que seja ampla e geral
Homologada em registro
Tendo o Papa dado um visto
Para ficar amparada,
Conforme a bíblia sagrada
E o que pregou Jesus Cristo.
Desejo que a vingança
Seja abolida da Terra
Que gente que faz a guerra
Se espelhe numa criança.
Que o Natal traga a lembrança
Da importância do perdão,
Do valor da oração
E dos caminhos da paz.
Que a gente seja capaz
De abrandar o coração.
http://www.luizberto.com/repentes-motes-e-glosas/poemas-para-o-natal
uns cercados de viva ansiedade,
outros tristeza adensam, mágoa enfim.
Parece às vezes que uma tempestade
para alguns se arma aos poucos, enquanto no ínterim
outros enxergam só a claridade
em que esperanças luzem sem ter fim...
Que separam Natais? Que aproximam?
Por que comoções mostram desiguais
que de uma forma ou de outra nos dominam?
Mas não é só. Também há os Natais
que deslumbram, inspiram e sublimam,
só traduzíveis em Amor e Paz!
João Pessoa/PB, novembro, 2009
(Do livro Sol das Almas - Sonetos e Poesia Vária, IBRASA, Ano 2011 )
NATAL DOS MEUS SONHOS
José Antonio Jacob
Juiz de Fora - Minas Gerais
Juiz de Fora - Minas Gerais
Se não houver partilha de bondade
Não há Natal na vida que amenize
A dor profunda da desigualdade
Entre os irmãos de casa e da marquise.
Que a ceia repartida simbolize
O pão sagrado da fraternidade
E que consagre a paz e realize
Esse Natal de fato e de verdade.
De não ter criança pobre numa esquina
A olhar brinquedos dentro da vitrina,
Onde "Papai Noel" sorri contente...
Natal é muito mais, e mais seria,
Se a gente retribuísse o dia a dia
Que a vida nos concede de presente.
QUANDO UM HOMEM QUISER
José Carlos ARY DOS SANTOS Lisboa - Portugal (1937 - 1984)
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
POEMAS DE NATAL NORDESTINADOS
Categoria: REPENTES, MOTES E GLOSAS - Pedro Fernando Malta
CARTA A PAPAI NOÉ
Luís Campos
Seu moço eu fui um garoto
Infeliz na minha infância
Que soube que fui criança
Mas pela boca dos outo.
Só brinquei com os gafanhoto
Que achava nos tabuleiro
Debaixo dos juazeiro
Com minhas vaca de osso
Essa catrevage, sêo moço
Que a gente arranja sem dinheiro.
Quando eu via um gurizin
Brincando de velocipe
De caminhão e de gipe
Bola, revólver e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto que dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruquê eu num pudia
Pegar naqueles brinquedo.
Mas preguntei uma vez
A uns fio de dotô
Diga, fazendo um favô
Quem dá isso pra vocês?
Mim respondeu logo uns três
Isso aqui é os presente
Que a gente é inocente
Vai drumí às vêis nem nota
Aí Papai Noé bota
Perto do berço da gente.
Fiquei naquilo pensando
Inté o Natá chegá
E na Noite de Natá
Eu fui drumi mim lembrando
Acordei fiquei caçando
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Que de presente o que tinha
Era de mijo uma pocinha
Que eu mermo tinha botado
Saí c’a bixiga preta
Caçando os amigos meu
Quando eles mostraram a eu
Caminhão, carro e carreta
Bola, revólver, corneta
E trem elétrico, até
Boneca, máquina de pé
Mas num brinquei, só fiz vê
E resolvi escrevê
Uma carta a Papai Noé.
“Papai Noé, é pecado
Os outro se matratá
Mas eu vou le recramá
Um troço que tá errado
Que aos fio de deputado
Você dá tanto carrin
Mas você é muito ruim
Que lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Que num se lembra de mim.
Já tô certo que você
Só balança o povo seu
E um pobe qui nem eu
Você vê, faz qui num vê
E se você vê, porque
Na minha casa num vem?
O rancho que a gente tem
E pequeno mas le cabe
Será que você num sabe
Qui pobe é gente também?
Você de roupa encarnada,
Colorida, bonitinha
Nunca reparou que a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Prêu num chamá-lo de ruim
Para o ano faça assim:
Dê menos aos fio dos rico
De cada um tire um tico,
Traga um presente pra mim.
Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela
Moro naquela favela
Que você nunca foi lá
Mas quando você chegá
Que avistá uma paióça
Cuberta cum lona grossa
E dois buraco bem grande
Uma porta véia de frande
Pode batê que é a nossa.
FELIZ NATAL?
Dedé Monteiro
Tristes Natais de hoje em dia…
Pois “QUEM” aniversaria
Está na periferia
Ou a esmolar num sinal,
Enfrentando o preconceito,
O maltrato e o desrespeito,
Sem ter direito a Natal…
Por isso os Natais da gente
Precisam sair, urgente,
Atravessar o batente,
Andar por praças e guetos,
“Registrar” nome por nome,
Os CRISTOS que passam fome
Equilibrando esqueletos…
Aí, após “cadastrá-los”,
Ouvir seus ais, abraçá-los,
Tentar descrucificá-los,
Num gesto de amor profundo.
Depois, retomar a luta,
Na certeza absoluta
Do melhor Natal do mundo!!
MEU PAPAI NOEL DE CASA
Dedé Monteiro
Aos garotos desconhecidos deste velhinho
Os sinos tocam contentes.
Aí, Papai Noel sai,
Distribuindo presentes,
Como se fosse outro pai.
Durante essa missão sua,
Desce rua, sobe rua,
Sobe morro, morro desce…
Palmilha todo o terreno.
Só meu casebre pequeno,
Papai Noel desconhece.
É porque eu não conheço
Onde Papai Noel mora.
Senão, o meu endereço
Eu ia enviar-lhe agora.
Escrevia um bilhetinho,
Pra lhe contar direitinho,
Onde fica o meu chalé.
Se dizem que ele advinha,
Por que só minha casinha
Ele não sabe onde é?
Quer saber o que se dava
Se papai fosse um ricaço?
Papai Noel não errava
As grades do meu terraço.
Chegava fora de hora,
Rondava a casa por fora,
Pela chaminé descia
E, em silêncio e sorrindo,
Deixava um presente lindo,
Pegava o saco e saía.
Chaminé muito enfeitada,
Minha palhoça não tem.
Mas, duma lata amassada,
Papai fez uma também.
Mas, se o senhor entender
Que ela não vai lhe caber,
Eu deixo aberta a janela.
Aí, se o senhor cansar
E achar que não deve entrar,
Jogue o presente por ela.
Reclamando desse jeito,
Talvez, eu esteja errado.
Pois, meu mocambo foi feito
Num lugar muito atrasado.
Lá, Papai Noel não passa,
Porque nem tem luz, nem praça,
Nem parque de diversão…
Esse Papai Noel nobre,
Não liga menino pobre
Que vive de pés no chão.
Mas, papai que é mais humano,
Este ano me falou:
“Se Deus quiser, para o ano,
Seu Presente eu mesmo dou!”
Papai é papai de fato.
Não é papai de boato,
Como esse Noel que atrasa.
Meu papai é tão fiel,
Que não há Papai Noel
Como esse que eu tenho em casa!!!
DESEJO NATALINO
Mundim do Vale
A pretensão deste verso
É de paz em cada lar,
É da criança estudar,
Para obter o sucesso.
Do mundo alcançar progresso
Num conceito da verdade,
Adotando a humanidade
Em benefício do povo.
E a vinda do Ano Novo
Seja de prosperidade.
Desejo nesse Natal
Muitas conciliações
Entre todas as nações
Em prol da paz mundial.
Que seja ampla e geral
Homologada em registro
Tendo o Papa dado um visto
Para ficar amparada,
Conforme a bíblia sagrada
E o que pregou Jesus Cristo.
Desejo que a vingança
Seja abolida da Terra
Que gente que faz a guerra
Se espelhe numa criança.
Que o Natal traga a lembrança
Da importância do perdão,
Do valor da oração
E dos caminhos da paz.
Que a gente seja capaz
De abrandar o coração.
http://www.luizberto.com/repentes-motes-e-glosas/poemas-para-o-natal
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MANHÃ DE UM NOVO ANO
Ilka Vieira
(1954 - 2014)
(1954 - 2014)
Nada melhor do que recomeçar com prazer!
Acordar cheia de projetos,
fazer do dia de descanso a paz do lazer.
Arrastar os pés pelas ruas
como num passeio seguro,
acreditando que o medo foi um devaneio;
talvez permaneça o medo do escuro,
mas não agora,
quando a manhã me conduz suavemente
a ouvir a semelhança sonora,
entre a minha alma e a do passarinho,
retirando enfraquecidos espinhos
no sublime carinho
que a rosa agradece
e não esmorece,
sorri... apenas sorri.