. DIA INTERNACIONAL DA MULHER / 2013


A todos os Amigos e Amigas.
A todos os Leitores.

O blogue Expressão Mulher-EM  convida-os para uma Atualização Especial.

Fui lançado em 30 de abril de 2012, Dia Nacional da Mulher, instituído para homenagear a mulher Jerônima Mesquita, da cidade mineira de Leopoldina  (1880-1972), e uma das primeiras a lutar pelos direitos de igualdade das mulheres.
Naquela oportunidade, disse-lhes que às minhas páginas muitas mulheres chegariam, mulheres de hoje e de ontem, sendo a bandeira do Expressão Mulher-EM trazer vozes femininas que expõem o que pensam e o que sentem, enquanto a condição de muitas mulheres no mundo as faz viver em silêncio.

Pois bem, neste  ano de 2013, 08 de março, Dia Internacional da Mulher, é com imensa honra que lhes vou revelar o nome de uma grande mulher  de que muitíssimos brasileiros jamais ouviram falar.

Uma mulher que reivindicava iguais oportunidades de cultura e de direitos para as mulheres; uma mulher que se relacionava com "cabeças pensantes" no Brasil e fora dele, em igualdade de condições; uma mulher que reivindicava ciência e cultura para as mulheres e para isso — com CORAGEM E DETERMINAÇÃO —   abriu colégios SÓ PARA MOÇAS no Rio de Janeiro  e no Rio Grande do Sul.

Uma mulher que amou o Brasil e nele acreditava como nação promissora pelo potencial do seu solo, pela extensão do seu território e pela capacidade da sua gente. Uma nação promissora, desde que fossem dadas às mulheres as mesmas condições dadas aos homens. E desde que negros e índios fossem livres, respeitados os seus direitos, a sua cultura e a sua dignidade.

Falo-lhes de uma brasileira  nascida no estado brasileiro do Rio Grande do Norte (1810-1885), uma ilustre mulher brasileira, uma  escritora e poetisa cujas obras, atitudes e reconhecimento, no Brasil e no estrangeiro, situam-na INDUBITAVELMENTE como uma mulher bem à frente do seu tempo. 

Uma mulher que, com classe, altivez e ufanismo justificado, levava o Brasil ao estrangeiro na pujança da sua fala e das suas ideias constantes dos diversos livros escritos em português, francês, italiano e inglês.

Hoje, feliz com a possibilidade de trazer aos seus leitores a escrita e a obra incansável e importante dessa mulher do século XIX — legítima e pioneira em sua luta de mostrar que a mulher é um ser que pensa, aprende e age com substância, sem NADA dever aos homens —, o blogue EXPRESSÃO MULHER-EM, um Tributo à Arte da Escrita Feminina,  abraça todas as mulheres que cantam, falam e dizem nestas suas páginas; e aquelas que estão fora das suas páginas; e mais as que ainda são obrigadas a calar;
 UM DIA TODAS AS MULHERES FALARÃO!

A TODAS, sem exceção, o EM dá flores de Amor e de Admiração 

e a todas faz representar neste importante DIA INTERNACIONAL DA MULHER  POR UMA ÚNICA MULHER de cuja mente e de cuja boca saíram todas as ideias e palavras cunhadas em seus atos e atitudes, os quais, de certa forma, as mulheres vêm repetindo.


 Amigos e leitores, 

 levanto-me das minhas sagradas páginas, onde se ouvem as vozes poéticas de mulheres e de homens, para aplaudir uma mulher de sabedoria, visão, pioneirismo, conhecimento, educação, ideias, letras, discurso, coragem  e atitudes.


Uma ilustre brasileira que o Brasil desconhece:



                      NÍSIA FLORESTA




Nas voltas que o mundo dá, respeitáveis vozes saem do anomimato ou do esquecimento pelas mãos dos que se debruçam sobre passados anos com o objetivo maior de trazer ao presente sons que merecem ser ouvidos.

Nesta época em que vivemos, frágil de sentimentos, ideias e valores, 
ter acesso ao "mundo de Nísia Floresta" é uma revelação que sobremaneira enriquece as conquistas femininas, por isso Nísia é ETERNA e faz-se ETERNA por todos os que a fizeram ascender do pó do esquecimento e dos escombros do não-reconhecimento ao seu inquestionável valor de mulher pioneira de ideias e sensível em inteligência e dignidade femininas.

A eles juntamo-nos nós, o blogue Expressão Mulher-EM e todos os seus diletos Amigos, e Leitores e Seguidores.


Às importantes personalidades que nos vieram dizer QUEM É NÍSIA FLORESTA, 

os mais efusivos agradecimentos:



I) APRESENTAÇÃO DE NÍSIA FLORESTA para os leitores do Expressão Mulher-EM pelo distinto Professor Luis Carlos Freire, residente no município que leva o nome de Nísia Floresta (ex-Papari), no Rio Grande do Norte (RN), um incansável pesquisador e estudioso da vida dessa brilhante brasileira que ele quer ver reconhecida e incluída na história do Brasil;

O PIONEIRISMO DE NÍSIA FLORESTA E A CONTRIBUIÇÃO DA FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL PARA COM A MEMÓRIA NACIONAL

Para comemorarmos o dia Internacional das Mulheres com justiça não podemos esquecer um nome e um pseudônimo forte e marcante para a história das mulheres em todo o Mundo. Refiro-me à norte-riograndense Dionísia Gonçalves Pinto Lisboa – ou simplesmente Nísia Floresta Brasileira Augusta (*1810:Papari-RN - +1885:Rouen-França).

Óbvio que existiram outras pioneiras, mas como sempre existiram aqueles que abriram caminhos, essa mulher foi exatamente pioneira em toda a América Latina a tratar temas como igualdade de direitos para as mulheres – inclusive educação de qualidade, abolição da escravidão, liberdade de expressão, liberdade de cultos, defesa do índio brasileiro, defesa do regime republicano, enfim escreveu com brilhantismo diversas temáticas que consistiram numa “pedra no sapato” de muitos, principalmente as autoridades. Antes dela ninguém escreveu sobre tantos assuntos inéditos.

Não há como não se surpreender pelo fato de justamente uma mulher ter tido essa coragem e ter passado ilesa à – digamos – guilhotina, pois “não teve papas na língua”. Ela peitou o imperador, criticando o mandonismo dos estrangeiros no Brasil e os privilégios que estes tinham em detrimento de inúmeros brasileiros legados ao segundo e terceiro planos na alçada do comércio, educação e outros.

Sem dúvida, continuam atuais as palavras de Gilberto Freire: “causa pasmo ver uma mulher como Nísia”.

Para quem nunca ouviu falar nessa ilustre brasileira, a qual deveria estar nos livros de História do Brasil, sugiro visitar o website www.fundacaobancodobrasil.org.br do Projeto Memória da Fundação Banco do Brasil, o qual disponibiliza um rico acervo sobre brasileiros ilustres, dentre eles Nísia Floresta. Sugiro também conhecerem o blog nisiaflorestaporluiscarlosfreire, no qual encontrarão diversos textos que escrevi sobre ela (o Expressão Mulher - EM reproduz, mais abaixo, o conteúdo total dessa matéria).

Em 2006, na condição de estudioso da vida e da obra dessa intelectual, fui convidado, justamente com Constância Lima Duarte, para contribuir com a construção de parte desse material, o qual consistia num Kit contendo um livro fotobiográfico, um vídeo documentário em DVD e em VHS e um almanaque pedagógico enviado para 18 mil escolas e 5 mil bibliotecas brasileiras, lançado em 2008. Somava-se a isso uma exposição que levou para todo o Brasil a história dessa insigne brasileira. Entre 2008 a 2010. A Fundação Banco do Brasil, em parceria com o jornal Correio Braziliense, promove anualmente um concurso nacional sobre personagens da história do Brasil. Em 2006 a homenageada foi Nísia Floresta.

Entendo esse projeto como o mais importante e dinâmico até hoje em termos de divulgação de material farto sobre Nísia Floresta, e o grande contribuidor da expansão desse nome que surpreendeu a maior parte do país, pois poucos o conheciam.

Essa mulher de certo modo desconhecida por muitos até então, e enaltecida por um público restrito – que a conhecia apenas como feminista, ultrapassa as raias dessa concepção e se faz muito mais, significando uma pensadora que contribui não apenas com as mulheres, mas para com a humanidade como um todo, pois legou a ela a necessidade de se pensar a cidadania e as coisas do estado.

Nísia nos levou a construir um pensamento altruísta e moderno acerca da civilidade. Ela, precocemente, dominava línguas estrangeiras e lia com fluência obras escritas nos quatro cantos do Mundo. Somava ideias visionárias de outros pensadores às dela e as divulgava nos principais jornais do país ou através de livros, tendo escrito 15 obras, muitas delas em francês, italiano e inglês. Recebeu forte influência de Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa – seu pai. Homem culto, ceramista e brilhante advogado.

De sua mãe, Antonia Clara Freire – não alfabetizada – recebeu uma educação humana e enérgica a ponto de tê-la inspirado a ser uma mulher forte e com firmeza nas suas opiniões.

Nísia Floresta casou-se espontaneamente aos 12 anos, fato comum à época, e espontaneamente se separou, certamente por ter visto a cultura machista da época como uma prisão para quem queria alçar grandes voos no universo do conhecimento.

Essa decisão rendeu-lhe diversos estigmas mantidos até hoje em sua própria terra, apesar de uma abertura maior promovida por estudiosos que ao longo do tempo se encarregaram de dirimir tabus e preconceitos seculares. 

O projeto da Fundação Banco do Brasil, como já escrevi, foi o grande protagonista de uma mudança em massa, pois mexeu com o país e atraiu inúmeros turistas e pesquisadores de outras universidades para conhecer essa mulher até então proclamada como prostituta, lésbica e amante de Augusto Comte – criações absurdas, que abortavam a vontade dos mais jovens de a conhecerem. E esse fenômeno do imaginário popular era tão poderoso que nem mesmo estudantes universitários nisiaflorestenses inspiravam-se a conhecê-lo e transformá-lo num trabalho acadêmico.

Ignoravam até então tratar-se de uma grande filósofa brasileira – conforme a vejo – que conviveu com Victor Hugo, Augusto Comte, Alexandre Herculano, Duvernoy, Castilho, Manzony dentre outros nomes insignes. Que viveu na França, na Inglaterra, na Itália, na Grécia e em Portugal, enfim que tratava-se de uma sábia que muito poderia ensinar através de sua obra. 

Desde que passei a residir em Nísia Floresta, em janeiro de 1992, iniciei um amplo trabalho de divulgação do nome de Nísia Floresta, através de exposições, conferências, seminários, documentário audiovisual e até mesmo uma peça teatral, a qual foi exibida na Universidade Federal do Maranhão, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e em Nísia Floresta. 

Proferi conferências e dei palestras em diversas cidades potiguares e em outros estados, mas mesmo assim percebia um acanhamento na participação em se tratando dos nisiaflorestenses, mesmo tendo trazido importantes intelectuais natalenses para abrilhantar os eventos, inclusive por duas vezes trouxe a cônsul honorária da França. Esse fenômeno era perceptível exatamente pelo fato de até mesmo alguns professores terem essa concepção deformada dita anteriormente. 

Até hoje essa visão equivocada é sentida em Nísia Floresta, inclusive por pessoas que ocupam pastas importantes na administração pública. Recordo-me que algumas delas me apresentaram essa intelectual com esse ranço preconceituoso dito acima.

Tive dificuldades de promover eventos no município, exatamente por estar evocando uma – diríamos – persona non grata. Ou seja, a figura que causava mal estar ao seu próprio povo. Prova disso era a o quorum, pois a frequência sempre foi pífia. Ocorreu certa vez a uma autoridade a tentativa de impedir que professores e alunos fossem levados a uma palestra que ministrei.

Todo esse contexto de aversão acerca do nome de Nísia Floresta – sentido até hoje – ao contrário de significar demérito, representa a dimensão das ideias de uma mulher “cabra da peste”, no dizer popular nordestino. Ou seja, uma visionária que enxergava coisas que ninguém via e sequer a compreendia. 

Não pode ser diferente. Nísia Floresta pagou o preço de seu ineditismo, de seu pioneirismo. Interessante é que a maior parte das abomináveis críticas que recebeu – anônimas – e contemporâneas a ela, nunca teve resposta. 

Nísia Floresta estava acima disso tudo. Certamente reconhecia que não podia ser diferente. E curiosamente não deixava de dar vazão às suas ideias e expô-las publicamente. Quem sabe era essa a sua “vingança”.

No dia internacional das mulheres saúdo todas as mulheres brasileiras que contribuíram e contribuem com uma humanidade justa, humana, culta, ética, avançada, enfim, civilizada. Foi isso o que Nísia Floresta quis para todos nós.



BREVE ANÁLISE DO LIVRO "O BRASIL" , DE AUTORIA DE NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA

Sem dúvida alguma, Nísia Floresta amava o Brasil de forma incomum. E esse sentimento não era ingênuo ou meramente ufanista como se percebe em brasileiros que exaltaram a nossa nação em sua época e depois.

Essa observação nos é possível quando percorremos o conjunto de sua obra, mas toma dimensão profunda e intencional quando lemos O BRASIL (LÉ BRÉSIL) , publicado pela primeira vez em Paris na França em 1871.

Em caráter de curiosidade constata-se logo no início o quanto a autora estava à frente de seu tempo quando ela inicia o segundo parágrafo dizendo:

“Todos os povos civilizados da Terra precisam conhecer este amplo e rico país da América meridional, que se estende desde o majestoso Amazonas, o maior rio do mundo, até o Prata. Aí se encerram, além de uma infinidade de outros rios navegáveis, grandiosas florestas, reclinadas, a maior parte, por todo o seu perímetro em forma de admiráveis abóbadas; excelsos montes, cujos cumes parecem tocar o céu; pradarias risonhas duma eterna vegetação: cheio uns e outras de quanto têm de flores e frutos o antigo e o novo mundo. A cujas magnificências da natureza juntam-se os prazeres de sua civilização progressiva, espalhada em muitos de suas partes”.

Ao exaltar o seu país ela demonstra conhecimento da Geografia nacional, mesmo sem existir naquela época livros específicos que permitissem essa compreensão. Mas o mais curioso é quando ela afirma ser o rio Amazonas o maior do mundo, pois até pouco tempo se pensavam ser o rio Nilo o detentor desse título. Isso evidencia a sua ilustração, pois autora acaba dando aula de Geografia e ainda oferece uma curiosidade. Logicamente que aos olhos da atualidade isso parece banal, mas para a época soa realmente admirável.

Seu conhecimento geográfico ultrapassa as raias geográficas brasileiras quando mais adiante ela escreve:

“O Atlântico banha, ao levante, dezesseis das suas províncias, algumas das quais são, em amplitude, maiores que a França inteira. Embarcações de toda nação comerciante aí trazem todo tipo de mercadorias, e daí levam ouro, diamante, madeira para tingimento, couro trabalhado, açúcar, café, seda, algodão, chá, cacau, borracha, tabaco, e outras preciosas provisões sem fim de que faz o Brasil um riquíssimo tráfico desde 1808, quando seus portos foram livremente descerrados a todas as nações estrangeiras que estavam em paz com o seu governo.”

Percebe-se um aprofundamento no conhecimento de Geografia logo quando ela informa quantas províncias brasileiras (hoje estados) eram banhadas pelo mar, se refere a França e compara a dimensão incomparável de algumas dessas províncias com nada mais que o próprio país francês.

Nísia segue enaltecendo sua nação, a receptividade dos brasileiros e afirma que o Brasil tem “tantas vantagens para ser a maior nação do Mundo”, mas que “foi com maior negligência tratado por aqueles que o descobriram e o governaram por mais de três séculos!”.

Em dado momento a intelectual elogia Tomás Antonio Gonzaga e, sem mencionar outros nomes, tece louros aos mártires da independência, os quais “com seu sangue marcaram a gloriosa estrada da abnegação patriótica, apontada a todos aqueles que sentem ter um coração para valer os seus direitos na mais santa das causas, a Independência dos povos”.

Continua descrevendo os valores do Brasil e, dado momento surpreende dizendo:

“Entre as vinte províncias de que compõem-se o vasto império do Brasil, todas ricas do que a natureza reserva de maior em seu regaço, uma há, da qual pode-se dizer que o gênio da liberdade a escolheu para o seu domicílio”.

Ela segue esbanjando elogios a esse lugar, informando curiosidades, sua economia, seus recursos naturais, seus pomares, suas elegantes casas, seus jardins, seus engenhos etc. São muitas linhas e parágrafos, verdadeiro poema a um lugar que será revelado adiante, cuja curiosidade do leitor vai aumentando a cada momento até descobrir ser a província do Rio de Janeiro o paraíso cantado pela escritora.

Adiante destaca a ilustração do naturalista Augusto de Saint-Hilaire, o qual relata a acolhida que teve na província de Minas Gerais e tece os mais variados elogios ao Brasil, permitindo à Nísia Floresta refletir que “(...) Tal opinião do ilustre viajante a respeito do povo brasileiro é confirmada por aqueles mesmos que escreveram os maiores absurdos acerca daquele vasto império, que tendo 800 léguas de comprimento do setentrião ao meio-dia, 710 na sua maior largura de levante a poente, e mais de 1200 léguas de costa, não pode ser conhecido, nem tampouco julgado por aqueles que por ele passam apenas”.

Nota-se a crítica da escritora acerca de viajantes que passaram muitas vezes por apenas um lugar no Brasil, registraram informações “absurdas” e o depreciaram pela Europa através de publicações reveladoras de preconceito, como se pequenos detalhes, muitas vezes mal interpretados, significassem a realidade de todo o país.

Nota-se sua indignação quando ela diz:

“Com tudo isto, alguns cérebros extravagantes ou malévolos, que dele percorreram apenas uma mínima parte, deleitaram-se em florear suas narrações com falsas historietas, e com argúcias emprestadas para fazer rir os Europeus, sem se derem conta de que assim cometem duas grandes faltas: primeira, carecer de amor para um povo por quem forem sempre bem acolhidos, e amiúde enriquecidos: segunda, trair a verdade, deixando os leitores numa acabada ignorância a respeito de um importante país, chamado a manter um alto posto entre as nações modernas”.

Nísia descortina um país com muitas cidades”, “grande comércio com sua metrópole”, “deliciosos passeios que conduzem às industriosas fábricas de açúcar que ficam em geral a pequena distância”, “casas arquitetadas com fineza de gosto”.

Destaca o Rio de Janeiro e adiante enaltece Olinda, inclusive repassando ao leitor uma curiosidade que até hoje é desconhecida por muitos brasileiros, cujo nome desse lugar pernambucano originou-se da exclamação de uma rainha portuguesa que, vendo-a desenhada sobre o mapa-mundi do Brasil, disse “Olinda! (Oh quão bela é!).

Como não poderia ser diferente na obra de Nísia Floresta, a autora que sempre entrelaçou diversos temas, descortina também o cenário da escravidão, levando o leitor a refletir sobre a contradição de um pais que se moderniza e avança,mas que ainda conserva essa deplorável prática.

Isso é interessante porque além d’O Brasil desmentir relatos fantasiosos e debochados que viajantes estrangeiros faziam do Brasil, enaltece diversos aspectos da nação, e mais que isso, não coloca a vergonhosa prática da escravidão debaixo do tapete.

Vejo-a muito irônica mais adiante, até porque o país que ela descortina fora descoberto por europeus, inclusive em seu próprio tempo era repleto deles a frente de escolas, comércio etc. Referindo-se a Província do Pernambuco enaltece Fernandes Vieira e outros que lutaram contra os holandeses, e diz:

“(...) Que pensais, ó forasteiros, de um tão glorioso feito de armas? A História do Brasil vo-lo contará, com outros de sumo relevo, e mais recentes, fazendo-vos a um só tempo conhecer a generosidade e a coragem de seu povo, se não vos restringirdes a ler somente alguma relação escrita por pessoas mal informadas ou parciais, que em vez de pagarem um tributo à verdade com o pôr à mostra as grandes obras deste nascente povo, não procuram senão fazer pompa a seu vanglorioso saber, censurando erros e defeitos que não precisariam cruzar o Atlântico para encontrar. Muitíssimos países da velha Europa force-lhes-nos-iam em grande quantidade. Nós, que tivemos a bela oportunidade de percorrer e de observar a parte mais culta do antigo continente, amiúde tivemos a ocasião de aí vislumbrar bizarros tipos, e bárbaros costumes desconhecidos alhures.”

Percebe-se que Nísia Floresta não tinha papa na língua, pois soam audaciosas essas colocações. Lembre-se que ela estava na Europa quando publicou esse livro justamente para desmistificar a má impressão que boa parte dos europeus tinha da nossa nação. Mas, ao fazê-lo, não deixou de dizer que também conhecia a Europa e que os europeus não precisariam ir ao Brasil para encontrar o que também existia claramente no próprio país que zombava do Brasil, pois ambos possuiam civilidade, méritos e defeitos. Como ela própria escreveu:

“Cada nação guarda suas próprias virtudes e seus próprios vícios inatos”.

Num dado momento ela critica de forma não muito elegante alguns naturalistas:

“Esses naturalistas passam por cima da história do seu povo e de sua avançada civilização, ou relam-na apenas, e enche-na alguma vez de erros, e também de anacronismos, não tendo outro pensamento senão plantas, minerais e bichos”.

E mais a frente exclui Rugendas desse rol desabonador, elogiando-o:

“(...) Todavia houve, por exceção alguns de tais viajantes, os quais fizeram menção de vários acontecimentos históricos com uma inteligência e imparcialidade especular. Entre estes mencionaremos Rugendas, cujo nome junta-se àqueles dos mais conscienciosos escritores do nosso século”.

Ela transcreve inúmeros trechos da obra desse naturalista, principalmente quando ele se refere a vários brasileiros cobrindo-lhes de elogios, ora pela ilustração ora pelo espírito revolucionário. É possível entender melhor o país aos olhos de Rugendas, o qual registrou fatos importantes da História do Brasil com a imparcialidade de um jornalista.

Após “rasgar muita seda” – no bom sentido – sobre Rugendas, Nísia Floresta encerra os elogios, dizendo:

“(...) Eis aí uma pena estrangeira que soube fazer justiça ao mérito do povo brasileiro, e fazer uma estima digna do espírito que o nobilita, e dos destinos a que é reservado.”

Vejamos agora o lado visionário da autora quando ela escreve de forma profética:

(...) O Brasil de hoje em dia não inveja nenhuma nação do mundo: já que, tal como observamos, ele encerra em seu seio todos os materiais para tornar-se uma das mais importantes entre elas.” 

E fala dos brasileiros como capazes de construir carreira de sucesso no exterior:

“(...) Seus naturais, além das virtudes que nos são já conhecidas, mostram-se habilíssimos em todas as artes e ciências, que muitos deles conhecem a fundo, mais do que não seja preciso para construir-se um nome, uma reputação na Europa”.

Logo adiante Nísia Floresta apresenta um Brasil que estava na moda no exterior:

“(...) Portugal, Espanha, Roma, toda a Itália, admiram-nos sobre suas tribunas, nas assembléias científicas e literárias. Outras nações, ainda, tiveram entre elas uma parte da juventude brasileira, que se destacou em todo tipo de estudos. O Brasil não contava ainda um século inteiro e já produzia formidáveis guerreiros que, ilustraram com as armas no Novo Mundo e no antigo”

E destaca com ênfase

“(...) O Brasil não sente penúria de sumos literatos, de profundos filósofos, jurisconsultos, legisladores, teólogos e naturalistas. A poesia e a música são quase congênitas nos naturais do lugar, os quais à medida que crescem, se aplicam a uma e a outra derivando-as do céu azul e dos cantos melodiosos de mil variedade de aves. Com o passar do tempo deram-se alguns a estudar fundamente as frias regras até a totalidade da arte; mas todos permanecem poetas e musicistas de alma. Quase todo homem de letras, nascidos no Brasil, semeou de alguma poética flor o caminho da sua vida”.

Referindo-se a José Bonifácio de Andrada, ao qual tece grandes elogios, supõe imaginar a expressão de indignação deste grande brasileiro quando lhe perguntaram

“(...) se em seu país existiam homens instruídos em qualquer ramo da ciência (...)”.

E, obviamente indignada pela má impressão que nesse país se tem do Brasil, diz

“(...) Se acontece de nas salas de Paris aparecer alguma brasileira que dê mostras de engenho, perguntam-lhe se foi educada na França”.

Nísia Floresta relata posteriormente a experiência vivida por ela numa “reunião literária”, na qual os franceses demonstraram grande admiração ao ver uma mulher brasileira altamente culta ali presente.

Ela também comenta sobre a grande admiração dos europeus quando vêem um brasileiro de pele alva, pois

“(...) dão-se totalmente a crer que todos os Brasileiros devam ter o tom trigueiro das raças indígenas daquela região (...)”.

Sobre isso ela se esbanja em ironia, escrevendo

“(Que bela nota de senso de humor!)”.

E relata um episódio muito curioso no qual um brasileiro visitou um amigo na França, mas como este estava ausente sua esposa pediu que ele entrasse. De repente a referida senhora cochichou no ouvido de um vassalo e este se retirou. Pouco tempo depois o visitante foi surpreendido por um grande barulho vindo da escadaria da casa. Era uma elegante senhora com duas filhas e três meninos, os quais, sem se darem conta que o visitante os observava gritaram

“Ó Deus! Minha irmã, titia, faze-nos ver o Brasileiro...”.

“Ei-lo” – disse a senhora, apontando para o visitante. Mas todos se decepcionaram, pois tratava-se de um homem altamente elegante e de bons modos, muito distante da imagem construída por eles.

A dama, que era irmã da dona da casa, cumprimentou-o meio atrapalhada e disse-lhe:

“Tu caçoa de nós, fazendo-nos vir a todo galope para ver um senhor que não tem o lábio furado, nem qualquer outro sinal característico dos nativos do Brasil.”

Sua irmã respondeu-lhe

“Quis fazer-te a mesma surpresa que tive eu própria quando vi o senhor doutor”.

E ficaram encantadas quando o visitante deu-lhes “uma lição sucinta e clara sobre a história da mais avançada nação de que possa gabar-se a América Meridional”.

Já no final do livro ela comenta

“(...) O Brasil, invejado pelas maiores nações da Europa, que já foram uma após a outra de armas na mão fazer-lhe a guerra e levaram a pior, é presentemente a mais importante nação da América Meridional”.

É curioso, quando no penúltimo parágrafo desta obra Nísia Floresta escreve:

(...) O estudo por nós feito do Brasil, mediante as viagens que aí empreendemos em nossa juventude, examinando com severa imparcialidade os costumes, os usos, o espírito e os sentimentos do seu povo com tudo aquilo que pudesse ter atinência com todo o seu ulterior progresso, faz-nos esperar que não seria obra vã a nossa de descrever, sempre que possível com a maior particularidade, o estado e os valores desta não bastante conhecida nação”.

A autora faz-nos supor que percorreu várias partes do Brasil, além do que se sabe e foi documentado.

Isso alimenta grande curiosidade que tenho quando me recordo de um retrato seu original, cujo letreiro diz

“PHOTO ALEMMÃ – MANÁOS”,

(ou seja, “Foto alemã – Manaus/AM).

Nísia terá se estendido até a Província do Amazonas?

LUIS CARLOS FREIRE – DEZEMBRO DE 2006.
http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com.br/
E-mail do Professor Luis Carlos Freire:  brasilcentauro@yahoo.com.br

Luis Carlos Freire - Formado em Artes pela UFRN - Especialista na obra de Nísia Floresta - Ministra palestras desde 1993. Autor de diversos trabalhos sobre Nísia Floresta publicados nos Anais da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (UNICAMP - UFMA - UFMG - UFC - UFPB) - Semana de Humanidades (UFRN) - Jornal O Alerta. Autor de textos sobre Nísia Floresta publicados em seu blog "nisiaflorestaporluiscarlosfreire. Autor da peça teatral "Nísia Floresta", Uma Brasileira" e do espetáculo teatral ao ar livre intitulado "A Chegada dos Despojos de Nísia Floresta a Papari" (UFRN - Base Aérea de Natal - Ministério da Marinha - Escola Doméstica - Consulado Honorário da França). Participante do vídeo documentário "Nísia Floresta Uma Brasileira à Frente do Seu Tempo" (Projeto Memória-Fundação Banco do Brasil - Correio Braziliense - REDEH), organizador de conferências, exposições e seminários sobre Nísia Floresta. Possui parentesco com Nísia Floresta, através da descendência de sua mãe, a qual pertence ao tronco de Antonia Clara Freire, conforme o livro "Os Troncos de Goianinha", de autoria de Arnaldo Barbalho Simonetti.



II) NÍSIA FLORESTA

Projeto Pró-Memória (2006)

(Parceria Fundação Banco do Brasil, Petrobrás, Governo do Brasil, Redeh-Rede de Desenvolvimento Humano e outros);


(acessem o link abaixo e todos os seus segmentos;  e muito boa leitura)
http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/pro.html


Também poderão acompanhar a trajetória de Nísia Floresta diretamente no livro em PDF (download, com possibilidade de boa leitura no nível de 80%  a ser estipulado na barra):
http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/arquivos/LivroNisiaFloresta.zip



III) NÍSIA FLORESTA por Constância Lima Duarte, distinta Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (apoio do Ministério da Educação | Fundação Joaquim Nabuco);


(acessem o link abaixo, cliquem em BAIXAR e rapidamente o texto estará à sua disposição, bastando que desçam um pouquinho na tela do seu computador; e boa leitura)

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=205214

E mais, ainda com a Professora e pesquisadora Constância Lima Duarte, sobre as viagens de Nísia Floresta no link abaixo: 
http://www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/pdf/via02/via02_05.pdf


IV) NÍSIA FLORESTA POR NÍSIA FLORESTA

http://expressaomulher-em.blogspot.com.br/2013/02/nisia-floresta-brasil.html



Sejam todos bem-vindos e sintam-se à vontade. 

As páginas do EM e o e-mail do Expressão Mulher-EM estão abertos aos seus Leitores e Amigos para as suas considerações. 

Para a sua comodidade de leitura, aperte as teclas Ctrl + do seu teclado, aumentando o tamanho da letra. Para voltar ao status anterior, aperte as teclas Ctrl - .

Agradecemos a sua atenção.

Ilka Vieira   e   Regina Coeli Rebelo Rocha

Expressão Mulher-EM - Arte da Escrita Feminina
expressaomulher@gmail.com

6 comentários:

  1. Parabéns pelo dia da Mulher, por esta bela atualização, eu não conhecia Nisia Floresta.
    Marilda

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  2. Brilhante, sob todos os aspectos, esse trabalho do professor Luiz Carlos Freire sobre Nísia Floresta, que dedicou quase toda a sua vida a demonstrar, nos centros mais avançados da Europa, a realidade brasileira daquela época, tão desconhecida dos mais brilhantes homens de ciência de então. E quantas figuras eminentes da nossa história não se encontram por aí escondidas na poeira de ignoradas e carcomidas enciclopédias, à espera de que um estudioso da envergadura de Luiz Carlos Freire as tornem páginas vivas da cultura brasileira? Parabéns a esse eminente notável pesquisador, não só pelo excelente trabalho que desenvolve, mas pelo desentranhado amor que demonstra ter pelo enriquecimento da cultura pátria. Cumpre-nos registrar aqui as nossas mais entusiásticas felicitações ao Expressão Mulher por tão primoroso evento. Humberto Rodrigues Neto - São Paulo - BR.

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  3. Passando pra registar minha saudade e meu carinho nesse dia internacional da mulher. Que a vida siga, abençoando, inspirando e cuidando dessas duas queridas Regina e Ilka. Um beijo grande da amiga de sempre (embora distante)

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  4. Parabéns pelo dia de hoje e por todos os outros 364. Um beijo especial as criadoras do EM, Ilka e Regina, que sabem como ninguém seja através da poesia ou pela escolha dos participantes ,falar sobre e para as mulheres .
    Bjs,
    TT D´Oliveira

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  5. Maravilha poder sentir tão perto o "MUNDO ENCANTADO" de NISIA FLORESTA!
    Meu abraço aos que criaram este pequeno paraíso de cultura onde, de maneira
    tão infomal, podemos adquirir conhecimento e econtrar caminhos seguros para avaliar
    nosso desempenho na área do saber... obrigada e parabéns a todos!

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  6. Se eu tivesse esse poder,
    tomaria a decisão
    de sem nenhuma excepção
    endeusar cada mulher!

    JCN

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