A Mudança
Maria Clara Lopes Segobia
Estou acordando para o mundo, para a vida,
para o amor, para meu prazer.
Estou deixando de ser criança, adolescente.
Sou adulta, com meus anseios,
minhas dúvidas.
O que fazer?
Ás vezes uma vontade de ser criança
voltar a brincar e nada assumir.
Medos, muitos medos...
Lá fora tudo me espera
com suas garras, suas armadilhas.
Não me conheço mais.
Há uma outra dentro de mim,
desconhecida.
O que sinto não é tão novo
estava escondido com medo de ser.
Acordei!
Vou a luta!
Sou adulta!
Sou mulher!
Mulher como Minha Mãe
Maria Clara Segobia
Primeira a acordar.
Em silêncio prepara o café,
arruma a mesa,
coloca a merenda na merendeira.
Com ternura nas mãos
toca seus amores adormecidos.
Sorriso de ternura balbucia:
- Bom dia meus amores! Hora do café.
A cada gesto, um de seus amores
desperta para o delírio da vida.
A escola para o aprendizado.
O emprego para o sustento da família.
Após breve diálogo partem...
Ela permanece nos afazeres domésticos.
Há tanto por fazer!
As horas correm sem intervalo.
Todo império em suas mãos!
Retornam cobradores de seus direitos,
ela cumpridora de seus deveres.
Carinhos, tristezas, decepções, vitórias...
Constitui este Universo.
À noite, todos se acomodam
na espera do novo dia.
Dá os últimos retoques.
Em silêncio deposita um beijo
de boa noite nos rostos adormecidos.
Viva a Minha Vida
Maria Clara Lopes Segobia
Nasci! Não sei por que.
Cresci amparado na miséria.
Aprendi o que não devia, mas queria tudo o que não tinha.
Observei a vida de forma diferente da tua,
Vendo o que possuía, eu não!
Em criança sem entender queria tudo,
Recebia de presente aquilo que não querias mais.
Acostumei-me a pedir, a ganhar, a perder, aceitar, agradecer. Cresci.
Em resposta recebo:- não!
Observei cara feia a me encarar. Recebi vários nomes:
Menor, pivete, maloqueiro, sem vergonha, ladrão, marginal...
De quem tinha o poder ouvi palavras, promessas, esperança...
Esperei. Juro que esperei. Já faz tempo! Não acredito mais.
A família que eu queria continuo não tendo.
A casa que eu sonhei, não existe.
Eu moro numa peça de chão de barro batido,
Com as paredes cobertas de plástico,
O que tem dentro. Eu achei no lixão ou na frente da tua casa.
A escola quando criança não freqüentei, estava na rua.
Quando fui rejeitaram-me, não havia vaga. Nem interesse.
Os amigos as brincadeiras de criança me negaram. Apanhei!
Acreditar no que? Mudar pra que?
Agora que me transformei no monstro que a sociedade condena e diz querer ajudar!
Sempre dizem!
Querem me fazer acreditar que há solução!
Que ainda posso ser bom, útil, cidadão, trabalhador?
Ter uma família? Mudar meu destino? Agora?
Quando pedia, implorava, acreditava, esperava, agradecia.
Dissestes:- não!
Eu também como tu aprendi a mentir, dissimular,
Mostrar a mudança que queres ver.
Tornei-me artista nesta vida maldita!
Muito cuidado meu falso amigo.
Como bem sabes, nasci não sei por que!
Fui alimentado com raiva, ódio, rancor, frustração.
Sou-te sincero desta vez. Só desta vez!
Não espere muito de mim, pois de ti não espero nada.
Aprendi contigo, aprendi com a vida!
A Perda
Maria Clara Segobia
Quando perdemos um amigo.
Sofremos.
Quando perdemos nosso animalzinho
de estimação.
Sofremos.
Quando perdemos o emprego.
Sofremos.
Há sempre a esperança.
Um novo amigo.
Um outro animalzinho.
Um novo emprego.
Nos entregamos em parte.
Tocamos nossa vida.
Quando perdemos um filho
não há troca.
O vazio toma conta.
Sofremos em dobro.
Sofremos no todo.
Há um vazio na ação
uma inércia no agir.
Quando morrem.
Morremos aos poucos.
Obsessão
Maria Clara Segobia
Quando o amor é obsessivo
perdemos o controle do direito
à nossa vida.
O medo de perder, ou que se perca,
nos torna vulneráveis e submissos
ás suas vontades.
É um amor tão forte e doentio
que culpando-nos pelos fracassos
alimentamos suas loucuras
e alienamos nossa vida insuportável.
Por quê?
Vem a pergunta sem resposta.
E num ato de loucura
abrimos mão desta loucura.
não faz sentido, é pensado
anos após anos
que com desculpas retardamos.
Há sempre bons momentos
risos soltos, palavras amigas.
Há muito amor, desejo de vitória!
Chega à hora do retrocesso.
O que fui. O que fiz.
O que me tornei! Valeu a pena?
-Não! Não há remédio.
Erros cometidos, erros empatados.
Sigo minha vida, segues a tua.
Mas com amor ainda te digo:
-Tentei de tudo.
Acabou!
Os Inconformados
Maria Clara Segobia
Passamos o tempo todo
culpando que agradecendo.
Esperando que fazendo.
Invejando que apoiando.
Passamos a vida sem vivê-la
querendo sempre mais...
Olhamos aqueles que nada possuem.
Culpamos que nada é feito.
Quando fazemos,
queremos os louros
não o trabalho.
Queremos o destaque
não o sacrifício.
Culpamos a falta de conforto, tendo.
Culpamos a todos a nossa insatisfação.
Percebemos ás vezes nossos enganos
quando acometidos de um mal sem cura.
Lembramos de “DEUS”.
Pedimos socorro á “DEUS”.
Imploramos tempo
para aproveitar
a vida que não vivemos.
Oração de Uma Mãe
Maria Clara Segobia
Sabe, meu deus! Eu quero um filho.
O melhor do mundo.
Um filho que não me de preocupações, dissabores, tristezas.
Eu quero um filho que não conheça a maldade e nem a torne.
Eu quero um filho, que todos apreciem.
Um filho que me de orgulho de ser meu filho.
Eu quero um filho que fale no momento certo e cale quando necessário.
Eu quero um filho sem problemas, inteligente,
cumpridor de suas obrigações.
Eu quero um filho como eu sonhei,
como pensei que seria.
Sonhei também no seu mundo, sua vida.
Mas a verdade é outra, o mundo é outro,
Meu filho é apenas o meu filho.
Ele disse:
- Mãe, seu filho é um ser que mesmo tendo nascido de ti,
age e pensa por sua livre e espontânea vontade.
Sou livre e tenho direito a reivindicar, a viver a minha vida.
O que te peço, mãe querida, é que nas minhas andanças pelo mundo,
pelas minhas tentativas de acerta eu tenha sempre comigo o teu amor o teu apoio.
Somente assim aprenderei.
Somente assim serei o homem, não que sonhastes,
mas um homem que viveu livre nas suas decisões,
aprendeu entre o certo e o errado o seu caminho.
Filho Perdão
Maria Clara Segobia
Neste dia consagrado
lembrando o amor de mãe,
quero meu Pai
pedir clemência
pelos meus atos insanos
com aquele filho que nasceu
para ser amado.
Pela indiferença que o tratei
quando um conselho pediu.
Não tinha tempo.
Pelas palavras proferidas
recalcando a minha fraqueza humana.
Pelo álcool, droga, que ingeri.
tendo-o no ventre para alimentá-lo.
Por responsabilizá-lo
naquilo que me era de direito,
julgando que nada o afetaria.
Era apenas uma criança...
Hoje vejo a resposta em seus atos.
Perdão meu filho!
Por querê-lo agora neste dia,
não o tendo mais.
Perdeu-se na droga!
Pensamento de Maria Clara Segobia
Eu necessito de AMIGOS."
