** FERNANDO PESSOA





Pessoa é inegavelmente um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo de uma forma múltipla que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterônimos.

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso".                                                                                (Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, página 112 – editora Atica, Lisboa, 1982
“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, página 286 – editora Atica, Lisboa, 1982

“A renúncia é a libertação. Não querer é poder”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, página 286 – editora Atica, Lisboa, 1982

“... Como não te adorar se só tu és adorável? Como não te amar se só tu és digna do amor?
Quem sabe se sonhando-te eu não te crio, real noutra realidade; se não serás minha ali, num outro e puro mundo onde sem corpo táctil nos amemos, com outro jeito de abraços e outras atitudes essenciais de posse(s)? Quem sabe mesmo se não existirás já e não te criei nem te vi apenas, com outra visão, interior e pura, num outro e perfeito mundo? Quem sabe se o meu sonhar-te não foi o encontrar-se simplesmente, se o meu amar-te não foi o pensar-em-ti, se o meu desprezo pela carne e o meu nojo pelo amor não foram a obscura ânsia com que, ignorando-te, te esperava,  e a vaga aspiração com que, desconhecendo-te, te queria? Não sei mesmo já (se) não te amei já, num vago onde cuja saudade este meu tédio perene talvez seja. Talvez sejas uma saudade minha, corpo de ausência, presença de Distância, fêmea talvez por outras razões que não as de sê-lo.”
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, páginas 314/315 – editora Atica, Lisboa, 1982

“A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas da arte — uma que se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa alma atenta. A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na própria estrutura; a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dar-nos a verdade por meio de linhas variadamente regradas, que mentem à inerência da fala; outra pretende dar-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem que nunca houve”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, páginas 392 – editora Atica, Lisboa, 1982

“Há uma irritação latente conosco, parece, no mesmo ar inorgânico que nos cerca. Somos nós, afinal, que nos desapoiamos, e é entre nós e nós que se fere a diplomacia da batalha surda”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, páginas 88 – editora Atica, Lisboa, 1982


“Já que não podemos extrair beleza da vida, busquemos ao menos extrair beleza de não poder extrair beleza da vida. Façamos da nossa falência uma vitória, uma coisa positiva e erguida, com colunas, majestade e aquiescência espiritual. Se a vida [não] nos deu mais do que uma cela de reclusão, façamos por ornamentá-la, ainda que mais não seja, com as sombras de nossos sonhos, desenhos e cores mistas esculpindo o nosso esquecimento sob a parada exterioridade dos muros”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, páginas 397 – editora Atica, Lisboa, 1982

“Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, páginas 397 – editora Atica, Lisboa, 1982

 “Tive um certo talento para a amizade, mas nunca tive amigos, quer porque eles me faltassem, quer porque a amizade que eu concebera fora um erro dos meus sonhos. Vivi sempre isolado, e cada vez mais isolado, quanto mais dei por mim”.
(Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, página 309 – editora Atica, Lisboa, 1982

“Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer”. (Fernando Pessoa) – Livro do Desassossego, página 316 – editora Atica, Lisboa, 1982

“A morte é a curva da estrada, morrer é só não ser visto”.

O MENINO DA SUA MÃE
Fernando Pessoa
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
Duas, de lado a lado,
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino da sua mãe”.
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lha a mãe. Está inteira a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço … deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece”)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
(do livro “O Cancioneiro”)

Na Véspera
Fernando Pessoa
Na véspera de nada ninguém me visitou.
Olhei atento a estrada durante todo o dia
Mas ninguém vinha ou via, ninguém aqui chegou.

Mas talvez não chegar
Queira dizer que há
Outra estrada que achar,
Certa estrada que está,
Como quando da festa
Se esquece quem lá está.

No ciclo eterno das mudáveis coisas
(Pessoa em Ricardo Reis)
No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me fiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.

VII – O Guardador de Rebanhos
(Pessoa em Alberto Caeiro)
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Ridículas
(Pessoa em Álvaro de Campos)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas(*) cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos),
São naturalmente
Ridículas.)

Gato Que Brincas Na Rua
(Fernando Pessoa – O Cancioneiro)
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Contemplo o Lago Mudo
(Fernando Pessoa – O Cancioneiro)

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

SANDRA LÚCIA CECCON PERAZZO (Brasil)






Quem sou Eu
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Quem sou eu nesse imenso e infinito mistério?
Que caminho é esse do qual ninguém pode desviar?
Como me buscar se não me encontro
nas tentativas em que mergulho.
Busco alívio no movimento em torno das potencialidades humanas.
Nada é capaz de tirar esse conflito permanente.
Vivo em tempos de confrontos crescentes,
frustrações, decepções e medos.
Sempre com incertezas, inseguranças, numa luta constante com a contradição
entre o que sou e o que "deveria ser."
Quero manifestar minha potencialidade
de maneira valiosa,
como em tudo que vemos na natureza.
Quero ter minha expressão própria,
meu perfume, minha energia, meu lugar, minha força,
no Universo cósmico e na Natureza.
Sei que para esse meu buscar,
preciso reconhecer os modelos da natureza.
Preciso ser espontânea, seguindo minhas inclinações naturais,
observando os modelos mutáveis que existem, dentro e em torno de mim.
Preciso perceber minha alma em desenvolvimento...
Buscar a verdade, reverenciar a vida,
saudar a esperança e a fé com entusiasmo.
Preciso sair do meu esconderijo,
sair de trás da auto-defesa...
Preciso perder o medo de amar e estender os braços
para abraçar a vida,
com esse amor latente que habita no meu peito.


Sou...
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Sou começo, recomeço, partida e chegada
Com histórias para contar e encantar,
O coração de quem só sabe amar...

Tenho na alma muitos corações,
Sou inspiração dedilhando imaginação,
Falando apenas com a emoção,
Construindo ilusão,
Despertando paixão,
Com pureza, com delicadeza,
Sempre com boa intenção...

Ainda que meio levada, danada,
Sapeca e até mesmo um pouco safada,
Sem qualquer receio, crio-me e recrio-me,
No despertar de cada manhã...

Sou sol, sou lua, sou chuva, sou brisa,
Sou vento, sou furação, sou maremoto, sou vulcão...

Sou também noite fria,
Sou estrela que brilha,
Sou orvalho que chora,
Sou ternura que namora,
Sou doçura que acolhe,
Sou punhal que fere,
Sou dor que machuca...

Sou esperança, fé e confiança,
Sou menina, filha, mulher, mãe e amante,
Sempre confiante...

Sou alegria, sou tristeza,
Sou tudo que sou,
Sou tudo que não sou,
Sou ainda tudo que fui e tudo que não serei...

Por isto, nasço e renasço,
Faço e desfaço,
Pois, sou apenas um espírito
Vivendo o humano que há em mim...

Aprendendo, saio pela vida,
Embalando todos os amores
Que tive, que tenho e que terei...

Embalo ainda,
Os amores que nem sei de quem são,
Mas são amores assim,
Como os seus,
Como os meus,
Como os nossos...

Pena que ainda nem todos compreendam,
Uma alma com muitos corações,
E o que fazem apenas, é
Julgar, criticar, rotular e condenar...

Não sabem o que sentem, nem o que são,
Querem apenas invejar,
Quem consegue, mesmo que sem sentir,
Despertar o amar e o sonhar...

Não têm histórias para contar,
Porque vivem apenas o egóico que neles há,
Ainda não perceberam a gostosura
Que é, viver, sonhar e amar!


Navego no Meu Mistério
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Queria dormir todos os meus sonos...
Sentir o sereno embalar com o luar meus pensamentos,
refrescar com a brisa a dor que dilacera meu peito.
Queria ser um só pensamento e um só coração.
Mas meu ser naufraga nas marés do existir...
Sou muitos pensamentos, muitos corações.
Rolo nas ondas dos sentidos.
Meus anseios se perdem na minha memória.
Navego no meu próprio mistério,
guerreio com as minhas sombras,
adormeço no lençol da ilusão,
acordo coberta  de desejos.
Desperto paixões,
disfarço sentimentos,
proclamo  emoções,
para cada um dos meus muitos corações.
E como um dragão, 
exalo fogo que queima outros corações,
firo com espada o país da minha alma.
Sinto saudade de tudo que fui,
sinto saudade de tudo que não serei...
Assisto minha vida passando,
somando silêncios,
nesse meu jeito de existir;
Moldando realidade

entre a cruz e a espada
entre a luz e as trevas
entre o céu e o inferno
entre o mistério e a magia
de viver e conviver
de existir e ser...


No Fundo de Mim...
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Estarás sempre no infinito da minha sede de ti...
Este meu amor vem da eternidade.
Sobre ele chove a saudade...
Saudade de todos os dias,
que esperavas pelo meu "bom dia"...

Em tudo estás e estarás.
Onde quer que meus olhos
e todos os meus sentidos estejam,
lá estarás, reinando absoluto.

Ainda estou viva,
em  meio a todas as mortes,
que o abandono me convida a morrer.
Viva, entre todos os assassinatos
que causaste em mim...

Ainda assim,
peço, que o teu sorriso
seja ave flutuando
sobre o meu silêncio...

 Peço, que a tua voz
seja eco ressoando em mim,
chamando-me de 'Amor'.

Peço, que teus olhos
 inventem esperanças,
em cada olhar que não vejo...

Peço, que tuas mãos
 plantem carícias,
em cada encontro que não são meus...

Peço, que tuas palavras
fiquem sempre na plenitude
do meu amor por ti,
pois sempre estarás aqui,
no fundo de mim...


Nestes Tempos Idos
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Na ânsia de viver, quantos consentimentos...
Passos repetidos, constante caminhar,
Por entre as estranhas rotinas,
Nestes idos tempos...

Tristezas e alegrias ressentidas,
Sacudindo as lágrimas comovidas,
Em guisos de sorrisos danosos,
De tempo enfadonho, e nós, seres ruidosos...

Em tudo a mesma esperança,
Plantando silêncio nas palavras,
De qualquer evento nestes idos,
 Na expectativa dos que serão vindos...

É um novo tempo cheio de oferendas,
E a vida nua e crua com minutos audaciosos,
Arquiteta sonhos dormidos, adquiridos, como prendas,
Vasculha o nosso relógio com olhos piedosos...

E, nós, elaboramos na inocência do contratempo
Os ponteiros do destino com abrangência,
Gerando planos até com uma certa prudência e coerência,
Como se fôssemos nós os donos de todos os tempos...


Retorna sobre Ti Mesma
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Sobre a tua cabeça, flores silenciosas,
Ornamentam tua túnica de primaveras,
Embalam sombrias tua nudez tão morta,
Que a tua fadiga medonha e feroz comporta...

Ah! quanta ingratidão tem no peito cravada,
Refletindo no teu rosto marcado e talhado,
Ah! quanta dor a crescer no teu sofrimento,
Que é natural que a tua alma chore abafada...

Todo este teu lamento, toda esta tua angústia,
Que mastigas em tuas veias com fome,
Brilha neste teu mistério sem nome...

Mas deixai em nome do beijo não dado,
Em nome do teu corpo não tocado,
Em nome da tua alma não alcançada...

Retorna sobre ti mesma,
E descobrirá o poema...


A Vida que Plantei
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Sento-me a beira do dia,
Vejo passar a vida que plantei...
Foi tudo tão mecanicamente rápido,

Que não dei conta:

Da noite que circulava,
Do vento em minha pele,
Do sol batendo continência para o dia,
Da lua desfilando em retirada,
Do sorriso singelo que não foi retido,
Dos convidados que da festa partiam,
Da ausência da serenata...

Ah... nem mesmo dei conta:

Do próximo cada vez mais distante,
Da bondade adiada,
Da voz em abandono,
Do progresso alucinante,
Do silêncio não ouvido,
Do carinho adormecido,
Da corrida do homem arrogante,
Dos olhos cansados dos que têm esperança,
Da melodia não cantada,
Da flor não brotada,
Da ternura em abismo,
Da vergonha que se escondeu,
De tudo que não nasceu...

Dei  conta somente:

Da verdade que morre em meu silêncio,
Dos horizontes que imagino,
Da beleza muda do filantropismo,
Do instante que passa,
Da omissão da ajuda,
Da ignorância do conformismo,
Das buscas que não busquei,
Dos sonhos que não sonhei,
Dos amores que abandonei,
Dos objetivos que não realizei,
Da música que renunciei,
Da dança que não dancei,
Da ilusão do reconhecimento,
De todas as despedidas,
Dos regressos que em vão esperei,
Das idéias escondidas,
Da tristeza do dia que não verei nascer,
Do som de uma nova vida, que não verei crescer...

Hoje...
Ah... hoje... apenas dou conta:

De tudo que fui,
De tudo que nesta vida não serei,
Da capacidade da imortalidade,
Da fidelidade do ponteiro da vida,
Caminhando para a eternidade...


Palácio Secreto
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo

Pobre menina,
Entregou sua agonia para o delírio,
Foi viver no seu palácio secreto,
de sonhos guardados,
de amores imaginados,
de paixões escondidas...

Foi lá que sua demência deu flores,
fez nascer estrelas tagarelas,
grilos falantes,
pirilampos brilhantes.

Juntos, moldaram os sonhos,
os amores, as paixões,
Afagaram todos eles com
ternura, carinho e meiguice,
Abençoaram com
afabilidade, doçura e carícia.

 Num diálogo sempre amoroso,
de pura sintonia com o divino,
a pobre menina já não sentia
a tristeza da saudade
nem sequer lembrava
dos amores que deixou
e numa linda  fada se transformou...

E foi com os grilos, com as estrelas,
com os pirilampos, com as flores,
que em lago de cisnes
ela passou o resto de sua vida
e nunca mais sonhou...

MARÍA SÁNCHEZ FERNÁNDEZ (Espanha)





























Mujer
María Sánchez Fernández

Se abrieron los panales de los cielos
y surgiste cual gota derramada
de una celda de mieles desbordada
anegando en dulzura áridos suelos.

Fuerte roca tallada en los anhelos
de dar amor y entrega en la escalada
de una vida por siempre enamorada
alcanzando tu cenit con desvelos.

Eres ola que besa las orillas
de las playas sedientas y vacías.
Eres llama que abrasa con su aliento

las cúspides heladas y amarillas,
y eres tierra que se abre en alegrías
cuando la vida en ti es resurgimiento.


Junto al Mar VI
María Sánchez Fernández

Evocarás mi nombre
cuando el mar acaricie tus orillas
y te duerma blandamente los sentidos
con arrullos y nanas de ternura.

Evocarás mis ojos
tan prendidos de mar ,
cuando bogues errante entre la niebla
buscando mis estrellas en tu cielo.

Evocarás mis labios
cuando el coral se encienda bajo el agua
e ilumine tu noche como un faro
y se pierda en la hoguera de tus labios.

Evocarás mi risa
cuando la espuma juegue con las algas
y salpique el espejo de tu alma
y ponga cascabeles en tu risa.

Evocarás mi cuerpo
en la danza ondulante de las olas;
en el morir dorado de la tarde;
en el rumor velado del silencio.

Evocarás mi alma
cuando el cáliz vacío de tus horas
rebose de néctares y mieles
y anuncie marejadas en el alba.


Le Recuerdo en Otoño
María Sánchez Fernández

Le recuerdo en otoño,
cuando mi sol se apaga
y se enciende una luz en la memoria.

Era un halcón sin alas
de corazón de fuego
y voluntad voluble como el aire.

Dulce, de miel dorada,
y su mirada…  olivo
con reflejos de lunas en creciente.

En el nacer del día
sus labios despertaban
siendo flores de fuego en mi jornada.

Y caminamos juntos,
hacia una meta incierta,
uncidos en el carro del destino.

Llegó la primavera
y le nacieron alas
y voló hacia las cumbres del olvido.

Hoy yo, primera rosa,
le recuerdo en otoño.


La Sonrisa Del Valle
María Sánchez Fernández

La hierba sonreía
pues un rayo de sol la enamoraba,
y un sauce que veía
que el rayo la incendiaba
con su verde frescura la adornaba.

La hierba se vestía
con las flores de hermosa desposada,
y el aire sonreía
al verla engalanada
y de tenues fragancias regalada.

El sauce sonreía.
La hierba sonreía y amor daba.
El aire sonreía
y aromas regalaba
y el valle sonreía porque amaba.


Un Madrigal Al Olivo
María Sánchez Fernández

¡Cómo danzan los rayos de la luna
ceñidos a las ramas del olivo!
Y ríen  entre verdes de aceituna.
Y miran a un lucero muy altivo
que envidia la fortuna
de ser del olivar su fiel cautivo.

La danza ya ha cesado.
Los rayos de la luna se han dormido,
y en un lecho encantado
de ramajes de plata hace su nido
un jilguero, que canta  enajenado
porque el amor lo ha herido.

¡Ay jilguero que cantas desamores
bajo el manto del alba ya nacida!
No sientas más temores,
que en esta amanecida
las ramas del olivo ríen flores
y sosiegan al alma malherida.

¡Ay risa plateada,
mis versos se han perdido en tu enramada!


Nunca Más Florecieron Las Estrellas
María Sánchez Fernández

Venías tan radiante
que el sol palidecía
con sólo tu presencia.

Unas rosas, tan rojas como besos,
sangraban en tus manos
poniendo carmesíes en tu alma.

Adonde te diriges – pregunté ,
que tu mirada ríe
como el agua que corre?

Y tus ojos, tan nítidos espejos
de húmedo olivar,
con verdes cuchilladas respondieron:

A encontrar a mi amor
que me espera impaciente
bajo el árbol dorado de la tarde.
Mi día se hizo noche,
y en el jardín oscuro de mi cielo
nunca más florecieron las estrellas.


Sólo Tierra
María Sánchez Fernández

En la mañana fría,
de témpanos colgantes en las ramas
como frutos de azúcar,
asciendo a la colina
por la ladera gris
manchada de olivares.

Bajo mis pies la tierra grita y cruje
con el lamento ronco
del surco tapizado por la escarcha.

Unas plumas me rozan
en sorprendido vuelo,
como abanicos blancos
que mecieran al aire ya dormido,
y un tímido piar
se descuelga del tronco de una encina.

Asciendo a la colina, y en su altura,
creo sentirme hermana de los vientos
que ponen en mi cuerpo alas de fuego.
                                       
Me miro en el espejo de la tierra,
y veo una imagen gris, de aurora rota,
con el hueco del alma ya vacío
y siento que mi cuerpo es sólo tierra.

                                                        
Con Vino y Rosas
María Sánchez Fernández

El alba se anunció con vino y rosas.
La compartí contigo
en el canto más bello de mi vida.

El vino era tan dulce que embriagaba
y nos llevó a la cima de los dioses
donde las rosas blancas desgranaban
sus pétalos de nieve.

Sobre la llama viva que encendía
tu corazón y el mío
estalló un arco iris de colores.

Y vi brillar los días.
Llegaron tardes rojas.
Llegó la noche oscura.
Y el alba se anunció sin vino y rosas. 

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