A Última Mulher
Sonia Pallone
"... Das tantas mulheres que fui
restaram apenas algumas...
Aquela que conseguiu enxugar as lágrimas
e recomeçar...
Aquela que não olhou pra trás
e seguiu no escuro a rota da lua,
removendo as pedras e os espinhos...
Restou aquela que aprendeu com as perdas
e ganhou algumas vitórias...
Que juntou alguns pedaços espalhados
com a vinda da vida nova
e acolheu a inquietude
de cada um dos gestos insanos
refletidos à luz do dia...
Das tantas mulheres que fui
sou agora, apenas eu
e uma bagagem de sonhos
quase esquecidos..."
restaram apenas algumas...
Aquela que conseguiu enxugar as lágrimas
e recomeçar...
Aquela que não olhou pra trás
e seguiu no escuro a rota da lua,
removendo as pedras e os espinhos...
Restou aquela que aprendeu com as perdas
e ganhou algumas vitórias...
Que juntou alguns pedaços espalhados
com a vinda da vida nova
e acolheu a inquietude
de cada um dos gestos insanos
refletidos à luz do dia...
Das tantas mulheres que fui
sou agora, apenas eu
e uma bagagem de sonhos
quase esquecidos..."
Campo Minado
Sonia Pallone
"... Meu coração é campo minado
sem vestígios das batalhas
de amores desestruturados...
Preparado pra te receber
é guerreiro cansado,
mas revigorado
pelo teu amor...
Nesta imensidão de terras áridas
eu te chamo, vem!
Porque não sou só eu
quem te espera aqui...
Além de mim,
existem caminhos abertos
que eu fiz
para os seus pés pisarem...
Existe uma lua pronta
pra te clarear,
um arco íris pra te colorir
e um pôr de sol
pra te fazer poesia..."
Pedaços
Sonia Pallone
"... Um pedaço
é um pedaço
daquilo
que foi inteiro...
É um estilhaço breve
É um tiro certeiro
É um meio de morte
É uma lasca de vida
É a sorte vendida
É um corte na veia...
Um pedaço
é um palhaço da vida
Vestido de povo
no picadeiro..."
Absorção
Sonia Pallone
"... Tudo que é aromático
eu respiro
Tudo que é música eu danço
Tudo que é alegria eu sorrio
Tudo que é ensinamento
eu aprendo
Tudo que é vida me pertence
Tudo que é poesia eu vivo
Tudo que é dor eu morro..."
Músicas do Passado
Sonia Pallone
"... Ah! como doem as canções
que ficaram daquele tempo...
Cantigas antigas que se desfazem
em fios de prata líquida e
escorrem pela minha lembrança,
ferindo a minha saudade
como um cristal límpido e ponteagudo...
Relembro dolorida,
músicas que ressurgem aos pedacinhos
como velhas amigas,
dissolvidas numa bruma de melancolia...
Ouvindo-as hoje em dia,
sinto-me percorrendo
ruas vazias
procurando canções que já se foram...
No peito o mesmo lamento
de uma andorinha ferida,
ou de uma árvore sem flor
sem folha ou semente,
que resiste,
desesperadamente,
ao fim..."
Segredos Ocultos
Sonia Pallone
"... Trago na boca segredos
que o tempo me fez calar...
Um coração que não se cansa
e as gotas que ainda posso chorar...
Meus pés cansados pela andança
E as mãos ásperas da procura...
Olhos opacos, cegos de loucura
e o corpo inteiro moído
pelas surras da vida,
decepções de criança...
Pés e mãos numa atadura
peito ferido por herança...
Feito doença sem cura
E música sem a dança..."
Versos Mudos
Sonia Pallone
"... Os dias em que meus versos
ficaram mudos
já são esquecidos...
Meus pedaços, metades,
partes incógnitas dos meus vários “eus”...
Tudo isso
já são fragmentos esquecidos
de um tempo descolorido...
Sou agora,
tinta nova de uma poesia farta,
cenário e estrada,
um mundo todo doado
só pra mim..."
Espelho
Sonia Pallone
"...Tudo continua do mesmo jeito
As pessoas são as mesmas.
As coisas estão no mesmo lugar.
Só eu não me vejo inserida...
Acostumei-me com a tristeza
Afinal, ela sou eu
Em todos os detalhes...
Companheira fiel e persistente.
A ironia de ser feliz
Junto com a infelicidade
é uma cumplicidade estranha...
São coisas tão distintas,
Sou eu duas vezes..."
Sobrevivendo
Sonia Pallone
"... Verdade. Impertinência.
Me farto sem te ter...
Um vazio malogrado nas mãos.
Uma saudade implodida que desfragmenta tudo.
Te escorro pelos meus vãos dispersos
enquanto vazando pelos poros,
te vejo ir embora
Arrastando-se, querendo voltar...
Ah, dor que não dá trégua!
Igual a mesma paisagem ressequida ...
Um som de silêncio, que brota nas paredes.
Um não-viver...
Só cacos...estilhaços...
Sentindo...doendo...
Oculta, nas sombras dos abraços finitos,
subjugando uma vida
que você me deu e depois me tirou...
Tento anestesiar a tristeza e fundir os sentidos
Numa comoção de tantos eus...
Entregue...sem te odiar...
De joelhos na vida.
Pra sobreviver..."
Sem Pressa
Sonia Pallone
"... Já caminho pela metade, e como não sei o momento em que irá se romper o fio, percorro a estrada bem devagar...De uma forma sensorial, latente, vertiginosa, sem ser, no entanto, desesperada...
Quero beber o vento! Quero colher a paisagem! Quero marcar meus passos sem ter pressa de deixar pegadas... Quero sentir meu pranto, misturando-se ao choro da chuva... Suavizar minhas cicatrizes com a lágrima que vem do céu...
Não quero fechar meus olhos e dormir, pra não ver o meu tempo escoar junto com a ilusão dos meus sonhos...
Quero estar um pouco mais...
Antes que tudo se transforme numa noite escura, pronta pra me dispersar... Ainda tenho tanto pra dizer...Ainda tenho tanto para amar!
Não é justo ver o corpo deteriorar-se, e sentir a alma e os desejos quedarem-se incólumes, eternos...
Magoa-me a caminhada rumo ao desconhecido, por isso amarro minhas horas, mesmo ciente de que minha vontade é tao grande quanto o tamanho de sua inutilidade...
Meu tempo se perde, enquanto minha esperança de ser feliz também!..."
Emoção
Sonia Pallone
"... Venho de uma viagem longa, meu endereço de origem é de dentro pra fora e o grande desafio: resgatar meu eu...
No centro desta andança encontrei um amor que reconheci de outras margens, num tempo sufocado pelo próprio tempo, sem noção de certo ou errado, proibido, marginalizado...E eu me deixei levar por uma felicidade invulgar que me arrastou e não deixou rastros...
Fiquei sem caminhos de voltar. Acordei do sonho e o despertar doeu...Você em minha vida, foi tão intenso quanto uma tempestade de verão... Raios, ventos fortes e depois, novamente, um sol tranquilo e sereno, colorido até... na forma mais gentil de um arcoíris...
Emoção. É isso que você foi... E eu te vivi, sem medo de ser feliz, por isso valeu a pena..."
Das Dores
Sonia Pallone
"... Estava ali,
dentro daquele coração,
uma grande cota de
amor e dor.
Um desejo inexplicável
de beijar a face gelada
e intensa do vento,
e ser livre, eternamente.
É isso..."
Minha História
Sonia Pallone
"... Se eu tivesse que me definir
diria que sou uma paisagem cinzenta,
as vezes com tons de azul,
cuja essência eleva-se
no riacho seco e na luz fria...
Venho de lugar nenhum,
talvez recém-saída
da minha própria inspiração...
Minh’alma tem contornos sombreados
que se iluminam
quando peço licença pra viver..
Surdo e mudo,
meu coração se comunica
através do pulsar melódico e chorão...
Invento mundos.
Deleto vidas.
Crio minhas próprias realidades.
Quebro o enigma da personagem
e recolho todos os destroços da minha história,
porque ao falar sobre perdas
algo se quebra dentro de mim
A palavra fica muda.
Só a emoção grita, implodida..."
Anoitecendo
Sonia Pallone
"... O eucalípto se agiganta e toma forma,
indo assim, displicentemente,
de encontro ao céu,
enquanto a luz dourada do entardecer
cumprimenta os ramos solitários
de um jeito afetuoso e sedutor...
Sinto um perfume doce
de hortênsias no ar,
compactuando com o som apaziguado
da água que cai
por entre as pedras da encosta...
Finalmente, todos os ecos,
coisas e vozes se calam...
Toda essa impressão sensorial
se despede,
caminhando ao encontro da noite
com sua cilada de estrelas
e sombras retraídas...
"... Venho de uma viagem longa, meu endereço de origem é de dentro pra fora e o grande desafio: resgatar meu eu...
ResponderExcluirEu quero essa viagem, poeta Sonia Pallone. Muito expressivos todos os seus versos.
Abraços,
Fizze Hernandez
Obrigada Fizze Hernandez, pelo carinho e incentivo das palavras...Minha poesia agradece infinitamente o abraço receptivo e caloroso. Que essa viagem a que você se refere aconteça, nem que seja nos pensamentos ou nos sonhos...Beijos,
ResponderExcluirUAU, CAMPO MINADO é tudo! Precisa mais?
ResponderExcluirParabéns, Sonia pallone!
Abraço,
Soraya Simões